São Paulo, quarta, 29 de julho de 1998

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A política antecede a arte

PAULO SANTOS LIMA
free-lance para a Folha

A seleção da TV Câmara, antes de levar alguns espectadores a questionar o quão políticos são os filmes em questão, lança um questionamento pertinente há muito nas discussões: qual a ligação entre cinema e política?
Após o neo-realismo, o documentário e os cinemas novos, a política tornou-se mais saliente no campo narrativo. Era fácil identificá-la em obras-primas como "A Batalha de Argel" (presente na seleção) e "Terra em Transe" (o mais belo filme de Glauber).
Mas filme político não é só aquele que retrata um acontecimento idem. A política vem antes de nossa retina apreender a tela. Uma obra chega a esta graças a um contexto político "real" que moldou e possibilitou seu discurso.
Mas, para o telespectador, fica difícil engolir um "Manobra Radical", prova de que a emissora tentou preencher a programação. A sorte fica na "pluralidade" dos filmes políticos/críticos, em que se assistiu ao cinema de esquerda de Elio Petri ("A Classe Operária Vai ao Paraíso") ou de Antonioni ("Deserto Vermelho").
Este, aliás, provou que a verdade (e a política) é uma mera construção. Mais, a verdade é a política.



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