São Paulo, quinta-feira, 29 de novembro de 2001

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DA RUA

Noites cariocas

JOÃO GILBERTO NOLL

Eles me arrastavam e eu não tinha tamanho para reagir. Reconheço que não poderia ter ficado. Quem me daria o de comer, quem diria pra não entrar na correnteza? Reconheço tudo isso, mas nunca gostei de ter vindo para cá. "Criança não tem vontade!", um homem loiro muito alto gritava. Lá me deram uma enxada. Mostraram-me umas terras reviradas, como se já tivessem mexido no que não prestava. Hoje nem sei que cor tem a enxada. Visto-me de mulher e saio de madrugada. Tenho um namorado que é também sem-terra para sempre, ele me levou escondido no fim do mês ao Rio, para casa de um camarada estudante na Uerj. De noite, no quarto carioca, ele mesmo me pinta o cabelo que vai ficando grisalho e ele não gosta, sem alarde, de leve, ninguém diz...


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