São Paulo, sexta-feira, 29 de outubro de 2004

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"WHISKY"

Diretores filmam com câmera imóvel

PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA

Repare só: durante toda a projeção de "Whisky", a câmera permanece imóvel. Não há um só plano em movimento, seja ele em "travelling", panorâmica ou câmera na mão. Não se trata de decisão fácil em tempos em que o padrão é o da velocidade vertiginosa, não apenas na montagem mas no interior da imagem.
Também não é essa decisão, exclusivamente, que torna interessante o trabalho dos diretores. Imobilizar a imagem, aqui, é mais do que uma opção estética na contramão de modismos, que "reflete o estado interior dos personagens". E haveria motivos para crer nisso, dada a história do filme: Herman Koller, dono de uma fábrica de meias, pede à assistente Marta que se passe por sua mulher enquanto ele recebe a visita do irmão Jacobo. A visita e a presença de Marta desestabilizam o cotidiano regrado de um homem antes paralisado no mundo.
Parar a câmera, aqui, não é mero efeito, mas um eficaz dispositivo de filmagem levado rigorosamente às últimas conseqüências. Rebella e Stoll não se permitem qualquer exceção, nem mesmo para o movimento de correção do enquadramento. Por isso, se um homem alto e uma mulher baixa estão em foco e a câmera está posicionada a uma certa distância, de forma que os rostos dos atores não possam ser enquadrados juntos e inteiros, eles aparecerão cortados. O efeito de estranheza será incorporado a "Whisky".
Essa estranheza contrasta com a banalidade da história, criando um efeito de humor inerente à linguagem do filme, que também potencializa o trabalho dos atores.


Whisky
   
Produção: Uruguai/Alemanha/Argentina, 2004
Direção: Juan Pablo Rebella e Pablo Stoll
Quando: hoje, às 17h, no Frei Caneca Arteplex (última sessão amanhã)



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