São Paulo, sexta-feira, 29 de outubro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

POLÍTICA CULTURAL

Em meio à crise, arquiteto que dirige o museu há dez anos deve ser reeleito para mais dois, hoje à tarde

Criticado, Neves é candidato único no Masp

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Com apenas uma chapa, encabeçada pelo atual diretor-presidente do Museu de Arte de São Paulo (Masp), os 68 conselheiros da instituição devem manter por mais dois anos o arquiteto Júlio Neves à frente do museu. A eleição ocorre hoje, às 17h. O prazo para a inscrição de chapas foi encerrado, anteontem, às 17h, sob a expectativa do diretor.
"Vim aqui por curiosidade. Depois do volume de críticas que recebemos, imaginava que alguém ia apresentar propostas para o museu. Estou surpreso que ninguém tenha aparecido", afirmou Neves, no Masp, anteontem, à Folha. Qualquer pessoa poderia apresentar uma chapa, desde que apoiada por cinco sócios da instituição.
Eleito pela primeira vez há dez anos, numa disputa apertada com José Mindlin -Júlio Neves recebeu 22 votos, contra 21 do concorrente-, desde então o atual presidente vem se mantendo sem oposição no museu. Em parte isso ocorre por conta do grupo que apoiou Mindlin, há dez anos, ter deixado a instituição.
Segundo um conselheiro, que prefere não ser identificado, Neves hoje conta com o apoio de 70% do conselho, e os outros 30% não querem saber de polêmica.
A reeleição de Neves, contudo, não deve passar em branco. Um grupo não-identificado fez circular anteontem, na internet, a convocação de um ato público, hoje, às 15h30, no vão livre do museu, denominado "Masp pede socorro! Triste desmantelamento da arte": "Propomos um ato de protesto, de intervenção e manifestação contra esta forma autoritária e monárquica de gerir um patrimônio que é público. (...) Pedimos a destituição e a decapitação desta máfia déspota e leiga!".
"Puxa vida, isso parece a Revolução Francesa! Nós temos cara, nome e sobrenome. Quem são esses que nos criticam? Eu não sei", diz Neves, ao tomar conhecimento do manifesto.
O texto elenca ainda denúncias recentes vinculadas ao museu, como uma dívida de R$ 3,3 milhões com o INSS, que teria levado a direção da instituição a dar com garantia o quadro "Alegoria de Pintura sobre Cerâmica", do artista português Bordalo Pinheiro Columbano (1857-1929), avaliado em R$ 4,3 milhões.
"Nós não devemos nada. Estamos discutindo essa questão na Justiça, pois somos uma entidade filantrópica e essa situação ocorreu por conta do descredenciamento de todas as filantrópicas do país, feito pelo governo federal. O quadro foi dado como garantia para podermos contestar essa decisão. Se, na pior das hipóteses, tivermos que pagar, não vamos vender o quadro, mas pagar o valor de forma parcelada", afirma Neves.
Entretanto, há de fato uma crise no Masp, visível na perda de visitantes e de patrocínio para grandes mostras. Em 2002, por exemplo, durante três mostras, o museu recebeu 337 mil visitantes. Já no ano passado, segundo o próprio presidente, foram apenas 150 mil. Em relação ao patrocínio, neste ano a instituição apresentou apenas uma mostra, "Provocando o Olhar", com obras que não são de sua coleção, mas da Fundação Grupo Santander. No total, o museu apresentou quatro exposições em dez meses -quando já chegou a exibir mais de 50 por ano.
Essa crise se vê na própria falta de agilidade do museu, onde está ainda em montagem a exposição "O Masp e as Bienais", uma mostra paralela à Bienal de São Paulo, aberta já há um mês, perdendo, portanto, a oportunidade de tomar parte da sinergia provocada pela maior exposição de artes plásticas do país.
"Estamos buscando uma solução a longo prazo, que não vise apenas apoio para uma ou outra mostra, mas que dê uma saída definitiva para o museu. Isso será anunciado em breve e vai ser uma surpresa para muita gente, vamos oxigenar o Masp", afirma Fernando Pinho, superintendente da instituição, que há dez anos acompanha a gestão Neves.


Texto Anterior: Popload: Ainda John Peel, prazeres juvenis
Próximo Texto: Trainee: Inscrição para programa é encerrada amanhã
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.