São Paulo, sexta-feira, 29 de outubro de 2010

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34ª MOSTRA INTERNACIONAL DE CINEMA DE SÃO PAULO

CRÍTICA DRAMA

"Luz nas Trevas" propõe olhos livres para ver

Longa-metragem é seguidor fiel de seu antecessor, "O Bandido da Luz Vermelha" (1968)

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Pode-se começar com uma aproximação horizontal: um policial de grande sucesso, como "Tropa de Elite 2", observa o mundo a partir de um ponto de vista único e em profundidade. É como um quadro acadêmico, concebido em perspectiva.
"Luz nas Trevas" é mais como um Picasso, onde os pontos de vista são múltiplos e observa-se a superfície. É evidente que, ao contrário de "Tropa 2", "Luz" não impõe um mundo fechado, onde a emocionalidade prevalece. É um seguidor fiel de seu antecessor, "O Bandido da Luz Vermelha" (1968): nos convoca a olhar a precária civilização com olhos livres, sem a bitola do policialismo, da lei e da ordem.
Desta vez, temos o velho Luz preso, condenado por todos os crimes que cometeu e pelos que não cometeu. Luz tem um filho, que não o conhece, mas de quem é ídolo. Seu nome: Tudo ou Nada.
Vamos então a uma aproximação vertical. O que falta a "Luz" para ser o novo "Bandido"? Faltam a "mão" de Sganzerla, a dinâmica da montagem de Sylvio Renoldi, falta Paulo Villaça. Falta o irrecuperável, enfim: os mortos que "O Bandido" carrega.
O velho bandido continua na pele de Ney Matogrosso, um demônio de lucidez anárquica, escandindo palavras como quem sabe que a arte não é inocente. Ney tem uma figura ótima para o papel. Seria desejável ter treinado a voz para estar mais próxima da do Luz original do que de seu famoso falsete.
A composição mais interessante é a do filho. Constatação de que a história só se repete como farsa. É o bandido em busca do mito do pai, mas incapaz de dirigir um olhar vigoroso para as coisas. A lucidez permanece privilégio do velho Luz. O que não impede Tudo ou Nada de ser submetido ao método investigativo tradicional de nossa polícia, a tortura.
Por fim, o filme não é uma história que se repete como farsa. É uma retomada justa do combate entre luz e trevas que anima o cinema desde pelo menos 1920.
É aí que se equilibra esse trabalho que Helena Ignez foi tirar de sua alma, num filme-família (a filha de Sganzerla, Djin, é atriz; André Guerreiro Lopes, o Tudo ou Nada, é genro; Sinai, produtora-executiva, a outra filha).

LUZ NAS TREVAS

DIREÇÃO Helena Ignez e Ícaro C. Martins
QUANDO hoje, às 21h40, no Espaço Unibanco; amanhã, às 13h, no Reserva Cultural; e domingo, às 19h, no Museu da Imagem e do Som
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
AVALIAÇÃO ótimo


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