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POPLOAD
Ainda John Peel, prazeres juvenis
LÚCIO RIBEIRO
COLUNISTA DA FOLHA
Para um cara já algo passado
como eu e que considera música tão importante para a vida
como o oxigênio, a notícia da
morte repentina de um sujeito tão
boa-praça e significativo de várias
coisas como o DJ inglês John Peel,
da BBC, é de devastar uma coluna
como esta. Esta coluna, ainda que
devastada, é para ele.
* Para lembrar: John Peel, radialista da Radio One em plena atividade, morreu na última terça, aos
65 anos, durante férias no Peru. A
julgar pela reação no meio musical britânico e mundial, o choque
foi relativamente parecido com o
que causou a morte da princesa
Diana para a nação britânica.
* Na semana passada, nos três
programas que mantinha na Radio One às terças, quartas e quintas, Peel recebeu convidados como o Underworld, Siouxsie e Robert Smith (Cure), respectivamente. A última música tocada
por John Peel foi "Are You Experienced", de Jimi Hendrix.
* Várias personalidades entraram ao vivo na rádio para expressar o pesar sobre o acontecido
com o maior DJ da história da
música. Dos músicos novos ao
povo do britpop (Jarvis Cocker,
do Pulp, Damon Albarn, do Blur).
De Bernard Sumner (New Order)
a Elvis Costello. Do primeiro-ministro Tony Blair a Tommy
Smith, um dos principais jogadores do futebol inglês (Liverpool).
* John Peel tem a mesma importância e relevância de uma
dessas grandes bandas que viram
imortais depois que morrem. Na
BBC desde 1967, Peel foi prestigiado pelos Beatles. Dizem que recebeu das mãos dos quatro de Liverpool o promo da fantástica "I'm
the Walrus". Peel foi o primeiro a
tocar em rádio grande a revolução
punk. Sempre disse que sua canção favorita era "Teenage Kicks",
do Undertones. Peel foi um dos
sujeitos mais importantes de quatro gerações de adolescentes adoradores de música pop.
* O DJ registrou os dourados
anos 80 inglês nas famosas Peel
Sessions, transformando em disco raridades de bandas como
New Order e Smiths. A primeira
vez que os Smiths apareceram para o rádio foi via John Peel. Amava
o White Stripes. O hip hop americano e até o drum'n'bass têm dívida eterna com John Peel.
* Eu guardo muitas fitas-cassete
com programas inteiros de Peel
gravados, do começo dos 90, que
hoje não têm nenhuma relevância, mas das quais nunca quis me
desfazer. Agora é que não vou me
desfazer mesmo.
* Um dos principais jornais do
mundo, o "Guardian" registrou a
morte de Peel com uma foto gigante em sua prestigiosa capa. O
"Independent" disse que John
Peel foi "a mais importante figura
da música britânica desde a criação do rock'n'roll. Mais importante que qualquer artista porque
ele era o entusiasta que descobriu
muitos daqueles que nós pensamos como grandes figuras do pop
nos últimos 40 anos".
* Ainda na terça, em Liverpool,
a dupla Neil & Tim Finn recebeu
em show, no bis, a participação do
guitarrista Johnny Marr, ex-Smiths. Marr e os Finn tocaram
"There Is a Light That Never Goes
Out", clássica dos Smiths. Alguém
na platéia gritou "Teenage Kicks".
E Marr e os Finn tocaram.
* A partir de 2005, o festival
Glastonbury terá um palco com o
nome de John Peel. Em Manchester, a bandaça Franz Ferdinand
também tocou "Teenage Kicks"
em show. Em Londres, o grupo
Hope of the States dedicou música ao DJ. No telão foi escrito "John
Peel, you'll never walk alone", lema da torcida do Liverpool FC,
cantado em horas difíceis para
mostrar suporte até o fim
lucio@uol.com.br
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