SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA

Na era em que documentários usam ferramentas da ficção e filmes de ficção querem se parecer com documentários, não causa espanto que até uma produção de horror sobre um fantasma encha a boca para dizer que se baseia em fato verídico.
O evento, a "assombração da bruxa Bell", teria sido o único caso documentado na história dos EUA em que uma morte foi atribuída a elementos sobrenaturais. "Maldição" se ocupa desse "poltergeist" assassino.
Em 1817, no Tennessee, um fazendeiro (Donald Sutherland) perde uma disputa em torno de terras porque teria cometido usura -os juros cobrados por ele em um empréstimo para a vizinha em dificuldades superam o que a igreja local considera razoável.
Em seguida, sua filha adolescente (Rachel Hurd-Wood) começa a viver um pesadelo que destrói a rotina de toda a família. Qual seria a origem dos fenômenos? O fazendeiro desconfia dos poderes de feitiçaria da vizinha, mas há duas suspeitas figuradas no ar: a ganância, que teria provocado o castigo dos céus, e a descoberta do sexo pela moça, que começa a ver graça em um rapaz da comunidade.
Por algum tempo, o diretor e co-roteirista Courtney Solomon ("Dungeons & Dragons") trabalha no terreno da sugestão, duvidando daquilo em que acreditam os personagens.
Lembra, assim, o recente "O Exorcismo de Emily Rose", inspirado em fato verídico. A certa altura, no entanto, a ambigüidade cede lugar ao circo habitual: trilha sonora que prega sustos, portas que batem, aparições sombrias, rituais de exorcismo e, cúmulo da esquizofrenia de foco narrativo, uma câmera subjetiva que assume o lugar da assombração.

MALDIÇÃO   
Direção: Courtney Solomon
Produção: EUA, 2005
Quando: em cartaz nos cines Bristol, Butantã, Marabá e circuito