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Cibelle traz o brilho das folhas elétricas ao país
Com críticas elogiosas no exterior, a cantora toca em dois festivais brasileiros
Entre os seus principais parceiros, estão o cantor norte-americano Devendra Banhart e o produtor brasileiro Apollo Nove
TEREZA NOVAES
DA REPORTAGEM LOCAL
Há cinco anos vivendo em
Londres, a cantora Cibelle é o
típico caso de uma artista com
carreira bem-sucedida fora do
país, mas que por aqui ainda
permanece pouco conhecida. O
sinal mais evidente disso é que
só agora a paulistana apresenta
no Brasil "The Shine of Dried
Electric Leaves", seu segundo
disco, lançado no ano passado.
O primeiro show será no festival Coquetel Molotov, em Recife, nos dias 15 e 16 de setembro; em outubro, ela participa
do Tim Festival, no dia 26, no
Rio, e no dia 27, em SP.
"The Shine of Dried Electric
Leaves" (o brilho das folhas secas elétricas) recebeu críticas
elogiosas em jornais europeus e
norte-americanos.
"Mesmo quando sua música
aparenta ser mais imprecisa e
surreal, ela não soa desorientada. Ela navega com uma graça
melódica, genuinamente brasileira", escreveu Jon Pareles, do
"New York Times". Foi o crítico que colocou "Infinito Particular", de Marisa Monte, em segundo lugar em sua lista de melhores álbuns de 2006.
O sucesso da crítica gerou
uma série de shows mundo afora. "O ano passado foi brutal.
Pegava quatro aviões por semana. Agora, está mais calmo, o
disco já saiu faz um tempo",
contou a cantora em entrevista
à Folha, por telefone, de Londres.
O álbum tem reinterpretações, como o baião "Cajuína" e
"London, London" (ambas de
Caetano Veloso). Em "London,
London", Cibelle divide os vocais com Devendra Banhart,
que tocou aqui no ano passado.
"Quando nos encontramos
[ela e Devendra], passamos o
dia inteiro cantando um para o
outro", diz ela.
O americano Devendra é o
principal nome da onda neofolk ou "freak folk", turma que
venera a tropicália, veste roupas extravagantes e tem atitude tipicamente hippie.
Cibelle renega o rótulo. "Não
pronunciamos "the f word" (a
palavra com f), a gente faz só
música. É uma família, é muito
amor. Fazemos o som do jeito
que estamos sentindo."
"É claro que todo mundo ouviu muito folk, eu nem tanto.
Agora, se você determina o que
é isso, está matando a coisa.
Imagina se amanhã mudo tudo
e decido fazer heavy metal?"
Para a cantora, "seguir o coração" é o caminho para fazer a
música verdadeira. "Não depende de vender", afirma.
"The Shine of Dried..." tem
ainda a participação do MC
francês Spleen, que acompanha a dupla CocoRosie.
Entre os parceiros brasileiros, Cibelle destaca Apollo Nove. A cantora participou do disco de Apollo, "Res Inexplicata
Volans", que no exterior foi
lançado pelo mesmo selo de Cibelle e Bebel Gilberto.
"Apollo é genial. Temos um
ritual de trabalho muito bacana", conta. "Ficamos ouvindo
música em ordem nada racional até quebrar a racionalidade.
A música vira um bloco para
ser esculpido", diz ela.
Ateliê
A metáfora sobre artes plásticas não é à toa. A cantora divide uma casa em East London
com sete artistas. No lugar, há
ateliê e um estúdio de gravação.
O seu hobby é produzir gif animado, um tipo de animação,
com as quais ela ilustra sua página no MySpace
(www.myspace.com/cibelle
blackbird). "Sou viciada, praticamente compulsiva. Acredito que o gif é uma mídia nova."
Cibelle, que também "tenta"
pintar, costuma comemorar
seu aniversário reunindo os
amigos no parque Lage, no Rio,
para uma sessão do "clube da
pintura". "Compro material e
ficamos lá tomando vinho e desenhando. Meu presente é uma
pintura feita por todo mundo."
Essa conexão com as artes
funciona ainda como uma espécie de troca. "Um se alimenta do trabalho do outro. O som
influencia o visual e vice-versa", afirma. "Faço outras coisas, preciso de todas as artes
para a energia circular."
Em seu show no Brasil, o coletivo de artistas Abravanation
deve fazer intervenções no palco. "É o mesmo conceito do
disco, a gente se remixando,
quero que meus amigos das visuais me remixem também."
Antes de ser cantora, Cibelle
era atriz. "Mesmo fazendo publicidade, acredito que já estava trabalhando com arte."
Aos 17 anos, ela conheceu
uma família de músicos, por
meio de um namorado. "Foi
sem querer, na casa havia jam
sessions todas as quartas", conta. "Tenho sorte, minha vida foi
uma sucessão de esbarrões em
pessoas que têm a ver."
Esses encontros levaram Cibelle a cantar na noite, em bares paulistanos. "Estava numa
fase cool jazz e Tom Jobim. Tocava em boteco, mas sempre
enfiava um blues no meio."
Logo depois, entrou no elenco de um musical, no qual interpretava uma boneca de plástico. "Foi quando conheci o Suba", lembra. Cibelle participou
de "São Paulo Confessions",
disco do produtor iugoslavo,
que morreu precocemente em
um incêndio, em 1999. "Ele era
genial, meu guru."
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