São Paulo, quarta-feira, 29 de setembro de 2010

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CRÍTICA CURTA

Primeiro filme de Glauber é livre da "estética da fome"

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Para quem busca conteúdos, é quase impossível detectar Glauber Rocha em "Pátio". O filme de 1959, autodefinido como "experimental", pouco tem a ver com o que se conheceria depois como "a estética da fome".
Ali está um pátio dividido em quadrados pretos e brancos, como no xadrez, onde um homem e uma mulher evoluem, ora juntos, ora separados, como num balé amoroso. Em torno deles, a vegetação viçosa e, atrás dela, o mar. O céu, com suas nuvens, é o último elemento da natureza evocado no filme.
Glauber tomou a providência de mostrar seu primeiro trabalho a Walter Hugo Khouri, a quem considerava o melhor diretor brasileiro. Khouri deu a bênção ao jovem baiano, chegando a definir Glauber como um cultor do "cinema absoluto", seja isso o que for.
Não importa muito: estamos diante de um filme cujos elementos lembram a "avant-garde" dos anos 20, que de fato aspirava a uma pureza cinematográfica.
Ele já explora o espaço cênico, matéria em que se destacaria como mestre. Talvez seja esse o aspecto a reter, balizado pelos embates entre natureza e cultura, homem e mulher, preto e branco.
Em "Pátio" há muito e não há nada do Glauber maduro.
O talento, a afeição pelo cinema, o gosto pela experimentação, a ousadia -tudo isso está no filme. O lado político, que às vezes obscurece os demais, ainda não aparece.
Mas fica claro que Glauber já sabia, como ensina John Ford, que o que importa no cinema é onde enquadrar a linha do horizonte. O resto vem naturalmente.


"PÁTIO", DE GLAUBER ROCHA
ONDE pq. Ibirapuera (av. Pedro Álvares Cabral, s/nº, portão 3, tel. 0/xx/11/5576-7600)
QUANDO hoje, às 9h e 12h
QUANTO grátis
CLASSIFICAÇÃO não informada
AVALIAÇÃO ótimo




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