São Paulo, quinta-feira, 29 de setembro de 2005

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Álbum lançado pela Blue Note traz registro de concerto histórico com o pianista Thelonious Monk e o saxofonista John Coltrane

Monk & Coltrane

Roger Viollet - 9.mar.1963/France Presse
Monk durante concerto


RONALDO EVANGELISTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Imagine a cena: você trabalha no acervo de uma grande biblioteca pública de gravações sonoras e está checando algumas fitas antigas esquecidas em estante empoeirada. De repente, se depara com alguns rolos com um adesivo escrito apenas "Carnegie Hall Jazz" e, no verso de uma delas, escrito à mão: "T. Monk".
Agora imagine você colocando a fita para tocar e reconhecendo aquilo como uma gravação inédita de uma apresentação do quarteto do pianista Thelonious Monk acompanhado de ninguém menos que John Coltrane.
Pois foi exatamente o que aconteceu com Larry Appelbaum, engenheiro de som e supervisor do laboratório de gravações na biblioteca do Congresso, que, em janeiro, estava dando uma olhada em algumas fitas do acervo que estavam na fila para digitalização e se deparou com o adesivo "T.Monk" em uma delas.
A fita continha o registro de uma apresentação do quarteto de Monk com participação de Coltrane no Carnegie Hall, apresentação que vê a luz do dia através do CD "Thelonious Monk Quartet with John Coltrane at Carnegie Hall", lançado nos EUA nesta semana pela Blue Note e que chega em outubro ao Brasil pela EMI.
Em entrevista por e-mail à Folha, o engenheiro de som e especialista em jazz Appelbaum contou sua reação. "Eu fiquei empolgado com a idéia de ter encontrado alguma coisa inédita do Monk. Quando eu ouvi a fita, reconheci o som do John Coltrane. Monk e Coltrane juntos? Incrível!"
Com um pouco de pesquisa, foi descoberta a origem daquelas gravações: um concerto beneficente ocorrido no dia 29 de novembro de 1957 no lendário Carnegie Hall, em Nova York, registrado pela rádio governamental Voz da América para uma transmissão internacional.
A descoberta e o lançamento das gravações de Monk e Coltrane se tornam ainda mais impressionantes quando se leva em consideração o fato de que o quarteto deles, que durou apenas seis meses, quase não foi registrado em disco, e as gravações ao vivo até agora não tinham grande qualidade sonora.
Tudo começou em julho de 1957, quando Monk convidou Coltrane para entrar em seu quarteto para uma temporada de seis meses em Nova York. A temporada foi ótima, mas o quarteto só entrou em estúdio uma única vez, naquele mesmo mês, para registrar apenas três faixas -lançadas depois no álbum "Thelonious Monk with John Coltrane", pela gravadora Riverside.
Dois meses depois, Coltrane gravaria seu disco de estréia, pela gravadora Blue Note. E quatro meses depois, já perto de sua separação, o quarteto faria seu principal show, no Carnegie Hall, exatamente o que está sendo lançado agora.
O crítico e pesquisador Zuza Homem de Mello, que na época da gravação tinha 24 anos e estudava na Juilliard School of Music, em Nova York, pode ter sido o único brasileiro presente no concerto.
Ele lembra mais detalhes: "Na época, esse tipo de apresentação era mais freqüente em clubes, não era comum em casas de espetáculo. Eu me lembro de ter ido nesse concerto no Carnegie Hall e me lembro que um pouco antes o quarteto do Monk com o Coltrane tocava em um clube chamado Five Spot. A minha universidade de jazz é o Monk, e eu tirei o meu diploma assistindo a esse quarteto semanalmente durante seis meses lá".
Ele conta também que, à época, o saxofonista ainda não era uma estrela e que aquele grupo foi essencial para sua formação. "O Coltrane era um novato na época, uma revelação. Ele ainda não era o que passou a ser depois. Ele estava começando, e tocar com o Monk foi fundamental para ele. É a partir daí que ele passa a dominar o sax tenor e adquire concepções harmônicas revolucionárias. Esse grupo esteve entre os mais extraordinários da história do jazz."


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