São Paulo, segunda-feira, 29 de novembro de 2004

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CINEMA

"O Diabo a Quatro", atração de hoje de festival, marca a estréia da diretora Alice de Andrade no formato longa

Brasília recebe novo microcosmo carioca

TEREZA NOVAES
ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA

Caldeirão da diversidade social, Copacabana cozinha os personagens de "O Diabo a Quatro", último filme exibido dentro da competição oficial do Festival de Brasília, hoje à noite.
É pelas ruas do bairro que se entrelaçam as vidas dos quatro protagonistas da comédia. "Copacabana é um espaço bastante restrito onde convivem pessoas radicalmente diferentes. É uma justaposição de mundos", diz a diretora Alice de Andrade, 39, premiada no festival em 1994 pelo curta "Dente por Dente".
"O Diabo a Quatro" é a estréia dela em longa-metragem. O filme é também a primeira aparição no cinema dos atores principais.
Maria Flor interpreta uma babá-prostituta; Marcelo Faria, um surfista maconheiro; Márcio Libar, um cafetão; e o garoto Netinho Alves, um menino de rua.
"Quis fazer um filme que visitasse esse mundo que procuramos esquecer. A idéia é mostrá-lo de dentro e sem preconceitos."
Apaixonada pelo vizinho de prédio, a jovem babá, que veio do Amazonas para trabalhar no Rio, passa a perseguir seu alvo até descobrir a preferência dele por prostitutas. Ela decide, então, mudar de ramo, e se torna a "rainha" de Copacabana. No meio das confusões, vira amiga do menino de rua, migrante como ela.
Ao redor do quarteto, transitam outros personagens em tramas paralelas. No total, aparecem em cena 70 atores. Ney Latorraca, Marília Gabriela, Evandro Mesquita e Ana Beatriz Nogueira fazem participações especiais.
Para tratar de temas "difíceis", como a migração, as crianças abandonadas e a prostituição, a diretora optou pelo humor.
"Nas pesquisas que fiz pelas ruas do bairro, descobri que a estratégia das pessoas é rir das desgraças a sua volta", conta.
Outro recurso é um tratamento não-realista que, segundo ela, mistura registros e tons nas imagens. Alice faz, no entanto, a ressalva de que os sentimentos dos personagens são "realistas".
"Há um desejo em todos eles de mudar de vida. É um filme sobre personagens que sonham com outra coisa, são pessoas que acham que deveriam desempenhar certos papéis sociais."

"Macunaíma"
Radicada na França há dez anos, onde trabalha na produção de documentários para a TV, Alice é filha do diretor Joaquim Pedro de Andrade (1932-1988).
No currículo, ela carrega várias assistências de direção, de seu pai e de outros diretores, como Ruy Guerra, Walter Lima Jr., Murilo Salles e André Téchiné.
A diretora participa ainda do processo, em curso, de restauro de todos os filmes de seu pai.
"Macunaíma", de 1969, já está pronto. Mas o clássico só deve ser visto por aqui em 2006, já que Alice e seus irmãos pretendem fazer o lançamento de toda a obra reunida, em mostras no cinema e em DVDs.


A jornalista Tereza Novaes viaja a convite da organização do evento


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