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GUERRA DE AUDIÊNCIA
'Mandaram apresentar programa de emergência'
SÉRGIO DÁVILA
Editor da Ilustrada
Na segunda-feira, um dia após o
mais recente episódio da Grande
Guerra Dominical, Fausto Silva,
apresentador do "Domingão do
Faustão" (Globo), deu a seguinte
entrevista por telefone à Folha.
Folha - Um ano depois do Latininho, o "Domingão" exibe nu frontal durante o dia. Nada mudou?
Fausto Silva - Não sei a explicação. Acho que foi a pressão da audiência. Teve uma reunião do Boni
com a direção antes do programa.
Então, eu ponderei: é esse o caminho? A resposta foi: "Você vai
apresentar um programa de emergência nesse domingo".
Folha - Pessoalmente, a apelação
não o incomoda?
Silva - Sou o apresentador do
programa, não o dono. Não mando nada. Tenho ordens do Boni de
que o apresentador não deve se
meter com a produção. Então, devo chegar a cada domingo disposto e de bom humor e apresentar.
O máximo que posso fazer é
ponderar com a direção da empresa, questionar se queremos ser
apelativos mesmo ou não. Cabe a
eles decidir. Mas quem conhece
minha personalidade artística sabe
que não sou apelativo. E, se conheço a cabeça do Boni e do Roberto
Irineu Marinho, vai haver uma
guinada de rumo, vamos recuar.
Folha - E o "sushi erótico"?
Silva - Era uma curiosidade.
Em dois ou três minutos, não
mais, eu mataria o assunto. Mas tive de ficar uma hora e tanto costurando a Angélica no helicóptero,
sem informação alguma, com a
Nair Bello e a Cláudia Raia no restaurante em São Bernardo e o pessoal do sushi. Falar uma hora e
quinze minutos de sushi nem se eu
entrevistasse o imperador Akihito.
Folha - A que você atribui a perda de audiência de seu programa?
Silva - Fui líder por 8 anos e
meio. É como uma seleção de futebol vitoriosa que perde uma. Não
pode desesperar, perder a cabeça,
apelar. Ganhei do Silvio Santos por
8 anos e meio e nunca tripudiei sobre esse fato. Pelo contrário, tenho
respeito pelo profissional, um senhor de quase 70 anos. Mas só eu
sei o quanto foi difícil.
Folha - Vem mudança por aí?
Silva - O programa é como um
supermercado, tem de trazer sempre novidades. Vamos tentar arrumar os erros, recuar, se for o caso.
Do jeito que está acho que não fica.
Folha - Você dá a impressão de
não ter poder de decisão, apesar
de o programa ter o seu nome.
Silva - Não, eu influo reivindicando, ponderando, criticando,
pedindo. Há 4 anos que o (diretor
da Central Globo de Criação) Mário Lúcio Vaz ouve reclamação minha, que digo que o programa precisa se renovar, que está cansado.
Devo ser o artista mais chato da
Globo, o que mais reclama, mas
não mando, não sou como os velhos apresentadores de programa
de auditório, que eram os donos,
os produtores, como o Flávio Cavalcanti. Só apresento, tenho de fazer mesmo se não concordar.
Se me pedem para apresentar o
Fidel Castro dançando rumba, ou
o Caetano Veloso cantando com
Chitãozinho & Xororó, o máximo
que posso falar é "Sertanejo de
novo?" Ou: "Isso aí não vai ficar
bom, não vai dar certo". Mas, se
insistirem, vou lá e faço.
Folha - O que você acha do programa do Gugu Liberato?
Silva - Cada um tem seu estilo,
não vou criticar. Acho a concorrência fundamental, e o Brasil não
está acostumado. Deveria ter mais,
o público só ganha. Só não pode
acontecer de a concorrência puxar
para baixo, como agora. Dá para
fazer um programa popular puxando para cima, dá para tentar
educar as classes mais baixas. E esse preconceito com programa de
auditório só existe no Brasil. Na
França ele é muito bem-visto.
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