São Paulo, quarta-feira, 29 de julho de 2009

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MÚSICA

Horrors une estilo e melancolia inglesa

Com produção de músico do Portishead, banda supera expectativas em 2º disco

Grupo segue tradição do rock de usar apelidos para seus integrantes; baterista é Coffin Joe, o nome inglês do personagem Zé do Caixão

Tom Beard/Divulgação
Com integrantes na faixa dos 20 anos de idade, o Horrors é um dos 12 indicados a álbum do ano do Mercury Prize, com ‘Primary Colours’, CD que teve a mão de Chris Cunningham

BRUNO YUTAKA SAITO
DA REPORTAGEM LOCAL

No final do filme "Apocalypse Now", o coronel Kurtz (Marlon Brando) solta suas palavras derradeiras: "O horror, o horror". Quem também poderia estar agonizando, e dando adeus ao cenário da música pop, é a banda inglesa The Horrors, caso não tivesse mudado de rota ao lançar o segundo disco, "Primary Colours".
Quando surgiram com "Strange House", em 2007, não foram levados muito a sério. Eram mais um daqueles exemplares típicos de oba-oba da revista "NME", ou seja, o visual parecia vir antes da música. Sempre com roupas negras, calças justíssimas e cabeleiras desgrenhadas que faziam o gótico parecer a última tendência da moda, o Horrors era quase uma "boy band" de ares alternativos, exaltando referências mórbidas, filmes de terror de quinta categoria e bandas de garagem dos anos 60.
Era como se tentassem ser assustadores como "O Exorcista", mas acabassem soando patéticos e inofensivos como a enésima ressurreição de Jason, de "Sexta-Feira 13". Estavam se tornando uma caricatura antes do tempo -os integrantes têm pouco mais de 20 anos.
Mas as coisas mudaram. Na semana passada, o importante prêmio inglês Mercury Prize indicou "Primary Colours" a disco do ano -o resultado sai em setembro. Público e crítica agora encaixam o Horrors na tradição de grandes bandas de barulhenta melancolia, como o Jesus & Mary Chain, Joy Division e Birthday Party.
"Qualquer um que nos conheça como pessoas e banda sabe o quão ridícula era essa acusação [de o visual ser mais importante que a música]. Temos dedicado nossas vidas à música; nossas casas estão cheias de discos e instrumentos, e não de roupas", diz o baixista Tom Cowan, 22, à Folha, por e-mail. "Se você tem um estilo natural, não é difícil ter um bom visual. Não é nossa culpa se a maioria das bandas têm um visual lixo."
"Primary Colours" ameniza o clima kitsch. Agora, o vocalista Faris Badwan não se esgoela tanto e os teclados não lembram tanto a trilha da "Família Addams". Claro que não amadureceram sozinhos; por trás da mudança há os produtores Geoff Barrow (membro do Portishead, grupo que celebrou a arte de sofrer com classe nos anos 90) e Chris Cunningham, diretor dos videoclipes bizarros do Aphex Twin.
"Assim que terminamos o primeiro disco queríamos começar outro. Infelizmente, tivemos que sair em turnê e não tivemos tempo para compor durante um ano. A coisa boa é que durante aquele ano escutamos tantas músicas e adquirimos muitos instrumentos: de uma hora para outra, tínhamos vários sintetizadores antigos e tivemos que aprender a usá-los", relembra Cowan.

Música "boa"
"Primary Colours" une diferentes tradições da música sombria. Quem se vestia de preto e dançava com a parede nos anos 80, vai lembrar do Bauhaus e The Cure em "Three Decades". "Mirror's Image" tem uma introdução ambiente que remete a Brian Eno e segue por guitarras climáticas e cheias de ecos que lembram as bandas do selo 4AD (Cocteau Twins, Clan of Xymox), embaladas pelo vocal que soa como um jovem Ian McCulloch (Echo & the Bunnymen).
"Who Can Say" tem um pé na sonoridade "shoegaze" (de músicos que tocavam olhando para os próprios pés) do começo da década de 90, na linha do My Bloody Valentine. Em "Sea Within a Sea", o Horrors descobre a psicodelia e o krautrock, a música experimental alemã dos anos 60 do Can, Faust e Kraftwerk.
E o que a banda acha dos elogios? "Há música "boa" e música "ruim". Isto [o disco novo] é música "boa". Música "ruim" não tem sabor e é inexpressiva, não te faz sentir nada a não ser irritação", diz Cowan. Ah, e se as referências pipocam aqui e ali, por que o baterista Joseph Spurgeon adotou o nome artístico Coffin Joe (Zé do Caixão, personagem do cineasta brasileiro José Mojica Marins)? Cowan explica: "Há uma grande tradição no rock de adotar uma persona. Joe se chama Coffin Joe por causa do cineasta. Um amigo nosso nos falou dele, e o nome encaixou perfeitamente".


PRIMARY COLOURS
Artista: The Horrors
Gravadora: XL Recordings (importado; R$ 36 mais taxas, em www.amazon.com; onde ouvir: thehorrors.co.uk)
Avaliação: ótimo




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