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COMIDA
A mais conhecida região vinícola da Espanha, La Rioja vem ao Brasil mostrar sua cozinha
Do pão ao vinho
JOSIMAR MELO
CRÍTICO DA FOLHA
Em matéria de gastronomia,
hoje em dia, só se fala de Espanha.
E em matéria de Espanha, só se fala de Catalunha (especialmente) e
País Basco. Mas alguém lembra
qual era a região da Espanha que
os gourmets mais conheciam até
dez anos atrás? Era a Rioja, graças
aos seus vinhos tintos (especialmente de uva tempranillo), trabalhados com madeira, de forte personalidade, que, há pelo menos
um século, são considerados entre os melhores do mundo. E é a
região da Rioja que, buscando revelar seus sabores não só na taça
mas também no prato, vem em
peso ao Brasil para divulgar sua
gastronomia, durante a realização
do Festival Gastronômico Riojano, de 4 a 7 de outubro, em São
Paulo.
Repetindo evento semelhante
realizado em Nova York em 2004
e em Miami em 2005, a delegação
que desembarca aqui é de alto coturno. Vem capitaneada pelo presidente do governo da Comunidade Autônoma da Rioja e é composta por seis chefs de cozinha,
um chef pâtissier, um enólogo e
um crítico gastronômico. Eles
participam de várias atividades
com profissionais e autoridades e
também de três eventos abertos
ao público: um jantar, que acontece no restaurante D.O.M. no dia 5;
duas aulas de culinária, na Universidade Anhembi-Morumbi
nos dias 6 e 7; e uma degustação
de vinhos na Associação Brasileira de Sommeliers no dia 7.
Há muito o que conhecer da
Rioja atualmente, no quadro de
rápida evolução e transformações
da cozinha e enologia espanholas.
Situada no norte do país, num extenso vale entre as serras da Cantabria (ao norte) e da Consulta
(no sul), ao longo do rio Ebro e de
seu pequeno afluente, o rio Oja,
que lhe deu nome, a região foi durante muito tempo mais depositária de tradições do que estopim de
revoluções.
"Como no restante da Espanha,
a cozinha da Rioja durante muitos séculos foi uma cozinha rural,
simples e primária, tanto nos ingredientes quanto nos conceitos e
técnicas", disse à Folha o espanhol Mikel Zeberio, crítico gastronômico e autor de vários livros
e duas revistas, além de ex-proprietário de restaurante. Ele faz
parte da comitiva que chega ao
Brasil na próxima semana e foi
um dos seus organizadores. "Como a Rioja não tem grandes cidades, seu panorama gastronômico
ficou meio inalterado mesmo ao
longo dos últimos 25 anos, quando outras regiões começaram a
fazer suas pequenas loucuras",
prossegue ele. "Mas, se até agora
vinha se mantendo como uma
ilha de tradição, dando grandiosidade à simplicidade, hoje começa
a se integrar nesta globalização
alimentar, e, graças à influência
de jovens chefs com um aprendizado de fora, está se irmanando
com o resto das comunidades do
país."
Em resumo, também Rioja vive
sua efervescência. Há por um lado
a presença dos profundos sabores
da tradição, com produtos e técnicas comuns à região norte da
Espanha. Pelos seus restaurantes
ou nas casas, a depender da época
do ano, encontram-se os carnudos aspargos brancos, o doce pimentão de piquillo, os chorizos de
porco e pratos como as menestras
(sopas de legumes), as costeletas
de cordeiro grelhadas na brasa
(feita com lenha de parreira), as
tripas à la riojana, o bacalhau com
molho de piquillo.
Mas há também a inquietude
dos jovens chefs, que procuram
modernizar sua cozinha e é uma
amostra deles que teremos no
Brasil. Faz parte da delegação, por
exemplo, o chef Francis Paniego,
o primeiro da região a receber
uma estrela do "Guia Michelin"
para seu restaurante Portal de
Ehaurren, em Ezcaray. É ele o autor do tartar de tomate, lagostim e
alho branco cuja foto ilustra esta
página e fará parte do jantar no
restaurante D.O.M. Ele também
participa da confecção de outro
prato da noite, o lombo de cordeiro, em parceria com o chef Juan
Nales (do restaurante Las Duelas,
de Haro). Os outros chefs são Pedro Masip (do Casa Masip), Jésus
Saéz (Casa Toni), Laura Suescun
(La Taberna de la Quarta Esquina) e Diego Carasa (restaurante
Kabanova). Vêm ainda a São Paulo o pâtissier Juan Angel Rodrigálvarez (pastelaria Viena) e o enólogo Juan Bautista Chavarri Marcondes, da Universidade de la
Rioja.
Para o crítico Zeberio, o movimento que se descortina atualmente na Rioja pode levar a repetir uma situação vivida na região
mais de um século atrás -naquela época, contudo, dava-se em
torno de seu produto mais famoso, o vinho, onde teve uma atitude
inovadora. "No final do século 19,
a Rioja começou a praticar o processo de maturação dos vinhos no
estilo de Bordeaux, o que fez do
vinho o grande caudal do desenvolvimento gastronômico", diz.
Em contrapartida, a região "manteve intactos seus traços de identidade culinária e assentou as bases
de um hábito alimentar tradicional forte e não muito propenso à
inovação". Cem anos depois, a
inovação começou a dar as caras.
FESTIVAL GASTRONÔMICO RIOJANO
(Atividades abertas ao público)
Dia 5 de outubro: jantar assinado pelos
sete chefs riojanos no D.O.M.
Restaurante
Onde: D.O.M. (r. Barão de Capanema,
549, Jardins)
Quanto: R$ 400 por pessoa (inclui vinho,
serviço e manobrista)
Reservas: com Bruna, tel. 0/xx/3891-1440 (70 vagas)
Dias 5 e 6 de outubro: seminários e
aulas práticas a cargo dos chefs, do
enólogo e do crítico gastronômico
Onde: Centro de Gastronomia
Universidade Anhembi-Morumbi
(r. Dr. Almeida Lima, 1.134, Brás),
das 9h30 às 13h
Quanto: R$ 70
Inscrições: 0800-0159020
Dia 7 de outubro: degustação de
vinhos riojanos dirigida pelo enólogo
Juan Bautista Chavarri
Onde: ABS - Associação Brasileira de
Sommeliers (av. Brig. Faria Lima, 1.800,
8º andar). Das 12h às 14h
Quanto: R$ 40 para sócios e R$ 80
para não-sócios
Inscrições: com Regina ou Claire pelo tel. 0/xx/11/3814-7853
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