São Paulo, quarta-feira, 29 de outubro de 2008

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comentário

No palco, grupo une barulho e doçura pop

ANDRÉ BARCINSKI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Quem for ao show do Jesus and Mary Chain esperando uma apresentação animada, cheia de interação com a platéia, com músicos pedindo palmas e fazendo polichinelo no palco, vai se decepcionar.
Não vai rolar nenhum "Boa noite, Brasil!" ou "We love you, São Paulo!"; ninguém vai pedir para o público acender isqueiros.
O que vai rolar, com certeza, é a inconfundível mistura de barulho à Velvet Underground com a doçura pop dos Beach Boys, que fez do JAMC uma das bandas mais brilhantes dos últimos 25 anos. Se isso basta, pode ir sem medo, que a noite será inesquecível.
Desde 1984, o JAMC faz discos sensacionais e shows do tipo "ame ou odeie". No início, as apresentações duravam 20 minutos, com a banda de costas para o público e uma iluminação que mais parecia o bombardeio a Stalingrado, com estrobos gigantes causando ataques epilépticos no povo. Quem foi aos shows no Brasil, em 1990, não se esquece do volume ensurdecedor da microfonia e do desconforto causado pelas luzes.
Mas a banda, como seus fãs, envelheceu. E se o mau humor de Jim e William Reid continua o mesmo, pelo menos seus shows tornaram-se experiências menos confrontadoras e imprevisíveis. Mas a música, que no final das contas é o que realmente importa, continua sublime.
Nos shows mais recentes, a banda tem feito uma retrospectiva de toda a carreira. No Brasil, não devem faltar os clássicos da fase gótica, como "Darklands" e "Happy When It Rains", as pauladas à Stooges de "Head On" e "Blues from a Gun" e algumas faixas de "Honey's Dead" (1992), considerado por muitos a obra-prima da banda, com "Reverence" e "Far Gone Out".
Mas alegria mesmo será ouvir "Some Candy Talking","Taste of Cindy" e "Just Like Honey", hinos de seu primeiro disco, o barulhento e caótico "Psychocandy" (1985), um LP que influenciou Sonic Youth, Pixies, Ride, Dinosaur Jr. e tantos outros.

ANDRÉ BARCINSKI é jornalista e sócio do clube Clash.



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