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Mostras exibem vigor renovado do cinema italiano
Cine Bombril, Centro Cultural São Paulo e Iguatemi exibem filmes recentes, como "Mundo Novo", de Crialese
Ciclo com longas exibidos no Festival de Veneza segue para Rio e Brasília; Iguatemi Cinemark tem títulos de cineastas emergentes
PAULO SANTOS LIMA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A Itália, que mantinha uma
ilustre tradição nas artes, parecia atravessar certo deserto
criativo no cinema dos últimos
anos. O genial Nanni Moretti
era o nome solitário de um país
que já apresentou obras de
grandes autores, como Antonioni, Bellocchio ou Fellini.
Mas há pouco o quadro se reverteu, como comprovam duas
mostras que começam nesta
semana em São Paulo.
Uma delas, que vai até 4 de
dezembro no Cine Bombril e
Centro Cultural São Paulo São
Paulo, é "Venezia Cinema Italiano 2", apresentando longas
que passaram pelo Festival de
Veneza. A programação migra
depois para Brasília e Rio.
A outra, "2ª Semana de Cinema Contemporâneo Italiano",
começa na sexta e segue até o
dia 7 de dezembro, no Cinemark Iguatemi. Exibe longas
agraciados em festivais europeus e americanos.
Notável é que ambas tenham
o apoio de órgãos ligados ao governo italiano, como a embaixada do país e o Instituto Italiano de Cultura. Porque o sumo
que se extrai dos filmes selecionados é de uma contundência
ímpar sobre as questões pelas
quais o país atravessa. Uma delas é a imigração, tema polêmico e central na gestão Silvio
Berlusconi, encerrada neste
ano. Há, neste caso, o belíssimo
"Lettere dal Saara" (Cartas do
Saara), de Vittorio De Seta, que
foi exibido na 30ª Mostra Internacional de Cinema de SP.
Um imigrante senegalês experimenta uma Itália tão brutal
quanto poética, algo traduzido
em imagens que registram, em
estilo documental, a desventura do homem, ao mesmo tempo
que traz alguns belos planos.
"Mundo Novo"
Outro longa sobre a imigração é o que está disputando
uma vaga no Oscar de melhor
filme estrangeiro, "Nuovomondo" ("Mundo Novo", como deverá se chamar aqui, quando
estrear em circuito, em 2007).
Seu diretor, Emanuele Crialese, faz quase uma obra-prima
que começa remetendo aos filmes dos irmãos Taviani, mostrando seres em seu meio, uma
Sicília arcaica mas também idílica. Logo depois, haverá um
oceano selvagem que eles atravessarão para chegar ao destino, o falso eldorado dos EUA.
Há, por outro lado, "Il Feroce
Saladino", de Mario Bonnard,
"teatro filmado" de 1934, tão
quadrado que parece dirigido
pelo conservador Berlusconi,
mas cuja virtude é o belíssimo
trabalho de restauração da
Fondazione Cineteca Italiana.
Visão mais aguda está, na
média, em todos os filmes da
mostra no Cinemark. "Romanzo Criminale", de Michele Placido, é grande exemplo de um
cinema italiano que dialoga
com a cinematografia "indie"
americana. Produção que pega
emprestado algo de Tarantino
e Soderbergh, fala sobre impetuosos gângsteres que ascendem ao poder em Roma. Os criminosos estão também na polícia e na política pré-queda do
Muro de Berlim. O final prenuncia uma interessante distopia sobre o mundo atual.
Um tom existencialmente
amargo está nos outros filmes,
como "La Terra", de Sergio Rubini, e "Texas", de Fausto Paravidino, que ganhou prêmio de
filme mais inovador no Festival
de Veneza. Se a era Berlusconi
parece ter freado os ânimos
criativos do país, o cinema italiano ressurge agora, potente,
como resposta ao ex-premiê.
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