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ANOS 70: TRAJETÓRIAS
Mostra revisita fraturas da cultura
FELIPE CHAIMOVICH
CRÍTICO DA FOLHA
Os anos 70 assistiram às negociações do pacto democrático brasileiro. A cultura foi
palco simbólico do encontro de
forças antagônicas. Reavaliar a
produção do período é retornar
às apostas de um momento em
que a roleta ainda estava girando.
A mostra do Itaú Cultural resgata a diversidade de técnicas presentes ao debate. O público encontrará desde atividades de história em quadrinhos até uma instalação com tecidos da época.
Entretanto a contracultura é
privilegiada. O módulo dedicado
aos "Domingos de Criação", do
MAM do Rio, é representativo da
opção curatorial. Frederico Morais organizou atividades pedagógicas que libertavam a criação artística de materiais ou técnicas
consagradas durante 1971, declarando que "a arte é um bem comum do cidadão".
O conjunto da arte contemporânea privilegia a produção conceitual. A interpretação da realidade nacional a partir de critérios
internacionais, mesmo guardadas as diferenças, seleciona obras
intelectualizadas dentre a pluralidade do período.
A sequência parte de 1968. A arte distancia-se do momento histórico e aspira à pura virtualidade
na receita de Fajardo para a confecção de um cubo ilusório dentro
de outro real, de acrílico: "Neutral". O milagre redimensiona o
sentido aprisionador do cotidiano na caixa-maleta de Zílio. "Para
um Jovem de Brilhante Futuro"
reúne elementos autodestrutivos
da classe média em 1973.
Tunga sintetiza a irracionalidade latente na classe intelectual
afeita à arte contemporânea. Seres
mistos derramam-se parede abaixo, fundindo materiais da civilização industrial globalizada para
construir quimeras. Violência e
repressão emergem de formas orgânicas. O contraste entre o sonho da mudança interna e a
opressão de um mundo travado
pela Guerra Fria cria medidas incongruentes. De um lado, a inutilidade da elegância de uma peça
oblonga, destinada a ser engolida
por um cone maciço, no "Objeto
de Aço", de Waltércio Caldas. De
outro, a escrita incompreensível
dos signos de Antônio Dias: beleza muda em 1977.
As fraturas na imagem nacional
são visíveis ao longo dos três andares da mostra, proporcionando
uma reflexão variada a partir de
13 núcleos expositivos sintéticos.
Anos 70: Trajetórias
Onde: Itaú Cultural (av. Paulista, 149,
São Paulo, tel. 0/xx/11/3268-1777)
Quando: de ter. a sex., das 10h às 20h;
sáb. e dom., das 10h às 19h; até 13/2
Quanto: entrada franca
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