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CINEMA
"O Diabo a Quatro", atração de hoje de festival, marca a estréia da diretora Alice de Andrade no formato longa
Brasília recebe novo microcosmo carioca
TEREZA NOVAES
ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA
Caldeirão da diversidade social,
Copacabana cozinha os personagens de "O Diabo a Quatro", último filme exibido dentro da competição oficial do Festival de Brasília, hoje à noite.
É pelas ruas do bairro que se entrelaçam as vidas dos quatro protagonistas da comédia. "Copacabana é um espaço bastante restrito onde convivem pessoas radicalmente diferentes. É uma justaposição de mundos", diz a diretora Alice de Andrade, 39, premiada no festival em 1994 pelo curta
"Dente por Dente".
"O Diabo a Quatro" é a estréia
dela em longa-metragem. O filme
é também a primeira aparição no
cinema dos atores principais.
Maria Flor interpreta uma babá-prostituta; Marcelo Faria, um
surfista maconheiro; Márcio Libar, um cafetão; e o garoto Netinho Alves, um menino de rua.
"Quis fazer um filme que visitasse esse mundo que procuramos esquecer. A idéia é mostrá-lo
de dentro e sem preconceitos."
Apaixonada pelo vizinho de
prédio, a jovem babá, que veio do
Amazonas para trabalhar no Rio,
passa a perseguir seu alvo até descobrir a preferência dele por prostitutas. Ela decide, então, mudar
de ramo, e se torna a "rainha" de
Copacabana. No meio das confusões, vira amiga do menino de
rua, migrante como ela.
Ao redor do quarteto, transitam
outros personagens em tramas
paralelas. No total, aparecem em
cena 70 atores. Ney Latorraca,
Marília Gabriela, Evandro Mesquita e Ana Beatriz Nogueira fazem participações especiais.
Para tratar de temas "difíceis",
como a migração, as crianças
abandonadas e a prostituição, a
diretora optou pelo humor.
"Nas pesquisas que fiz pelas
ruas do bairro, descobri que a estratégia das pessoas é rir das desgraças a sua volta", conta.
Outro recurso é um tratamento
não-realista que, segundo ela,
mistura registros e tons nas imagens. Alice faz, no entanto, a ressalva de que os sentimentos dos
personagens são "realistas".
"Há um desejo em todos eles de
mudar de vida. É um filme sobre
personagens que sonham com
outra coisa, são pessoas que
acham que deveriam desempenhar certos papéis sociais."
"Macunaíma"
Radicada na França há dez
anos, onde trabalha na produção
de documentários para a TV, Alice é filha do diretor Joaquim Pedro de Andrade (1932-1988).
No currículo, ela carrega várias
assistências de direção, de seu pai
e de outros diretores, como Ruy
Guerra, Walter Lima Jr., Murilo
Salles e André Téchiné.
A diretora participa ainda do
processo, em curso, de restauro
de todos os filmes de seu pai.
"Macunaíma", de 1969, já está
pronto. Mas o clássico só deve ser
visto por aqui em 2006, já que Alice e seus irmãos pretendem fazer
o lançamento de toda a obra reunida, em mostras no cinema e em
DVDs.
A jornalista Tereza Novaes viaja a convite da organização do evento
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