São Paulo, quarta-feira, 29 de agosto de 2007

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Cibelle traz o brilho das folhas elétricas ao país

Com críticas elogiosas no exterior, a cantora toca em dois festivais brasileiros

Entre os seus principais parceiros, estão o cantor norte-americano Devendra Banhart e o produtor brasileiro Apollo Nove

TEREZA NOVAES
DA REPORTAGEM LOCAL

Há cinco anos vivendo em Londres, a cantora Cibelle é o típico caso de uma artista com carreira bem-sucedida fora do país, mas que por aqui ainda permanece pouco conhecida. O sinal mais evidente disso é que só agora a paulistana apresenta no Brasil "The Shine of Dried Electric Leaves", seu segundo disco, lançado no ano passado.
O primeiro show será no festival Coquetel Molotov, em Recife, nos dias 15 e 16 de setembro; em outubro, ela participa do Tim Festival, no dia 26, no Rio, e no dia 27, em SP.
"The Shine of Dried Electric Leaves" (o brilho das folhas secas elétricas) recebeu críticas elogiosas em jornais europeus e norte-americanos.
"Mesmo quando sua música aparenta ser mais imprecisa e surreal, ela não soa desorientada. Ela navega com uma graça melódica, genuinamente brasileira", escreveu Jon Pareles, do "New York Times". Foi o crítico que colocou "Infinito Particular", de Marisa Monte, em segundo lugar em sua lista de melhores álbuns de 2006.
O sucesso da crítica gerou uma série de shows mundo afora. "O ano passado foi brutal. Pegava quatro aviões por semana. Agora, está mais calmo, o disco já saiu faz um tempo", contou a cantora em entrevista à Folha, por telefone, de Londres.
O álbum tem reinterpretações, como o baião "Cajuína" e "London, London" (ambas de Caetano Veloso). Em "London, London", Cibelle divide os vocais com Devendra Banhart, que tocou aqui no ano passado.
"Quando nos encontramos [ela e Devendra], passamos o dia inteiro cantando um para o outro", diz ela.
O americano Devendra é o principal nome da onda neofolk ou "freak folk", turma que venera a tropicália, veste roupas extravagantes e tem atitude tipicamente hippie.
Cibelle renega o rótulo. "Não pronunciamos "the f word" (a palavra com f), a gente faz só música. É uma família, é muito amor. Fazemos o som do jeito que estamos sentindo."
"É claro que todo mundo ouviu muito folk, eu nem tanto. Agora, se você determina o que é isso, está matando a coisa. Imagina se amanhã mudo tudo e decido fazer heavy metal?"
Para a cantora, "seguir o coração" é o caminho para fazer a música verdadeira. "Não depende de vender", afirma.
"The Shine of Dried..." tem ainda a participação do MC francês Spleen, que acompanha a dupla CocoRosie.
Entre os parceiros brasileiros, Cibelle destaca Apollo Nove. A cantora participou do disco de Apollo, "Res Inexplicata Volans", que no exterior foi lançado pelo mesmo selo de Cibelle e Bebel Gilberto.
"Apollo é genial. Temos um ritual de trabalho muito bacana", conta. "Ficamos ouvindo música em ordem nada racional até quebrar a racionalidade. A música vira um bloco para ser esculpido", diz ela.

Ateliê
A metáfora sobre artes plásticas não é à toa. A cantora divide uma casa em East London com sete artistas. No lugar, há ateliê e um estúdio de gravação. O seu hobby é produzir gif animado, um tipo de animação, com as quais ela ilustra sua página no MySpace (www.myspace.com/cibelle blackbird). "Sou viciada, praticamente compulsiva. Acredito que o gif é uma mídia nova."
Cibelle, que também "tenta" pintar, costuma comemorar seu aniversário reunindo os amigos no parque Lage, no Rio, para uma sessão do "clube da pintura". "Compro material e ficamos lá tomando vinho e desenhando. Meu presente é uma pintura feita por todo mundo."
Essa conexão com as artes funciona ainda como uma espécie de troca. "Um se alimenta do trabalho do outro. O som influencia o visual e vice-versa", afirma. "Faço outras coisas, preciso de todas as artes para a energia circular."
Em seu show no Brasil, o coletivo de artistas Abravanation deve fazer intervenções no palco. "É o mesmo conceito do disco, a gente se remixando, quero que meus amigos das visuais me remixem também."
Antes de ser cantora, Cibelle era atriz. "Mesmo fazendo publicidade, acredito que já estava trabalhando com arte."
Aos 17 anos, ela conheceu uma família de músicos, por meio de um namorado. "Foi sem querer, na casa havia jam sessions todas as quartas", conta. "Tenho sorte, minha vida foi uma sucessão de esbarrões em pessoas que têm a ver."
Esses encontros levaram Cibelle a cantar na noite, em bares paulistanos. "Estava numa fase cool jazz e Tom Jobim. Tocava em boteco, mas sempre enfiava um blues no meio."
Logo depois, entrou no elenco de um musical, no qual interpretava uma boneca de plástico. "Foi quando conheci o Suba", lembra. Cibelle participou de "São Paulo Confessions", disco do produtor iugoslavo, que morreu precocemente em um incêndio, em 1999. "Ele era genial, meu guru."


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