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DA RUA
Noites cariocas
JOÃO GILBERTO NOLL
Eles me arrastavam e eu não
tinha tamanho para reagir.
Reconheço que não poderia
ter ficado. Quem me daria o
de comer, quem diria pra não
entrar na correnteza? Reconheço tudo isso, mas nunca
gostei de ter vindo para cá.
"Criança não tem vontade!",
um homem loiro muito alto
gritava. Lá me deram uma enxada. Mostraram-me umas
terras reviradas, como se já tivessem mexido no que não
prestava. Hoje nem sei que cor
tem a enxada. Visto-me de
mulher e saio de madrugada.
Tenho um namorado que é
também sem-terra para sempre, ele me levou escondido
no fim do mês ao Rio, para casa de um camarada estudante
na Uerj. De noite, no quarto
carioca, ele mesmo me pinta o
cabelo que vai ficando grisalho e ele não gosta, sem alarde,
de leve, ninguém diz...
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