São Paulo, quarta, 29 de outubro de 1997.




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GUERRA DE AUDIÊNCIA
'Mandaram apresentar programa de emergência'

SÉRGIO DÁVILA
Editor da Ilustrada

Na segunda-feira, um dia após o mais recente episódio da Grande Guerra Dominical, Fausto Silva, apresentador do "Domingão do Faustão" (Globo), deu a seguinte entrevista por telefone à Folha.

Folha - Um ano depois do Latininho, o "Domingão" exibe nu frontal durante o dia. Nada mudou?
Fausto Silva -
Não sei a explicação. Acho que foi a pressão da audiência. Teve uma reunião do Boni com a direção antes do programa. Então, eu ponderei: é esse o caminho? A resposta foi: "Você vai apresentar um programa de emergência nesse domingo".
Folha - Pessoalmente, a apelação não o incomoda?
Silva -
Sou o apresentador do programa, não o dono. Não mando nada. Tenho ordens do Boni de que o apresentador não deve se meter com a produção. Então, devo chegar a cada domingo disposto e de bom humor e apresentar.
O máximo que posso fazer é ponderar com a direção da empresa, questionar se queremos ser apelativos mesmo ou não. Cabe a eles decidir. Mas quem conhece minha personalidade artística sabe que não sou apelativo. E, se conheço a cabeça do Boni e do Roberto Irineu Marinho, vai haver uma guinada de rumo, vamos recuar.
Folha - E o "sushi erótico"?
Silva -
Era uma curiosidade. Em dois ou três minutos, não mais, eu mataria o assunto. Mas tive de ficar uma hora e tanto costurando a Angélica no helicóptero, sem informação alguma, com a Nair Bello e a Cláudia Raia no restaurante em São Bernardo e o pessoal do sushi. Falar uma hora e quinze minutos de sushi nem se eu entrevistasse o imperador Akihito.
Folha - A que você atribui a perda de audiência de seu programa?
Silva -
Fui líder por 8 anos e meio. É como uma seleção de futebol vitoriosa que perde uma. Não pode desesperar, perder a cabeça, apelar. Ganhei do Silvio Santos por 8 anos e meio e nunca tripudiei sobre esse fato. Pelo contrário, tenho respeito pelo profissional, um senhor de quase 70 anos. Mas só eu sei o quanto foi difícil.
Folha - Vem mudança por aí?
Silva -
O programa é como um supermercado, tem de trazer sempre novidades. Vamos tentar arrumar os erros, recuar, se for o caso. Do jeito que está acho que não fica.
Folha - Você dá a impressão de não ter poder de decisão, apesar de o programa ter o seu nome.
Silva -
Não, eu influo reivindicando, ponderando, criticando, pedindo. Há 4 anos que o (diretor da Central Globo de Criação) Mário Lúcio Vaz ouve reclamação minha, que digo que o programa precisa se renovar, que está cansado.
Devo ser o artista mais chato da Globo, o que mais reclama, mas não mando, não sou como os velhos apresentadores de programa de auditório, que eram os donos, os produtores, como o Flávio Cavalcanti. Só apresento, tenho de fazer mesmo se não concordar.
Se me pedem para apresentar o Fidel Castro dançando rumba, ou o Caetano Veloso cantando com Chitãozinho & Xororó, o máximo que posso falar é "Sertanejo de novo?" Ou: "Isso aí não vai ficar bom, não vai dar certo". Mas, se insistirem, vou lá e faço.
Folha - O que você acha do programa do Gugu Liberato?
Silva -
Cada um tem seu estilo, não vou criticar. Acho a concorrência fundamental, e o Brasil não está acostumado. Deveria ter mais, o público só ganha. Só não pode acontecer de a concorrência puxar para baixo, como agora. Dá para fazer um programa popular puxando para cima, dá para tentar educar as classes mais baixas. E esse preconceito com programa de auditório só existe no Brasil. Na França ele é muito bem-visto.



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