São Paulo, terça-feira, 29 de outubro de 2002

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Francês Jérôme Bel dança sua radicalidade

ANA FRANCISCA PONZIO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Na programação de dança da Ares e Pensares, a atração mais importante é "The Show Must Go On", de Jérôme Bel, o radical coreógrafo francês que nos últimos seis anos conseguiu chegar ao topo da criação contemporânea.
Ex-bailarino de companhias francesas consagradas, como as de Daniel Larrieu e Philippe Decouflé, Bel iniciou carreira como criador independente em 1996. Num fim de século em que tudo parecia ter sido inventado, ele tornou-se protagonista de uma geração que transitou para o terceiro milênio em busca de um novo ponto de partida.
Subvertendo os códigos de encenação teatral e rompendo com a espetacularidade explorada nos anos 80 por coreógrafos como Decouflé, Bel e seus contemporâneos deixaram de se preocupar com os resultados para colocar em foco os processos de criação.
"Procuro o grau zero da dança", proclamou Bel em seu primeiro espetáculo, "Nom Donné par l'Auteur" (Nome Dado pelo Autor). Apresentada no Brasil em 99, a peça marcou a ruptura de Bel com os recursos da sedução teatral. Sem música, cenários, efeitos de iluminação e tampouco dança, se reduzia aos deslocamentos de objetos de consumo provocados por dois homens.
"Em cena, procuro colocar uma problematização aberta, que deve ser resolvida pelo espectador. Como autor, me limito a estimular o pensamento e as emoções do público, ao qual cabe continuar o trabalho e tomar posição por si."
Comparado a "Nom Donné par l'Auteur", "The Show Must Go On" oferece vias de acesso mais fáceis para o público, pelo menos aparentemente. Interpretado por 18 atores-bailarinos, se desenvolve ao som de hits musicais.
Como um espelho, o palco mostra gente que reage à música como qualquer pessoa da platéia. "Minha proposta é interrogar o aspecto sócio-político da comunidade formada pelo elenco e pelo público. Mostrando corpos modificados pela cultura pop, o espetáculo oscila entre a crítica e o prazer", diz Bel, salientando que a dança, em si, não o interessa. "Para mim a dança é apenas um instrumento que me permite experimentar as intensidades que o mundo oferece."


THE SHOW MUST GO ON. De Jérôme Bel. Quando: amanhã e quinta, às 21h. Onde: teatro Sesc Anchieta (r. Dr. Vila Nova, 245, tel.: 0/xx/11/3234-3000). Quanto: de R$ 4 a R$ 12.




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