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ANÁLISE
Tom Cavalcante estréia brega e sem graça
ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA
A estréia , anteontem, da
nova atração da Record,
"Show do Tom" [Cavalcante], foi
constrangedora.
O comediante, egresso da rede
Globo, recebido em sua "nova casa" com honras da maior grandeza, representa o que ele mesmo
define como um "Jeca Star".
É sintomático que o helicóptero
que serve ao jornalismo local da
emissora tenha ganhado ares de
espaçonave encantada, cuja função é trazer o apresentador dos
céus aos estúdios da emissora na
capital paulistana.
A viagem é intercalada com
imagens de astros de Hollywood
pretensamente abençoando o
compadre brasileiro. A rainha da
TV, Hebe Camargo, estrela da
emissora concorrente, uma das
três mulheres mais antigas da TV
mundial, nossa versão tupiniquim de Lucy, não podia faltar.
O programa é assumidamente
brega, de propósito. Joga no que
há de mais antigo e medíocre na
TV: a celebração de uma auto-indulgência, o vestir a carapuça dos
estigmas mais convencionais.
A ofensiva da Record é bem-vinda. A emissora, hoje sob o controle da Igreja Universal, se orgulha de seus 51 anos de história. Entre as imagens de arquivo que rechearam o programa de Tom, pudemos apreciar, mais uma vez, o
hoje Ministro da Cultura, Gilberto
Gil, cantando "Domingo no Parque", no que talvez tenha sido o
marco maior da programação da
emissora.
Convém notar que os festivais
da Record representaram, na
época, o oposto do conformismo.
A iniciativa dos anos 60 ofereceu
um espaço genuíno de encontro
com o público no auditório. Os
festivais divulgaram músicos e repertórios de ponta. Nada mais
distante do tom azulado, sem graça, frio e engessado de Tom Cavalcante e sua ajudante em trajes
de gala.
A emissora -e o público- ganharia mais se, na sua salutar
ofensiva por melhor posição, investisse em formatos e conteúdos
que ousassem ser diferentes.
Esther Hamburger é antropóloga e
professora da ECA-USP
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