São Paulo, segunda-feira, 29 de novembro de 2004

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CRIAÇÃO VIRTUAL

Festival internacional da Red Gate Gallery (Pequim) conta com 76 integrantes, dos quais seis são do Brasil

Artistas brasileiros discutem arte e tecnologia na China

CLÁUDIA TREVISAN
DE PEQUIM

Artistas tridimensionais, interativos, computacionais, tecnológicos e afins estão reunidos desde anteontem em Pequim para discutir a relação entre arte e tecnologia e o impacto das novas invenções sobre a percepção humana.
Entre os 76 integrantes do grupo, há seis artistas brasileiros, que há anos exploram a interação entre inovação tecnológica e arte. Kátia Maciel, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, teve seu trabalho selecionado para a exposição de 10 dos 76 artistas que foi aberta anteontem na Red Gate Gallery, na capital chinesa.
Durante três dias, esses artistas e cientistas de áreas como biologia e nanotecnologia apresentarão seus trabalhos, discutirão seus conteúdos e tentarão avançar nessa cada vez mais íntima relação entre arte e tecnologia.
Mas um dos objetivos mais importantes dessa reflexão é averiguar como as inovações afetam a maneira de as pessoas perceberem, reconhecerem e sentirem o mundo exterior, afirma Roy Ascott, fundador e diretor do Planetary Collegium, nome da instituição que promove o encontro internacional de artistas computacionais ou tecnológicos.
O Planetary Collegium surgiu do Center for Advanced Inquiry in the Interactive Arts, que Ascott havia criado em 1997, na Universidade de Wales. Hoje, ele está na Universidade de Plymouth, também na Grã-Bretanha.
A conferência de Pequim é a sexta promovida por Ascott, todas com o título "Consciousness Reframed", algo como consciência reestruturada.
Ascott afirma que é crescente a participação de brasileiros nas conferências e exibições sobre esse tipo de arte e lembra que um dos eventos do grupo foi realizado no Itaú Cultural, há quatro anos.
A mesma instituição realiza a cada dois anos o seminário "emoção art.ficial", que tem como tema arte e tecnologia. "É impossível ir a um evento sobre arte digital atualmente sem encontrar brasileiros", diz Ascott.
O trabalho de Kátia Maciel que integra a exposição em Pequim é intitulado "Ginga Eletrônica" e é uma versão mais modesta de uma obra com mesmo título que ela apresentou neste ano em Porto Alegre, no Santander Cultural.
Projetado no piso da galeria, o trabalho tem imagens de lutadores de capoeira filmadas com uma câmera colocada na cabeça do outro lutador -a própria Kátia. O resultado é uma mudança na percepção de espaço e dos limites do movimento.
Malu Fragoso, da Universidade de Brasília, realiza pesquisas sobre arte na internet e afirma que toda a discussão na conferência é extremamente interdisciplinar e que as possibilidade de criação nesse terreno são inúmeras -arte computacional, criação de mundos em três dimensões, interatividade, sistemas de jogos etc.
O trabalho que ela apresentará é resultado de uma viagem de 20 mil quilômetros pelo Norte, Nordeste e centro do Brasil, durante a qual foram feitas cerca de 5.000 imagens. Chamado de tracaja-e.net, o projeto reuniu 666 dessas imagens na internet.
Tania Fraga, que acaba de se aposentar da Universidade de Brasília, apresentará obra que coloca tecnologias extremamente sofisticadas ao lado de outras rudimentares. Sua instalação reúne nanotecnologia e borracha produzida por pequenas comunidades da Amazônia.
Os outros brasileiros que participam da conferência em Pequim são da Universidade de São Paulo, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e Universidade Anhembi-Morumbi.


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