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POLÍTICA CULTURAL
Em meio à crise, arquiteto que dirige o museu há dez anos deve ser reeleito para mais dois, hoje à tarde
Criticado, Neves é candidato único no Masp
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
Com apenas uma chapa, encabeçada pelo atual diretor-presidente do Museu de Arte de São
Paulo (Masp), os 68 conselheiros
da instituição devem manter por
mais dois anos o arquiteto Júlio
Neves à frente do museu. A eleição ocorre hoje, às 17h. O prazo
para a inscrição de chapas foi encerrado, anteontem, às 17h, sob a
expectativa do diretor.
"Vim aqui por curiosidade. Depois do volume de críticas que recebemos, imaginava que alguém
ia apresentar propostas para o
museu. Estou surpreso que ninguém tenha aparecido", afirmou
Neves, no Masp, anteontem, à Folha. Qualquer pessoa poderia
apresentar uma chapa, desde que
apoiada por cinco sócios da instituição.
Eleito pela primeira vez há dez
anos, numa disputa apertada com
José Mindlin -Júlio Neves recebeu 22 votos, contra 21 do concorrente-, desde então o atual presidente vem se mantendo sem
oposição no museu. Em parte isso
ocorre por conta do grupo que
apoiou Mindlin, há dez anos, ter
deixado a instituição.
Segundo um conselheiro, que
prefere não ser identificado, Neves hoje conta com o apoio de
70% do conselho, e os outros 30%
não querem saber de polêmica.
A reeleição de Neves, contudo,
não deve passar em branco. Um
grupo não-identificado fez circular anteontem, na internet, a convocação de um ato público, hoje,
às 15h30, no vão livre do museu,
denominado "Masp pede socorro! Triste desmantelamento da
arte": "Propomos um ato de protesto, de intervenção e manifestação contra esta forma autoritária
e monárquica de gerir um patrimônio que é público. (...) Pedimos a destituição e a decapitação
desta máfia déspota e leiga!".
"Puxa vida, isso parece a Revolução Francesa! Nós temos cara,
nome e sobrenome. Quem são esses que nos criticam? Eu não sei",
diz Neves, ao tomar conhecimento do manifesto.
O texto elenca ainda denúncias
recentes vinculadas ao museu, como uma dívida de R$ 3,3 milhões
com o INSS, que teria levado a direção da instituição a dar com garantia o quadro "Alegoria de Pintura sobre Cerâmica", do artista
português Bordalo Pinheiro Columbano (1857-1929), avaliado
em R$ 4,3 milhões.
"Nós não devemos nada. Estamos discutindo essa questão na
Justiça, pois somos uma entidade
filantrópica e essa situação ocorreu por conta do descredenciamento de todas as filantrópicas do
país, feito pelo governo federal. O
quadro foi dado como garantia
para podermos contestar essa decisão. Se, na pior das hipóteses, tivermos que pagar, não vamos
vender o quadro, mas pagar o valor de forma parcelada", afirma
Neves.
Entretanto, há de fato uma crise
no Masp, visível na perda de visitantes e de patrocínio para grandes mostras. Em 2002, por exemplo, durante três mostras, o museu recebeu 337 mil visitantes. Já
no ano passado, segundo o próprio presidente, foram apenas 150
mil. Em relação ao patrocínio,
neste ano a instituição apresentou
apenas uma mostra, "Provocando o Olhar", com obras que não
são de sua coleção, mas da Fundação Grupo Santander. No total, o
museu apresentou quatro exposições em dez meses -quando já
chegou a exibir mais de 50 por
ano.
Essa crise se vê na própria falta
de agilidade do museu, onde está
ainda em montagem a exposição
"O Masp e as Bienais", uma mostra paralela à Bienal de São Paulo,
aberta já há um mês, perdendo,
portanto, a oportunidade de tomar parte da sinergia provocada
pela maior exposição de artes
plásticas do país.
"Estamos buscando uma solução a longo prazo, que não vise
apenas apoio para uma ou outra
mostra, mas que dê uma saída definitiva para o museu. Isso será
anunciado em breve e vai ser uma
surpresa para muita gente, vamos
oxigenar o Masp", afirma Fernando Pinho, superintendente da instituição, que há dez anos acompanha a gestão Neves.
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