São Paulo, quinta-feira, 29 de setembro de 2005

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MÚSICA

Cantores iniciam em SP apresentações baseadas em canções de cinema

Milton e Caetano tentam afiar show

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Pode-se afirmar, com poucas chances de erro, que o show que Milton Nascimento e Caetano Veloso estréiam hoje no Via Funchal é melhor do que o "Milton & Caetano" mostrado no Rio, no início do mês. As apresentações em Belo Horizonte e mais ensaios devem ter aparado as arestas do começo da turnê -que acaba em São Paulo.
A aresta mais visível era a que denunciava o preparo relâmpago da turnê. Motivado pelas três canções que os dois compuseram para o filme "O Coronel e o Lobisomem", o show foi criado a partir de um eixo ambicioso: músicas de Milton, Caetano e outros ligadas de alguma forma ao cinema.
Dispensando o recurso óbvio de apenas selecionar peças de suas próprias obras, os dois criaram uma armadilha para si mesmos: o roteiro se tornou complexo e, dado o pouco tempo que tiveram para ensaiar, mais difícil de ser levado ao Canecão sem tropeços.
Contando com um teleprompter passando as letras, eles engasgaram em vários trechos. Afinal, no repertório estão músicas que não têm cantado mais em shows, como "E Daí?" (Milton/ Ruy Guerra, do filme "A Queda") e "Pecado Original" (Caetano, de "A Dama do Lotação"), além das três parcerias anteriores às de "O Coronel...": "Paula e Bebeto", "As Várias Pontas de uma Estrela" e "A Terceira Margem do Rio".
Estas são as óbvias exceções à regra cinematográfica do roteiro. Outra é "Fazenda", música de Nelson Angelo gravada por Milton em 1976 e que Caetano sempre quis cantar. "É uma parceria por ausência. Teríamos feito essa música se nos tivesse acontecido. É nossa porque não é de nenhum dos dois", explicou Caetano à Folha antes da estréia carioca.
Algumas canções não são facilmente associáveis a filmes. "Cravo e Canela" (Milton/Ronaldo Bastos), por exemplo, foi feita para Dina Sfat em "Os Deuses e os Mortos", mas acabou fora do filme. Já "Coração de Estudante" era um dos temas de Wagner Tiso para "Jango" e só depois ganhou letra de Milton Nascimento e virou a trilha da agonia de Tancredo Neves, em 1985.
"Os políticos a usavam sem pedir. Os estudantes acabaram perdendo a música. Enquanto não a pus no seu devido lugar, eu não desisti. Wagner parou, todo mundo parou, mas eu não parei. A música é dos estudantes, os salvadores da minha pátria", diz Milton, referindo-se ao início dos anos 70, quando sobreviveu de shows para estudantes, por causa da difícil conjuntura política.
Um dos grandes momentos é "Tigresa", que Caetano compôs para Sonia Braga e que Milton sonhava cantar há muito tempo.
As músicas do novo filme ("Perigo", "Senhor do Tempo" e "Sereia"), "A Felicidade" (Tom Jobim/Vinicius de Moraes, de "Orfeu Negro") e "Luz do Sol" (Caetano, de "Índia, A Filha do Sol") são outras partes felizes do show. Bem mais do que a participação da cantora mineira Marina Machado em algumas músicas, entre elas "Someday My Prince Will Come", de "Branca de Neve".
Caetano também já pode estar mais à vontade no palco, pois o fato de cantar acompanhado da banda de Milton parecia deixá-lo na condição de convidado de uma festa, não de co-organizador.
Entre ele e Milton, aí sim, o entrosamento é antigo -são 40 anos de convivência. Se "Milton & Caetano" refletir parte da admiração mútua, já será um bom show, em vez de apenas regular.


Milton & Caetano
  
Quando: de hoje a dom.; de 7 a 9/10, às 21h30
Onde: Via Funchal (rua Funchal, 65, Vila Olímpia, SP, 0/xx/11/ 3044-2727)
Quanto: entre R$ 50 e R$ 150


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