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Francês Jérôme Bel dança sua radicalidade
ANA FRANCISCA PONZIO
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Na programação de dança da
Ares e Pensares, a atração mais
importante é "The Show Must Go
On", de Jérôme Bel, o radical coreógrafo francês que nos últimos
seis anos conseguiu chegar ao topo da criação contemporânea.
Ex-bailarino de companhias
francesas consagradas, como as
de Daniel Larrieu e Philippe Decouflé, Bel iniciou carreira como
criador independente em 1996.
Num fim de século em que tudo
parecia ter sido inventado, ele tornou-se protagonista de uma geração que transitou para o terceiro
milênio em busca de um novo
ponto de partida.
Subvertendo os códigos de encenação teatral e rompendo com
a espetacularidade explorada nos
anos 80 por coreógrafos como
Decouflé, Bel e seus contemporâneos deixaram de se preocupar
com os resultados para colocar
em foco os processos de criação.
"Procuro o grau zero da dança",
proclamou Bel em seu primeiro
espetáculo, "Nom Donné par
l'Auteur" (Nome Dado pelo Autor). Apresentada no Brasil em 99,
a peça marcou a ruptura de Bel
com os recursos da sedução teatral. Sem música, cenários, efeitos
de iluminação e tampouco dança,
se reduzia aos deslocamentos de
objetos de consumo provocados
por dois homens.
"Em cena, procuro colocar uma
problematização aberta, que deve
ser resolvida pelo espectador. Como autor, me limito a estimular o
pensamento e as emoções do público, ao qual cabe continuar o
trabalho e tomar posição por si."
Comparado a "Nom Donné par
l'Auteur", "The Show Must Go
On" oferece vias de acesso mais
fáceis para o público, pelo menos
aparentemente. Interpretado por
18 atores-bailarinos, se desenvolve ao som de hits musicais.
Como um espelho, o palco mostra gente que reage à música como qualquer pessoa da platéia.
"Minha proposta é interrogar o
aspecto sócio-político da comunidade formada pelo elenco e pelo
público. Mostrando corpos modificados pela cultura pop, o espetáculo oscila entre a crítica e o prazer", diz Bel, salientando que a
dança, em si, não o interessa. "Para mim a dança é apenas um instrumento que me permite experimentar as intensidades que o
mundo oferece."
THE SHOW MUST GO ON. De Jérôme
Bel. Quando: amanhã e quinta, às 21h.
Onde: teatro Sesc Anchieta (r. Dr. Vila
Nova, 245, tel.: 0/xx/11/3234-3000).
Quanto: de R$ 4 a R$ 12.
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