São Paulo, sexta-feira, 29 de outubro de 2004

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POPLOAD

Ainda John Peel, prazeres juvenis

LÚCIO RIBEIRO
COLUNISTA DA FOLHA

Para um cara já algo passado como eu e que considera música tão importante para a vida como o oxigênio, a notícia da morte repentina de um sujeito tão boa-praça e significativo de várias coisas como o DJ inglês John Peel, da BBC, é de devastar uma coluna como esta. Esta coluna, ainda que devastada, é para ele.
* Para lembrar: John Peel, radialista da Radio One em plena atividade, morreu na última terça, aos 65 anos, durante férias no Peru. A julgar pela reação no meio musical britânico e mundial, o choque foi relativamente parecido com o que causou a morte da princesa Diana para a nação britânica.
* Na semana passada, nos três programas que mantinha na Radio One às terças, quartas e quintas, Peel recebeu convidados como o Underworld, Siouxsie e Robert Smith (Cure), respectivamente. A última música tocada por John Peel foi "Are You Experienced", de Jimi Hendrix.
* Várias personalidades entraram ao vivo na rádio para expressar o pesar sobre o acontecido com o maior DJ da história da música. Dos músicos novos ao povo do britpop (Jarvis Cocker, do Pulp, Damon Albarn, do Blur). De Bernard Sumner (New Order) a Elvis Costello. Do primeiro-ministro Tony Blair a Tommy Smith, um dos principais jogadores do futebol inglês (Liverpool).
* John Peel tem a mesma importância e relevância de uma dessas grandes bandas que viram imortais depois que morrem. Na BBC desde 1967, Peel foi prestigiado pelos Beatles. Dizem que recebeu das mãos dos quatro de Liverpool o promo da fantástica "I'm the Walrus". Peel foi o primeiro a tocar em rádio grande a revolução punk. Sempre disse que sua canção favorita era "Teenage Kicks", do Undertones. Peel foi um dos sujeitos mais importantes de quatro gerações de adolescentes adoradores de música pop.
* O DJ registrou os dourados anos 80 inglês nas famosas Peel Sessions, transformando em disco raridades de bandas como New Order e Smiths. A primeira vez que os Smiths apareceram para o rádio foi via John Peel. Amava o White Stripes. O hip hop americano e até o drum'n'bass têm dívida eterna com John Peel.
* Eu guardo muitas fitas-cassete com programas inteiros de Peel gravados, do começo dos 90, que hoje não têm nenhuma relevância, mas das quais nunca quis me desfazer. Agora é que não vou me desfazer mesmo.
* Um dos principais jornais do mundo, o "Guardian" registrou a morte de Peel com uma foto gigante em sua prestigiosa capa. O "Independent" disse que John Peel foi "a mais importante figura da música britânica desde a criação do rock'n'roll. Mais importante que qualquer artista porque ele era o entusiasta que descobriu muitos daqueles que nós pensamos como grandes figuras do pop nos últimos 40 anos".
* Ainda na terça, em Liverpool, a dupla Neil & Tim Finn recebeu em show, no bis, a participação do guitarrista Johnny Marr, ex-Smiths. Marr e os Finn tocaram "There Is a Light That Never Goes Out", clássica dos Smiths. Alguém na platéia gritou "Teenage Kicks". E Marr e os Finn tocaram.
* A partir de 2005, o festival Glastonbury terá um palco com o nome de John Peel. Em Manchester, a bandaça Franz Ferdinand também tocou "Teenage Kicks" em show. Em Londres, o grupo Hope of the States dedicou música ao DJ. No telão foi escrito "John Peel, you'll never walk alone", lema da torcida do Liverpool FC, cantado em horas difíceis para mostrar suporte até o fim

lucio@uol.com.br


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