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comentário
No palco, grupo une barulho e doçura pop
ANDRÉ BARCINSKI
ESPECIAL PARA A FOLHA
Quem for ao show do Jesus and Mary Chain esperando uma apresentação
animada, cheia de interação com a platéia, com
músicos pedindo palmas e
fazendo polichinelo no
palco, vai se decepcionar.
Não vai rolar nenhum
"Boa noite, Brasil!" ou
"We love you, São Paulo!";
ninguém vai pedir para o
público acender isqueiros.
O que vai rolar, com certeza, é a inconfundível mistura de barulho à Velvet
Underground com a doçura pop dos Beach Boys, que
fez do JAMC uma das bandas mais brilhantes dos últimos 25 anos. Se isso basta, pode ir sem medo, que a
noite será inesquecível.
Desde 1984, o JAMC faz
discos sensacionais e
shows do tipo "ame ou
odeie". No início, as apresentações duravam 20 minutos, com a banda de costas para o público e uma
iluminação que mais parecia o bombardeio a Stalingrado, com estrobos gigantes causando ataques
epilépticos no povo. Quem
foi aos shows no Brasil, em
1990, não se esquece do
volume ensurdecedor da
microfonia e do desconforto causado pelas luzes.
Mas a banda, como seus
fãs, envelheceu. E se o mau
humor de Jim e William
Reid continua o mesmo,
pelo menos seus shows
tornaram-se experiências
menos confrontadoras e
imprevisíveis. Mas a música, que no final das contas
é o que realmente importa, continua sublime.
Nos shows mais recentes, a banda tem feito uma
retrospectiva de toda a
carreira. No Brasil, não devem faltar os clássicos da
fase gótica, como "Darklands" e "Happy When It
Rains", as pauladas à Stooges de "Head On" e "Blues
from a Gun" e algumas faixas de "Honey's Dead"
(1992), considerado por
muitos a obra-prima da
banda, com "Reverence" e
"Far Gone Out".
Mas alegria mesmo será
ouvir "Some Candy Talking","Taste of Cindy" e
"Just Like Honey", hinos
de seu primeiro disco, o
barulhento e caótico
"Psychocandy" (1985), um
LP que influenciou Sonic
Youth, Pixies, Ride, Dinosaur Jr. e tantos outros.
ANDRÉ BARCINSKI é jornalista e sócio
do clube Clash.
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