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"WHISKY"
Diretores filmam com câmera imóvel
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
Repare só: durante toda a
projeção de "Whisky", a câmera permanece imóvel. Não há
um só plano em movimento, seja
ele em "travelling", panorâmica
ou câmera na mão. Não se trata de
decisão fácil em tempos em que o
padrão é o da velocidade vertiginosa, não apenas na montagem
mas no interior da imagem.
Também não é essa decisão, exclusivamente, que torna interessante o trabalho dos diretores.
Imobilizar a imagem, aqui, é mais
do que uma opção estética na
contramão de modismos, que
"reflete o estado interior dos personagens". E haveria motivos para crer nisso, dada a história do filme: Herman Koller, dono de uma
fábrica de meias, pede à assistente
Marta que se passe por sua mulher enquanto ele recebe a visita
do irmão Jacobo. A visita e a presença de Marta desestabilizam o
cotidiano regrado de um homem
antes paralisado no mundo.
Parar a câmera, aqui, não é mero efeito, mas um eficaz dispositivo de filmagem levado rigorosamente às últimas conseqüências.
Rebella e Stoll não se permitem
qualquer exceção, nem mesmo
para o movimento de correção do
enquadramento. Por isso, se um
homem alto e uma mulher baixa
estão em foco e a câmera está posicionada a uma certa distância,
de forma que os rostos dos atores
não possam ser enquadrados juntos e inteiros, eles aparecerão cortados. O efeito de estranheza será
incorporado a "Whisky".
Essa estranheza contrasta com a
banalidade da história, criando
um efeito de humor inerente à linguagem do filme, que também
potencializa o trabalho dos atores.
Whisky
Produção: Uruguai/Alemanha/Argentina, 2004
Direção: Juan Pablo Rebella e Pablo Stoll
Quando: hoje, às 17h, no Frei Caneca
Arteplex (última sessão amanhã)
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