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34ª MOSTRA INTERNACIONAL DE CINEMA DE SÃO PAULO
CRÍTICA DRAMA
"Luz nas Trevas" propõe olhos livres para ver
Longa-metragem é seguidor fiel de seu antecessor, "O Bandido da Luz Vermelha" (1968)
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Pode-se começar com uma
aproximação horizontal: um
policial de grande sucesso,
como "Tropa de Elite 2", observa o mundo a partir de um
ponto de vista único e em
profundidade. É como um
quadro acadêmico, concebido em perspectiva.
"Luz nas Trevas" é mais
como um Picasso, onde os
pontos de vista são múltiplos
e observa-se a superfície.
É evidente que, ao contrário de "Tropa 2", "Luz" não
impõe um mundo fechado,
onde a emocionalidade prevalece. É um seguidor fiel de
seu antecessor, "O Bandido
da Luz Vermelha" (1968):
nos convoca a olhar a precária civilização com olhos livres, sem a bitola do policialismo, da lei e da ordem.
Desta vez, temos o velho
Luz preso, condenado por todos os crimes que cometeu e
pelos que não cometeu. Luz
tem um filho, que não o conhece, mas de quem é ídolo.
Seu nome: Tudo ou Nada.
Vamos então a uma aproximação vertical. O que falta
a "Luz" para ser o novo "Bandido"? Faltam a "mão" de
Sganzerla, a dinâmica da
montagem de Sylvio Renoldi, falta Paulo Villaça. Falta o
irrecuperável, enfim: os mortos que "O Bandido" carrega.
O velho bandido continua
na pele de Ney Matogrosso,
um demônio de lucidez anárquica, escandindo palavras
como quem sabe que a arte
não é inocente. Ney tem uma
figura ótima para o papel. Seria desejável ter treinado a
voz para estar mais próxima
da do Luz original do que de
seu famoso falsete.
A composição mais interessante é a do filho. Constatação de que a história só se
repete como farsa. É o bandido em busca do mito do pai,
mas incapaz de dirigir um
olhar vigoroso para as coisas.
A lucidez permanece privilégio do velho Luz. O que não
impede Tudo ou Nada de ser
submetido ao método investigativo tradicional de nossa
polícia, a tortura.
Por fim, o filme não é uma
história que se repete como
farsa. É uma retomada justa
do combate entre luz e trevas
que anima o cinema desde
pelo menos 1920.
É aí que se equilibra esse
trabalho que Helena Ignez
foi tirar de sua alma, num filme-família (a filha de Sganzerla, Djin, é atriz; André
Guerreiro Lopes, o Tudo ou
Nada, é genro; Sinai, produtora-executiva, a outra filha).
LUZ NAS TREVAS
DIREÇÃO Helena Ignez e Ícaro C.
Martins
QUANDO hoje, às 21h40, no
Espaço Unibanco; amanhã, às 13h,
no Reserva Cultural; e domingo, às
19h, no Museu da Imagem e do
Som
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
AVALIAÇÃO ótimo
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