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NETVOX
Os virgens que subiram no telhado
MARIA ERCILIA
do Universo Online
Torço para chegar o dia em
que o fulano que fez o primeiro-não-sei-quê pela Internet
deixe de ser assunto. Timothy
Leary tinha que morrer pela
Web, uma senhora da Flórida
teve seu filho na Internet, a
Jenny (da Jennicam) precisa
porque precisa colocar todas as
suas intimidades no computador.
Agora um casal de Ponte Nova também quer mostrar um
parto na Web. O rapaz, André
Luiz dos Santos, afirma que
vai fazer uma vasectomia e sua
mulher vai ter um filho, tudo
num pacote. Ele quer "tudo interativo", até a escolha do nome do bebê. O parto é em janeiro, e até lá a idéia é fazer
um pré-natal público.
Isso logo depois do fiasco dos
"virgens" da Internet. Não me
surpreende que haja pessoas
dispostas a expor sua vida em
troca de um pouco de atenção
e que essas pessoas encontrem
platéia.
O que não dá para entender é
que a mídia ainda dê atenção
a essas tramas de marketing
ou simples exibicionismo. Que
diferença faz que um casal resolva ter a sua primeira vez de
janela aberta, em cima do telhado ou em frente a uma câmera digital?
E qual a possibilidade de
dois garotos resolverem fazer
essa produção e mandar
press-releases para tudo quanto é jornal? Sem falar na quase
nula probabilidade de existência de dois virgens daquela
idade, dentro ou fora da Internet.
A Web dos exibicionistas e
voyeurs não é pior nem melhor
que a revista "Caras". É até
muito parecida. Já suportamos
todo o pré-natal de Xuxa e
agora vamos enfrentar seu
pós-parto, querendo ou não.
Natural que muitas pessoas
comecem a achar que também
têm que dividir suas brigas
com a sogra com o mundo inteiro -o que não justifica o
encanto que as tais primeiras
vezes despertam na mídia,
normalmente muito mais blasé do que isso.
Só de "primeiro casamento"
pela Internet houve vários
-até chegar ao cúmulo de "o
primeiro casamento de duas
irmãs gêmeas com dois irmãos
gêmeos pela Internet".
Ou a história do e-mail que
circulou pelo Brasil inteiro,
descrevendo como o Brasil teria "vendido" a Copa, e que
não deixava de ter seu humor.
Pois não é que a mensagem foi
levada a sério por muita gente?
Numa mesa de bar ou numa
conversa de telefone a teoria
seria prontamente ridicularizada, mas, como "deu na Internet", virou notícia e tema de
discussão.
Três anos atrás, uma mensagem com a assinatura de Fernando Collor circulou por várias listas de discussão brasileiras.
Começando com o habitual
"minha gente", anunciava a
sua "volta". Era mais um golpe, mas chegou a ser publicada
em um jornal, como sendo possivelmente verdadeira. Collor
tinha acabado de estrear um
site -verdadeiro-, o que aumentou a confusão.
Com a aproximação das eleições, é possível que surjam
muitos boatos e gracinhas desse estilo -como o candidato
que registrou a URL www.burro.com.br, só para chamar a
atenção.
Essa visão estereotipada da
Web como um mundinho paralelo, uma casinha de bonecas virtual onde um bando de
malucos brinca de macaquear
a vida real com uma Connectix na mão já podia ter sido superada.
Os bons sites pessoais são bacanas justamente porque são
feitos por gente que está mais
interessada em dividir suas experiências que em gerar publicidade fácil.
Picaretagens do tipo do ourfirsttime.com só são possíveis
por causa de mecanismos viciados da mídia tradicional.
Se a imprensa não mordesse
a isca, ninguém se daria ao
trabalho de inventá-los.
UMA PERGUNTA PARA...
Rodrigo Baggio, coordenador-geral do Comitê para
a Democratização da Informática (www.cdi.org.br).
É possível democratizar a
informática no Brasil?
Rodrigo Baggio - Com
certeza, se conseguirmos
conscientizar as pessoas da
importância disso. O brasileiro doa computador
quando percebe que corremos o risco de criar uma legião de excluídos.
Acabamos de fazer uma
campanha na Fenasoft, em
que recebemos uma doação
de 50 computadores da empresa de consultoria Mackinsey, que pediu que eles
fossem destinados à Bahia.
Geralmente recebemos
doações de pessoas físicas e
de empresas pequenas e
médias. Estamos procurando também chamar a atenção das grandes empresas.
Nós doamos cinco computadores e uma impressora a instituições que criam
escolinhas de informática.
Fazemos um acompanhamento das escolas e verificamos que a maioria dos
alunos consegue colocação
no mercado. Temos apoio
da Unesco e da Ashoka,
uma organização internacional. Mas o coração do
trabalho são os voluntários.
Informações: tel. (021)
273-6647.
E-mail: netvox@uol.com.br
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