São Paulo, sábado, 29 de outubro de 2005

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"ADM: ARMAS DE DECEPÇÃO EM MASSA"

Americano critica cobertura de guerra

MARCOS GUTERMAN
EDITOR-ADJUNTO DE MUNDO

Em maio de 2004, o jornal "The New York Times" fez um memorável mea culpa sobre sua cobertura da Guerra do Iraque. Entre outras coisas, declarou-se arrependido por ter acreditado na existência das armas de destruição em massa de Saddam Hussein, principal motivo para o ataque. Tudo muito bonito, mas fica a pergunta: como é que um dos principais jornais do mundo -como, de resto, toda a imprensa americana- caiu nessa? Para Danny Schechter, veterano produtor de TV americano, a resposta envolve fascínio pela guerra, patriotismo fabricado e intimidação da imprensa meticulosamente planejada pelo governo Bush.
Schechter é autor de "ADM: Armas de Decepção em Massa", documentário que reconstitui em detalhes o trabalho dos jornalistas americanos às vésperas da guerra. O título original faz um trocadilho com "weapons of mass destruction" (as tais armas de destruição em massa do Iraque).
A chave do documentário está no raciocínio segundo o qual o governo Bush não teria conseguido criar toda a atmosfera hostil a Saddam que antecedeu a guerra se não tivesse a colaboração decisiva da imprensa. Schechter mostra de que maneira os jornalistas foram cúmplices da Casa Branca, e não vítimas inocentes.
O governo criou várias estratégias para controlar aquilo que o Pentágono chamou de "quarta frente" da guerra -referência ao "quarto poder". Numa das mais farsescas, os jornalistas "embutidos" nas ações militares dos EUA foram sistematicamente aterrorizados sobre as temíveis armas químicas do Iraque -aquelas que nunca existiram. Resultado: os repórteres acreditaram na existência desse arsenal sem ter visto um único parafuso dele.
Houve formas mais sutis de cooptação, como a que explorou o deslumbramento com a sofisticação das armas americanas em ação no Iraque, "brinquedinhos" desejados pelos "meninos" jornalistas. Nesse ambiente, não há jornalismo crítico que se imponha.
Finalmente, Schechter investiga de que maneira foi construído o consenso patriótico na maior parte da mídia americana, cujo principal efeito foi diminuir a importância e a visibilidade das evidências de que os argumentos contra o Iraque eram frágeis, para não dizer falsos. Essa "imersão noticiosa" a que os americanos foram submetidos deixou o terreno livre para que Bush empreendesse sua desastrosa guerra.


ADM: Armas de Decepção em Massa
   
Direção: Danny Schechter
Quando: hoje, às 20h, no MIS


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