São Paulo, sábado, 29 de setembro de 2007

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Crítica/VMB

Prêmio foi verdadeiro "V.EMO.B"

Mesmice promovida pela MTV foi dominada por emos; banda do americano Marilyn Manson fez playback em show

THIAGO NEY
MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DA REPORTAGEM LOCAL

Será que é o pop brasileiro que faz do VMB uma mesmice ou será que é o VMB que faz do pop brasileiro uma mesmice?
Já faz algum tempo que a música, em particular o clipe, deixou de ser o foco da MTV, mas a premiação da emissora ainda é o principal evento do tipo da música brasileira.
Em sua 13ª edição, ocorrida anteontem à noite no Credicard Hall, em São Paulo, o VMB neste ano bem que poderia ser chamado de V.EMO.B. Bandas emo como NXZero, Fresno e Strike dominaram o evento.
O NXZero levou troféus nas categorias Artista do Ano, Hit do Ano (por "Razões e Emoções") -e seu vocalista, Diego Ferrero, ainda foi escolhido o Gostoso do Ano.
Na mesma linha de hardcore melódico, o Fresno foi a Banda Revelação, enquanto Strike foi escolhida a Aposta MTV.
Outra constatação. Faltam novos ídolos na música deste país. Em uma das categorias, a Banda dos Sonhos, o público escolhia um baterista, um baixista, um guitarrista e um vocalista que, em seguida, tocariam uma música ao vivo.
Os escolhidos deste ano foram: Pitty (vocalista), Fabrízio Martinelli (Hateen; guitarra), Japinha (CPM 22; bateria) e Champignon (Revolucionnários; baixo). Exatamente os mesmos do ano passado. Coloque Edgard Scandurra na guitarra e você tem a banda dos sonhos de 2005...
A baiana Pitty reina no VMB há alguns anos. Anteontem, "Na Sua Estante" deu à cantora o prêmio de Clipe do Ano.

Playback
Para tentar sair da mesmice, a MTV apostou em nomes internacionais. Marilyn Manson e Juliette and the Licks se apresentaram ao vivo na premiação.
(Aliás, será que a MTV parou nos anos 90? Na categoria Artista Internacional, o ganhador não foi Amy Winehouse, não foi Lily Allen nem Justin Timberlake ou Arctic Monkeys. Foi Red Hot Chili Peppers...)
Manson tocou duas músicas. Foram oito intermináveis minutos de metal-gótico. Manson realmente cantou, mas sua banda fez playback. Feio.
Juliette Lewis foi atração à parte. Não pelo show, um rock de garagem genérico, mas pela simpatia -falou com todo o mundo, fez poses para fotógrafos, deu selinho no VJ Marcos Mion e não parava de repetir que o "Brasil é maravilhoso".
Além deles, teve apresentações ao vivo de, entre outros, NXZero, Lobão (que parecia querer exprimir toda a sua rebeldia vestindo uma camiseta com a estampa "Peidei, mas não fui eu") e Sandy & Junior -esta a melhor da noite.
Além de Juliette Lewis, outro ator que também revelou uma (insuspeita) faceta musical foi André Ramiro, o ex-porteiro de cinema que interpreta um policial em "Tropa de Elite".
Convidado a apresentar o show do rapper Sandrão com o DJ Cia (um equívoco misturando temas japoneses com hip hop), Ramiro subiu ao palco rimando (bem) e citando Sabotage. "Eu tenho um trabalho como artista de hip hop, toquei no circuito da Lapa [centro do Rio], estou gravando um disco", disse à Folha o ator/cantor.
E teria enxergado na platéia -cheia de garotos bem criados e muitos mais afeitos ao NXZero do que ao rap- o público que comprou a versão pirata de "Tropa de Elite", que vazou antes do filme estrear no cinema?
"Acho que tanto a classe média quanto o pessoal das favelas viu a versão pirata. Teve muita gente que baixou pela internet também, e aí não é coisa a que o pessoal pobre tenha acesso."
Com camisa e calça social, discreto, Paulinho da Viola, convidado a apresentar o show de Lobão, destoava. "Acho... saudável", foi o que disse à Folha sobre o VMB e suas bandas.
O senador Eduardo Suplicy acabou perdendo o novo troféu de Web Hit (para o melhor vídeo da internet) para o infame "Vai Tomar no Cu", de Cris Nicolotti -ele concorria com a interpretação de Racionais MC's no Senado. Mas não se furtou a protagonizar um dos momentos mais constrangedores da noite: subiu ao palco "encenando" uma briga com seu filho Supla e depois "cantou" "Vamo Pulá" para chamar o show da dupla Sandy & Júnior, num claro caso de quebra do decoro.


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