São Paulo, quinta-feira, 29 de setembro de 2005

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COMIDA

A mais conhecida região vinícola da Espanha, La Rioja vem ao Brasil mostrar sua cozinha

Do pão ao vinho

JOSIMAR MELO
CRÍTICO DA FOLHA

Em matéria de gastronomia, hoje em dia, só se fala de Espanha. E em matéria de Espanha, só se fala de Catalunha (especialmente) e País Basco. Mas alguém lembra qual era a região da Espanha que os gourmets mais conheciam até dez anos atrás? Era a Rioja, graças aos seus vinhos tintos (especialmente de uva tempranillo), trabalhados com madeira, de forte personalidade, que, há pelo menos um século, são considerados entre os melhores do mundo. E é a região da Rioja que, buscando revelar seus sabores não só na taça mas também no prato, vem em peso ao Brasil para divulgar sua gastronomia, durante a realização do Festival Gastronômico Riojano, de 4 a 7 de outubro, em São Paulo.
Repetindo evento semelhante realizado em Nova York em 2004 e em Miami em 2005, a delegação que desembarca aqui é de alto coturno. Vem capitaneada pelo presidente do governo da Comunidade Autônoma da Rioja e é composta por seis chefs de cozinha, um chef pâtissier, um enólogo e um crítico gastronômico. Eles participam de várias atividades com profissionais e autoridades e também de três eventos abertos ao público: um jantar, que acontece no restaurante D.O.M. no dia 5; duas aulas de culinária, na Universidade Anhembi-Morumbi nos dias 6 e 7; e uma degustação de vinhos na Associação Brasileira de Sommeliers no dia 7.
Há muito o que conhecer da Rioja atualmente, no quadro de rápida evolução e transformações da cozinha e enologia espanholas. Situada no norte do país, num extenso vale entre as serras da Cantabria (ao norte) e da Consulta (no sul), ao longo do rio Ebro e de seu pequeno afluente, o rio Oja, que lhe deu nome, a região foi durante muito tempo mais depositária de tradições do que estopim de revoluções.
"Como no restante da Espanha, a cozinha da Rioja durante muitos séculos foi uma cozinha rural, simples e primária, tanto nos ingredientes quanto nos conceitos e técnicas", disse à Folha o espanhol Mikel Zeberio, crítico gastronômico e autor de vários livros e duas revistas, além de ex-proprietário de restaurante. Ele faz parte da comitiva que chega ao Brasil na próxima semana e foi um dos seus organizadores. "Como a Rioja não tem grandes cidades, seu panorama gastronômico ficou meio inalterado mesmo ao longo dos últimos 25 anos, quando outras regiões começaram a fazer suas pequenas loucuras", prossegue ele. "Mas, se até agora vinha se mantendo como uma ilha de tradição, dando grandiosidade à simplicidade, hoje começa a se integrar nesta globalização alimentar, e, graças à influência de jovens chefs com um aprendizado de fora, está se irmanando com o resto das comunidades do país."
Em resumo, também Rioja vive sua efervescência. Há por um lado a presença dos profundos sabores da tradição, com produtos e técnicas comuns à região norte da Espanha. Pelos seus restaurantes ou nas casas, a depender da época do ano, encontram-se os carnudos aspargos brancos, o doce pimentão de piquillo, os chorizos de porco e pratos como as menestras (sopas de legumes), as costeletas de cordeiro grelhadas na brasa (feita com lenha de parreira), as tripas à la riojana, o bacalhau com molho de piquillo.
Mas há também a inquietude dos jovens chefs, que procuram modernizar sua cozinha e é uma amostra deles que teremos no Brasil. Faz parte da delegação, por exemplo, o chef Francis Paniego, o primeiro da região a receber uma estrela do "Guia Michelin" para seu restaurante Portal de Ehaurren, em Ezcaray. É ele o autor do tartar de tomate, lagostim e alho branco cuja foto ilustra esta página e fará parte do jantar no restaurante D.O.M. Ele também participa da confecção de outro prato da noite, o lombo de cordeiro, em parceria com o chef Juan Nales (do restaurante Las Duelas, de Haro). Os outros chefs são Pedro Masip (do Casa Masip), Jésus Saéz (Casa Toni), Laura Suescun (La Taberna de la Quarta Esquina) e Diego Carasa (restaurante Kabanova). Vêm ainda a São Paulo o pâtissier Juan Angel Rodrigálvarez (pastelaria Viena) e o enólogo Juan Bautista Chavarri Marcondes, da Universidade de la Rioja.
Para o crítico Zeberio, o movimento que se descortina atualmente na Rioja pode levar a repetir uma situação vivida na região mais de um século atrás -naquela época, contudo, dava-se em torno de seu produto mais famoso, o vinho, onde teve uma atitude inovadora. "No final do século 19, a Rioja começou a praticar o processo de maturação dos vinhos no estilo de Bordeaux, o que fez do vinho o grande caudal do desenvolvimento gastronômico", diz. Em contrapartida, a região "manteve intactos seus traços de identidade culinária e assentou as bases de um hábito alimentar tradicional forte e não muito propenso à inovação". Cem anos depois, a inovação começou a dar as caras.


FESTIVAL GASTRONÔMICO RIOJANO
(Atividades abertas ao público)
Dia 5 de outubro: jantar assinado pelos sete chefs riojanos no D.O.M. Restaurante
Onde: D.O.M. (r. Barão de Capanema, 549, Jardins)
Quanto: R$ 400 por pessoa (inclui vinho, serviço e manobrista)
Reservas: com Bruna, tel. 0/xx/3891-1440 (70 vagas)
Dias 5 e 6 de outubro: seminários e aulas práticas a cargo dos chefs, do enólogo e do crítico gastronômico
Onde: Centro de Gastronomia Universidade Anhembi-Morumbi (r. Dr. Almeida Lima, 1.134, Brás), das 9h30 às 13h
Quanto: R$ 70
Inscrições: 0800-0159020
Dia 7 de outubro: degustação de vinhos riojanos dirigida pelo enólogo Juan Bautista Chavarri
Onde: ABS - Associação Brasileira de Sommeliers (av. Brig. Faria Lima, 1.800, 8º andar). Das 12h às 14h
Quanto: R$ 40 para sócios e R$ 80 para não-sócios
Inscrições: com Regina ou Claire pelo tel. 0/xx/11/3814-7853


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