São Paulo, terça-feira, 29 de outubro de 2002

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Mostra Sesc de Artes - Ares & Pensares reúne 320 artistas de 15 países a partir de hoje em SP

Arte inflável

Divulgação
Ator do grupo holandês The Lunatics que ganha exposição amanhã no Sesc Pompéia


VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

A percepção artística pode elevar a alma ao longe ou ser mais pesada que o ar. Vago? A Mostra Sesc de Artes - Ares e Pensares quer estimular tal estranhamento.
Nos próximos 13 dias, 18 endereços do Serviço Social do Comércio na capital paulista e na região do ABC recebem programação de música, teatro, dança, cinema, literatura e artes visuais. São 320 artistas de 15 países.
O orçamento é de R$ 600 mil sobre o custo mensal da programação do Sesc-SP, cujo valor não foi divulgado. Projeta-se um público de 180 mil pessoas para o evento que faz par com Balaio Brasil (2000) e Mundão (98).
É no segmento de artes visuais que o conceito do projeto se torna, por assim dizer, mais transparente. O Sesc Belenzinho abrigará a partir de hoje, na abertura da Ares & Pensares para convidados, exposição de esculturas infláveis com obras de Leda Catunda, Nelson Félix e Sérgio Romagnolo; do coreano Choi Jeong Hwa e dos japoneses Kzuru Kasahara e Risa Sato, entre outros.
De 5 a 9 de novembro, uma área do vale do Anhangabaú, no centro, será ocupada pela instalação "Ixilum", uma catedral de luz-arte formada por paisagens de colunas e cúpulas coloridas, luminosas. É uma criação do grupo inglês Arquitetos do Ar, do diretor artístico Alan Parkinson.
A maneira como as pessoas se relacionam com as artes numa grande cidade, as interferências sobre o olhar e o tempo de fruição constituem alguns recortes possíveis para as atividades.
"A proposta é criar de forma mais concreta um momento de suspensão em que o ar sirva de metáfora, de oxigenação", afirma o assistente da gerência de ação cultural do Sesc-SP, Oswaldo Almeida Jr, 37.
Essa perspectiva avança pelas demais atrações. Na música, ecoam sons, vozes e ritmos do mangue beat pernambucano e dos monges tibetanos, passando pelo choro, salsa, funk, grooves etc.
No teatro, dois dramaturgos dão suporte à vertigem: o santista Plínio Marcos (1935-99) e o irlandês Samuel Beckett (1906-89) ganham painéis com debates, espetáculos e leituras. Plínio, de 4/11 a 8/11, no Sesc Pinheiros. Beckett, de 4/11 a 7/11, no Consolação.
Um Sófocles genuinamente grego e um Eurípedes brasileiro integram a programação, representados pela montagem de "Antígona", do Teatro Nacional da Grécia (de 7 a 9/11, no Consolação), e de "Medéia 2", em que Antunes Filho e o grupo Macunaíma/CPT revisitam o mito (dias 9 e 10/11, no Belenzinho).
Segundo a também assistente da gerência de ação cultural Marta Colabone, futuras unidades do Sesc também fazem parte da grade. É o caso do Sesc Dino Bueno, no bairro do Bom Retiro, palco de apresentações do grupo campineiro Lume ("Café com Queijo") e do gaúcho Falos & Stercus ("In Surto" e "Prometeu").
Entre os destaques internacionais de dança, estão o coreógrafo francês Jérôme Bel (leia ao lado) e o alemão Felix Ruckert. Este último também apresenta hoje, na abertura da Ares & Pensares, a performance "Stillen", em que reflete sobre o corpo e as limitações humanas.
"A performance explora o não-movimento, o corpo em estado de relaxamento, imobilizado, involuntário, com movimentos inconscientes, apesar de contínuos", afirma Ruckert, 43.
Ele explora como o corpo reage em estado horizontal, fora de centro. "O público transita livremente e transforma seu ponto de vista perante uma atuação que deve ser reduzida ao mínimo. A solução para isso foi imobilizar os dançarinos e posicioná-los amarrados em suspenso."


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