São Paulo, quinta, 29 de outubro de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Samba de roda x pagode mercenário


do enviado ao Rio

Em time que está ganhando não se mexe. O bordão é indecente, nem tanto pelo seu teor, mas quem sabe por seu uso. Zeca Pagodinho-Rildo Hora retomam em "Zeca Pagodinho" o que fizeram em seus dois discos anteriores, adotando soluções que se parecem até mesmo na sequência das músicas.
Abre com "Seu Balancê", que à maneira de "Verdade" tem introdução de flauta e gaita, e o violino se faz ouvir antes do batuque.
Passa então para um samba de Monarco (velha guarda da Portela) com cavaquinhos à frente. Vale mencionar a primeira estrofe: "Eu quis te dar um grande amor/ Mas você não se acostumou/ À vida de um lar/ O que você quer é vadiar". Seguem-se partidos altos, mais alguns temas românticos e sambas de roda.
Mas, em vez de produzirem um disco pouco inspirado, Zeca e Hora cravaram mais uma peça de resistência do samba de roda -que Zeca resolveu chamar agora de "samba-curimba"- contra o crossing-over mercenário do pagode paulistano-uberlandense.
² Sem comparação
Na verdade não há mesmo comparação. Zeca é um mestre inato do partido alto e Hora, um produtor delicado, com caráter suficiente para não querer aparecer mais que o cliente.
Assim, juntando ainda composições de outros fiéis do pagode (Almir Guineto, Arlindo Cruz & Sombrinha), mais a participação da cantora Beth Carvalho na matadora faixa "Ainda É Tempo pra Ser Feliz", o resultado é muito acima da média.
Zeca já havia abandonado explicitamente a malandragem no disco anterior, e este segue sendo "babacão", para usar um qualificativo que emprega a si próprio. Quando fala da "comadre Mary Lu", não é essa rima que você está pensando, mas uma para tabelar com "Zona Sul" e "Nova Iguaçu". (E tome solo de clarinete e trombone por trás).
Talvez por contar com Aldir Blanc numa das faixas, Zeca lembra bastante João Nogueira por certos momentos. Mas é passageiro. Zeca conquistou -e nem foi assim com muito esforço, porque afinal ele não trabalha no metrô- um lugar muito digno no samba brasileiro. Não é pouco. (PV)
²
Disco: Zeca Pagodinho Lançamento: PolyGram Quanto: R$ 18 (em média)



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.