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LITERATURA
WU MING
Co-fundador de coletivo literário italiano defende alternativa contra propriedade intelectual em palestras no Brasil
"Artesão" questiona o direito autoral
DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL
"É consentida a reprodução
parcial ou total desta obra bem
como a sua distribuição por via
telemática para uso pessoal dos
leitores, desde que sem fins comerciais."
A autorização aparece nos livros
do Wu Ming, coletivo literário italiano sediado em Bolonha e que
há dois anos vem adotando as
práticas do chamado "copyleft",
alternativa defendida pelo grupo
contra as "parasitárias" leis de
propriedade intelectual.
"Nós somos uma empresa e
queremos viver de escrever livros.
O que fazemos não é um hobby",
afirmou à Folha o escritor e co-fundador do projeto Roberto Bui,
32, que, publicamente, identifica-se como Wu Ming 1 (o termo, em
chinês, significa Anônimo ou
Não-Famoso). Desde 23 de outubro até 23 de novembro Bui está
no Brasil para participar de palestras e encontros em São Paulo,
Rio, Florianópolis e Porto Alegre.
"Nos últimos três anos, milhões
de pessoas vêm trocando arquivos na internet e modificando
softwares livres", afirma o escritor. "Creio que estamos presenciando uma mudança estrutural
na indústria cultural: a decadência da cultura de massas descrita
por Adorno em favor de uma nova fase que é mais similar à cultura popular da era pré-industrial."
Além de renunciarem aos nomes próprios, portanto, os cinco
membros atuais do Wu Ming não
se descrevem como artistas, mas
como "artesãos da narrativa".
"A cultura de massas é altamente centralizada por multinacionais que detêm o controle da indústria de entretenimento. Por
outro lado, a comunidade "peer-to-peer" [baseada na livre troca
entre dois computadores] é descentralizada. Daí que o autor de
um software -ou de uma obra de
arte- não é importante. O Linux
é continuamente melhorado por
uma multidão anônima."
Pelo raciocínio do Wu Ming, se
tivessem existido leis de propriedade intelectual no passado, provavelmente a humanidade não teria conhecido obras como o "Gilgamesh", o "Mahabharata", a
"Ilíada" e até mesmo a Bíblia.
"Contar histórias deve ser uma
função social como qualquer outra. Isso derruba vários mitos sobre os autores, como o de que eles
são mais sensíveis do que os outros, de que são gênios e conseguem inspiração de um nível superior de consciência. Isso é besteira reacionária."
As raízes do Wu Ming, na verdade, podem ser encontradas no
projeto Luther Blissett, espécie de
herói pós-moderno, "Robin
Hood da era da informação", que
serviu e serve ainda de inspiração
para muitos manifestantes antiglobalização. Blissett, assim como
Wu Ming, era um nome vazio -o
de um jogador de futebol desconhecido-, cuja menção passou a
ser relacionada pela imprensa italiana no final dos 90 com a do "autor" de uma série de peças e engodos que esporádica e aleatoriamente se dedicava a expor a mídia
ao ridículo.
A grande obra de Luther Blissett
foi "Q", um denso romance sobre
os levantes camponeses e a perseguição de hereges pela Inquisição
durante o século 17. O livro vendeu 200 mil cópias na Itália.
WU MING - mesa-redonda com Roberto
Bui (Wu Ming/Luther Blissett), Ricardo
Rosas (Rizoma.net), Tatiana Well e Felipe
Fonseca (Metáfora) e Marcelo Barbão
("Geek"). Quando: amanhã, às 19h.
Onde: Ação Educativa (r. General Jardim,
660, Santa Cecília, São Paulo). Quanto:
entrada franca.
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