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MÚSICA
Cantores iniciam em SP apresentações baseadas em canções de cinema
Milton e Caetano tentam afiar show
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Pode-se afirmar, com poucas
chances de erro, que o show
que Milton Nascimento e Caetano Veloso estréiam hoje no Via
Funchal é melhor do que o "Milton & Caetano" mostrado no Rio,
no início do mês. As apresentações em Belo Horizonte e mais
ensaios devem ter aparado as
arestas do começo da turnê -que
acaba em São Paulo.
A aresta mais visível era a que
denunciava o preparo relâmpago
da turnê. Motivado pelas três canções que os dois compuseram para o filme "O Coronel e o Lobisomem", o show foi criado a partir
de um eixo ambicioso: músicas de
Milton, Caetano e outros ligadas
de alguma forma ao cinema.
Dispensando o recurso óbvio de
apenas selecionar peças de suas
próprias obras, os dois criaram
uma armadilha para si mesmos: o
roteiro se tornou complexo e, dado o pouco tempo que tiveram
para ensaiar, mais difícil de ser levado ao Canecão sem tropeços.
Contando com um teleprompter passando as letras, eles engasgaram em vários trechos. Afinal,
no repertório estão músicas que
não têm cantado mais em shows,
como "E Daí?" (Milton/ Ruy
Guerra, do filme "A Queda") e
"Pecado Original" (Caetano, de
"A Dama do Lotação"), além das
três parcerias anteriores às de "O
Coronel...": "Paula e Bebeto", "As
Várias Pontas de uma Estrela" e
"A Terceira Margem do Rio".
Estas são as óbvias exceções à
regra cinematográfica do roteiro.
Outra é "Fazenda", música de
Nelson Angelo gravada por Milton em 1976 e que Caetano sempre quis cantar. "É uma parceria
por ausência. Teríamos feito essa
música se nos tivesse acontecido.
É nossa porque não é de nenhum
dos dois", explicou Caetano à Folha antes da estréia carioca.
Algumas canções não são facilmente associáveis a filmes. "Cravo e Canela" (Milton/Ronaldo
Bastos), por exemplo, foi feita para Dina Sfat em "Os Deuses e os
Mortos", mas acabou fora do filme. Já "Coração de Estudante"
era um dos temas de Wagner Tiso
para "Jango" e só depois ganhou
letra de Milton Nascimento e virou a trilha da agonia de Tancredo Neves, em 1985.
"Os políticos a usavam sem pedir. Os estudantes acabaram perdendo a música. Enquanto não a
pus no seu devido lugar, eu não
desisti. Wagner parou, todo mundo parou, mas eu não parei. A
música é dos estudantes, os salvadores da minha pátria", diz Milton, referindo-se ao início dos
anos 70, quando sobreviveu de
shows para estudantes, por causa
da difícil conjuntura política.
Um dos grandes momentos é
"Tigresa", que Caetano compôs
para Sonia Braga e que Milton sonhava cantar há muito tempo.
As músicas do novo filme ("Perigo", "Senhor do Tempo" e "Sereia"), "A Felicidade" (Tom Jobim/Vinicius de Moraes, de "Orfeu Negro") e "Luz do Sol" (Caetano, de "Índia, A Filha do Sol")
são outras partes felizes do show.
Bem mais do que a participação
da cantora mineira Marina Machado em algumas músicas, entre
elas "Someday My Prince Will
Come", de "Branca de Neve".
Caetano também já pode estar
mais à vontade no palco, pois o fato de cantar acompanhado da
banda de Milton parecia deixá-lo
na condição de convidado de
uma festa, não de co-organizador.
Entre ele e Milton, aí sim, o entrosamento é antigo -são 40
anos de convivência. Se "Milton
& Caetano" refletir parte da admiração mútua, já será um bom
show, em vez de apenas regular.
Milton & Caetano
Quando: de hoje a dom.; de 7 a 9/10, às 21h30
Onde: Via Funchal (rua Funchal, 65, Vila
Olímpia, SP, 0/xx/11/ 3044-2727)
Quanto: entre R$ 50 e R$ 150
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