São Paulo, quarta, 29 de julho de 1998

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TELEVISÃO
TV Câmara exibe filmes nacionais de esquerda


PAULO VIEIRA
especial para a Folha

"A Classe Operária Vai ao Paraíso", "A Batalha de Argel" e "Terra para Rose". Não se trata de um ciclo de cinema de esquerda na GV, mas da programação de filmes da TV Câmara (emissora veiculada pelo sistema pago Net).
Exibidos às sextas, domingos e segundas, às 12h e 21h, os filmes entraram na programação em junho. Foram capitais, durante o recesso de julho, para substituir as sessões plenárias -transmitidas ao vivo pela emissora.
Sérgio Chacon, diretor da TV Câmara, destaca que o objetivo original era mostrar filmes relacionados à atividade parlamentar, mas não os encontrou em quantidade suficiente. "Como somos uma emissora pública, creio que temos que exibir filmes construtivos, daí serem clássicos e politizados. Mas, devido à bancada evangélica, receamos mais quando exibimos filmes que mostram nudez do que os de conteúdo político."
Chacon se refere aos filmes brasileiros, como "Alma Corsária", de Carlos Reichenbach, que tem cenas de nudez frontal masculina.
Com um orçamento de cerca de R$ 400 mil para 98, a emissora tenta economizar na compra dos filmes -o que acaba influindo na matiz ideológica da grade. "Tivemos que desistir de "Guerra de Canudos', "Carlota Joaquina' e de alguns filmes americanos em razão do preço. Pelos clássicos europeus pagamos em média R$ 1.500, o que é razoável", diz Chacon.
O presidente da Câmara Federal, deputado Michel Temer (PMDB-SP), ouvido por telefone pela Folha, surpreendeu-se com os títulos exibidos pela emissora. "A TV Câmara não se destina a promover o cinema nacional ou fazer proselitismo com este ou aquele tema. Um filme que fala de reforma agrária (como "Terra para Rose') não está dentro do nosso objetivo, que é enaltecer as questões democráticas ou relatar atividades parlamentares. Vou verificar o que está havendo."
Dois cineastas que tiveram seus filmes exibidos pela emissora também se surpreenderam. "Eu não sabia que eles exibiriam "Perfume de Gardênia'. Acho muito bom. É melhor do que ficar só passando atividades da Câmara", diz o diretor Guilherme de Almeida Prado.
Carlos Reichenbach, de "Alma Corsária", acha a programação da TV Câmara (que desconhecia) "extremamente salutar". "São filmes de arte, de cineclube, que não passam em TVs comerciais."
José Octavio de Castro Neves, responsável pela compra de filmes da TV Bandeirantes, vê nos filmes da TV Câmara "uma maneira de cobrir lacunas".
Criada para veicular sessões plenárias e algumas comissões parlamentares, a TV Câmara entrou no ar em janeiro. Seu diretor ocupa cargo de confiança da mesa diretora, podendo ser por ela destituído. Embora a mesa assine os processos de compra dos filmes, não opina sobre seus conteúdos.
A emissora conta com equipamento digital e exibe programas produzidos pela TVE e Instituto Cultural Itaú. Algumas palestras realizadas na Câmara também são exibidas, que segundo Chacon, geraram maior audiência até hoje.
Para ele, o melhor momento da emissora foi o registro da ação do deputado "pianista" José Borba (PTB-PR), que votou por Valdomiro Meger (PFL-PR) numa sessão em março. "Foram imagens que produzimos que depois foram exibidas pelas emissoras abertas."



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