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"O ABRAÇO PARTIDO"
Daniel Burman faz busca pessoal com doses de humor ácido
SYLVIA COLOMBO
EDITORA DO FOLHATEEN
"O Abraço Partido" ganhou o Urso de Prata em
Berlim, é o candidato da Argentina ao Oscar de melhor estrangeiro e seu diretor, Daniel Burman,
32, transformou-se no novo queridinho do circuito europeu.
Com tudo isso, era de esperar
que o filme pudesse servir de termômetro para medir o hype em
torno da chamada "buena onda"
argentina ou, pelo menos, como
amostra significativa do que se
produz hoje no país vizinho.
Mas será que isso é verdade? A
resposta é sim, e também não.
Sim, porque os ingredientes que
compõem o sucesso de sua geração estão ali: a crise econômica
que desde dezembro de 2001 sufoca o país, os laços familiares e a
precariedade da vida cotidiana.
Não, porque tanto a matéria-prima usada pelo diretor como
sua busca são extremamente pessoais. Burman é judeu descendente de imigrantes poloneses e
enxerga o mundo pelas lentes que
lhe foram oferecidas.
Com filmes como "O Abraço
Partido" e "Esperando ao Messias", quer entender o espaço que
cabe a seu mundo particular dentro do mundo de hoje e, principalmente, como manter as coisas em
que acredita enquanto vive numa
Argentina que desmorona.
"O Abraço Partido" conta a história de Ariel Makaroff, um jovem
judeu que toca com a mãe uma lojinha de lingerie no bairro do Once, aqui transformado em metáfora da Argentina contemporânea.
As perspectivas profissionais e
afetivas de Ariel são poucas, senão
nenhuma. Arrependeu-se de ter
abandonado a namorada e agora
mata o tempo com a funcionária
de um cibercafé semifalido. A lojinha parece parada no tempo.
Ariel decide, então, obter um
passaporte polonês para ir a Europa atrás de uma nova vida. Sabe
muito pouco sobre a Polônia, que
conhece pelas canções que a avó
costuma cantar e por pesquisas
na internet sobre poloneses famosos. Nesse processo, quase decora
as biografias do papa e Lech Walesa, mas tem dificuldade de acertar a pronúncia desses nomes.
Cerebral, mas atrapalhado nos
modos e irônico, engajado numa
autoflagelação contínua, o ator
Daniel Hendler se transformou
no alter ego do cineasta.
Dizer que o que Burman faz é
"buscar sua identidade" é não só
um negócio abstrato como um já
massacrado clichê. A isso, Burman responde com altas doses de
um humor ácido e mordaz. Seus
personagens são capazes de passar horas conversando sobre coisas que parecem desimportantes.
Há uma cena, por exemplo, em
que Ariel discute com o irmão a
situação da galeria. O assunto é
sério, mas uma grotesca imitação
de peixe empalhado se debate no
momento em que Ariel pergunta
se o Talmude diz algo sobre a crise
na Argentina. Retrato de um país?
Sem dúvida, enquadrado pelas
lentes criativas de Burman.
O Abraço Partido
El Abrazo Partido
Direção: Daniel Burman
Produção: Argentina, 2003
Quando: a partir de hoje no Espaço
Unibanco, Lumière e circuito
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