São Paulo, quarta-feira, 29 de setembro de 2004

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ANÁLISE

Tom Cavalcante estréia brega e sem graça

ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA

A estréia , anteontem, da nova atração da Record, "Show do Tom" [Cavalcante], foi constrangedora.
O comediante, egresso da rede Globo, recebido em sua "nova casa" com honras da maior grandeza, representa o que ele mesmo define como um "Jeca Star".
É sintomático que o helicóptero que serve ao jornalismo local da emissora tenha ganhado ares de espaçonave encantada, cuja função é trazer o apresentador dos céus aos estúdios da emissora na capital paulistana.
A viagem é intercalada com imagens de astros de Hollywood pretensamente abençoando o compadre brasileiro. A rainha da TV, Hebe Camargo, estrela da emissora concorrente, uma das três mulheres mais antigas da TV mundial, nossa versão tupiniquim de Lucy, não podia faltar.
O programa é assumidamente brega, de propósito. Joga no que há de mais antigo e medíocre na TV: a celebração de uma auto-indulgência, o vestir a carapuça dos estigmas mais convencionais.
A ofensiva da Record é bem-vinda. A emissora, hoje sob o controle da Igreja Universal, se orgulha de seus 51 anos de história. Entre as imagens de arquivo que rechearam o programa de Tom, pudemos apreciar, mais uma vez, o hoje Ministro da Cultura, Gilberto Gil, cantando "Domingo no Parque", no que talvez tenha sido o marco maior da programação da emissora.
Convém notar que os festivais da Record representaram, na época, o oposto do conformismo. A iniciativa dos anos 60 ofereceu um espaço genuíno de encontro com o público no auditório. Os festivais divulgaram músicos e repertórios de ponta. Nada mais distante do tom azulado, sem graça, frio e engessado de Tom Cavalcante e sua ajudante em trajes de gala.
A emissora -e o público- ganharia mais se, na sua salutar ofensiva por melhor posição, investisse em formatos e conteúdos que ousassem ser diferentes.


Esther Hamburger é antropóloga e professora da ECA-USP


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