São Paulo, quarta, 29 de julho de 1998

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NETVOX
Os virgens que subiram no telhado

MARIA ERCILIA
do Universo Online

Torço para chegar o dia em que o fulano que fez o primeiro-não-sei-quê pela Internet deixe de ser assunto. Timothy Leary tinha que morrer pela Web, uma senhora da Flórida teve seu filho na Internet, a Jenny (da Jennicam) precisa porque precisa colocar todas as suas intimidades no computador.
Agora um casal de Ponte Nova também quer mostrar um parto na Web. O rapaz, André Luiz dos Santos, afirma que vai fazer uma vasectomia e sua mulher vai ter um filho, tudo num pacote. Ele quer "tudo interativo", até a escolha do nome do bebê. O parto é em janeiro, e até lá a idéia é fazer um pré-natal público.
Isso logo depois do fiasco dos "virgens" da Internet. Não me surpreende que haja pessoas dispostas a expor sua vida em troca de um pouco de atenção e que essas pessoas encontrem platéia.
O que não dá para entender é que a mídia ainda dê atenção a essas tramas de marketing ou simples exibicionismo. Que diferença faz que um casal resolva ter a sua primeira vez de janela aberta, em cima do telhado ou em frente a uma câmera digital?
E qual a possibilidade de dois garotos resolverem fazer essa produção e mandar press-releases para tudo quanto é jornal? Sem falar na quase nula probabilidade de existência de dois virgens daquela idade, dentro ou fora da Internet.
A Web dos exibicionistas e voyeurs não é pior nem melhor que a revista "Caras". É até muito parecida. Já suportamos todo o pré-natal de Xuxa e agora vamos enfrentar seu pós-parto, querendo ou não.
Natural que muitas pessoas comecem a achar que também têm que dividir suas brigas com a sogra com o mundo inteiro -o que não justifica o encanto que as tais primeiras vezes despertam na mídia, normalmente muito mais blasé do que isso.
Só de "primeiro casamento" pela Internet houve vários -até chegar ao cúmulo de "o primeiro casamento de duas irmãs gêmeas com dois irmãos gêmeos pela Internet".
Ou a história do e-mail que circulou pelo Brasil inteiro, descrevendo como o Brasil teria "vendido" a Copa, e que não deixava de ter seu humor. Pois não é que a mensagem foi levada a sério por muita gente?
Numa mesa de bar ou numa conversa de telefone a teoria seria prontamente ridicularizada, mas, como "deu na Internet", virou notícia e tema de discussão.
Três anos atrás, uma mensagem com a assinatura de Fernando Collor circulou por várias listas de discussão brasileiras.
Começando com o habitual "minha gente", anunciava a sua "volta". Era mais um golpe, mas chegou a ser publicada em um jornal, como sendo possivelmente verdadeira. Collor tinha acabado de estrear um site -verdadeiro-, o que aumentou a confusão.
Com a aproximação das eleições, é possível que surjam muitos boatos e gracinhas desse estilo -como o candidato que registrou a URL www.burro.com.br, só para chamar a atenção.
Essa visão estereotipada da Web como um mundinho paralelo, uma casinha de bonecas virtual onde um bando de malucos brinca de macaquear a vida real com uma Connectix na mão já podia ter sido superada.
Os bons sites pessoais são bacanas justamente porque são feitos por gente que está mais interessada em dividir suas experiências que em gerar publicidade fácil.
Picaretagens do tipo do ourfirsttime.com só são possíveis por causa de mecanismos viciados da mídia tradicional.
Se a imprensa não mordesse a isca, ninguém se daria ao trabalho de inventá-los.

UMA PERGUNTA PARA...

Rodrigo Baggio, coordenador-geral do Comitê para a Democratização da Informática (www.cdi.org.br).

É possível democratizar a informática no Brasil?
Rodrigo Baggio -
Com certeza, se conseguirmos conscientizar as pessoas da importância disso. O brasileiro doa computador quando percebe que corremos o risco de criar uma legião de excluídos.
Acabamos de fazer uma campanha na Fenasoft, em que recebemos uma doação de 50 computadores da empresa de consultoria Mackinsey, que pediu que eles fossem destinados à Bahia.
Geralmente recebemos doações de pessoas físicas e de empresas pequenas e médias. Estamos procurando também chamar a atenção das grandes empresas.
Nós doamos cinco computadores e uma impressora a instituições que criam escolinhas de informática. Fazemos um acompanhamento das escolas e verificamos que a maioria dos alunos consegue colocação no mercado. Temos apoio da Unesco e da Ashoka, uma organização internacional. Mas o coração do trabalho são os voluntários.

Informações: tel. (021) 273-6647.

E-mail: netvox@uol.com.br


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