São Paulo, quinta-feira, 29 de novembro de 2001

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ANOS 70: TRAJETÓRIAS

Mostra revisita fraturas da cultura

FELIPE CHAIMOVICH
CRÍTICO DA FOLHA

Os anos 70 assistiram às negociações do pacto democrático brasileiro. A cultura foi palco simbólico do encontro de forças antagônicas. Reavaliar a produção do período é retornar às apostas de um momento em que a roleta ainda estava girando.
A mostra do Itaú Cultural resgata a diversidade de técnicas presentes ao debate. O público encontrará desde atividades de história em quadrinhos até uma instalação com tecidos da época.
Entretanto a contracultura é privilegiada. O módulo dedicado aos "Domingos de Criação", do MAM do Rio, é representativo da opção curatorial. Frederico Morais organizou atividades pedagógicas que libertavam a criação artística de materiais ou técnicas consagradas durante 1971, declarando que "a arte é um bem comum do cidadão".
O conjunto da arte contemporânea privilegia a produção conceitual. A interpretação da realidade nacional a partir de critérios internacionais, mesmo guardadas as diferenças, seleciona obras intelectualizadas dentre a pluralidade do período.
A sequência parte de 1968. A arte distancia-se do momento histórico e aspira à pura virtualidade na receita de Fajardo para a confecção de um cubo ilusório dentro de outro real, de acrílico: "Neutral". O milagre redimensiona o sentido aprisionador do cotidiano na caixa-maleta de Zílio. "Para um Jovem de Brilhante Futuro" reúne elementos autodestrutivos da classe média em 1973.
Tunga sintetiza a irracionalidade latente na classe intelectual afeita à arte contemporânea. Seres mistos derramam-se parede abaixo, fundindo materiais da civilização industrial globalizada para construir quimeras. Violência e repressão emergem de formas orgânicas. O contraste entre o sonho da mudança interna e a opressão de um mundo travado pela Guerra Fria cria medidas incongruentes. De um lado, a inutilidade da elegância de uma peça oblonga, destinada a ser engolida por um cone maciço, no "Objeto de Aço", de Waltércio Caldas. De outro, a escrita incompreensível dos signos de Antônio Dias: beleza muda em 1977.
As fraturas na imagem nacional são visíveis ao longo dos três andares da mostra, proporcionando uma reflexão variada a partir de 13 núcleos expositivos sintéticos.


Anos 70: Trajetórias
   
Onde: Itaú Cultural (av. Paulista, 149, São Paulo, tel. 0/xx/11/3268-1777)
Quando: de ter. a sex., das 10h às 20h; sáb. e dom., das 10h às 19h; até 13/2
Quanto: entrada franca



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