São Paulo, sexta-feira, 29 de outubro de 2004

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"5x2" Ozon narra drama conjugal ao contrário

TIAGO MATA MACHADO
CRÍTICO DA FOLHA

Ainda não podemos dizer se a moda do "filme-de-trás-para-a-frente" é passageira ou se veio para ficar e levar o cinema narrativo a tratar sua velha obsessão finalista com uma saudável regressão: afinal, o verdadeiro mistério não estaria no início das coisas, em seu nascimento?
Para o cineasta francês François Ozon, que sempre soube como começar os seus filmes, mas quase nunca como fechá-los, a moda caiu bem.
Em "5x2" (a história de um casamento em cinco seqüências), ele chega ao seu mais enxuto exercício narrativo. Ozon retoma a estrutura do-inferno-ao-céu de "Irreversível", o polêmico filme-invenção de Gaspar Noé, evitando-lhe os excessos traumáticos. Ozon oferece uma variação mais fácil de digerir, evitando incorrer no erro (fatal) de lhe repetir o tom.
O inferno, para Ozon, é uma relação conjugal morta, em banho-maria. Seu filme começa com uma cena de separação até certo ponto amigável e retorna no tempo para os silêncios e hiatos que corroeram a relação.
Nos "filmes-de-trás-para-a-frente", o tempo é sempre o protagonista. A cada elipse temporal, a ambigüidade dos personagens e da própria narrativa tende a crescer e com ela, o trabalho interpretativo do espectador.
Em seu "5x2", porém, François Ozon reduz meio levianamente a uma única questão, a da fidelidade sexual, toda a potencial ambigüidade de seu drama-conjugal-invertido.


5x2
Cinq Fois Deux
   
Direção: François Ozon
Produção: França, 2004
Com: Valeria Bruni-Tedeschi, Stéphane Freiss, Françoise Fabian
Quando: hoje, à 0h, no Cinearte 1 (outras sessões amanhã e dias 3 e 4)



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