São Paulo, quarta-feira, 29 de novembro de 2006

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Mostras exibem vigor renovado do cinema italiano

Cine Bombril, Centro Cultural São Paulo e Iguatemi exibem filmes recentes, como "Mundo Novo", de Crialese

Ciclo com longas exibidos no Festival de Veneza segue para Rio e Brasília; Iguatemi Cinemark tem títulos de cineastas emergentes


PAULO SANTOS LIMA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A Itália, que mantinha uma ilustre tradição nas artes, parecia atravessar certo deserto criativo no cinema dos últimos anos. O genial Nanni Moretti era o nome solitário de um país que já apresentou obras de grandes autores, como Antonioni, Bellocchio ou Fellini. Mas há pouco o quadro se reverteu, como comprovam duas mostras que começam nesta semana em São Paulo.
Uma delas, que vai até 4 de dezembro no Cine Bombril e Centro Cultural São Paulo São Paulo, é "Venezia Cinema Italiano 2", apresentando longas que passaram pelo Festival de Veneza. A programação migra depois para Brasília e Rio.
A outra, "2ª Semana de Cinema Contemporâneo Italiano", começa na sexta e segue até o dia 7 de dezembro, no Cinemark Iguatemi. Exibe longas agraciados em festivais europeus e americanos.
Notável é que ambas tenham o apoio de órgãos ligados ao governo italiano, como a embaixada do país e o Instituto Italiano de Cultura. Porque o sumo que se extrai dos filmes selecionados é de uma contundência ímpar sobre as questões pelas quais o país atravessa. Uma delas é a imigração, tema polêmico e central na gestão Silvio Berlusconi, encerrada neste ano. Há, neste caso, o belíssimo "Lettere dal Saara" (Cartas do Saara), de Vittorio De Seta, que foi exibido na 30ª Mostra Internacional de Cinema de SP.
Um imigrante senegalês experimenta uma Itália tão brutal quanto poética, algo traduzido em imagens que registram, em estilo documental, a desventura do homem, ao mesmo tempo que traz alguns belos planos.

"Mundo Novo"
Outro longa sobre a imigração é o que está disputando uma vaga no Oscar de melhor filme estrangeiro, "Nuovomondo" ("Mundo Novo", como deverá se chamar aqui, quando estrear em circuito, em 2007).
Seu diretor, Emanuele Crialese, faz quase uma obra-prima que começa remetendo aos filmes dos irmãos Taviani, mostrando seres em seu meio, uma Sicília arcaica mas também idílica. Logo depois, haverá um oceano selvagem que eles atravessarão para chegar ao destino, o falso eldorado dos EUA.
Há, por outro lado, "Il Feroce Saladino", de Mario Bonnard, "teatro filmado" de 1934, tão quadrado que parece dirigido pelo conservador Berlusconi, mas cuja virtude é o belíssimo trabalho de restauração da Fondazione Cineteca Italiana.
Visão mais aguda está, na média, em todos os filmes da mostra no Cinemark. "Romanzo Criminale", de Michele Placido, é grande exemplo de um cinema italiano que dialoga com a cinematografia "indie" americana. Produção que pega emprestado algo de Tarantino e Soderbergh, fala sobre impetuosos gângsteres que ascendem ao poder em Roma. Os criminosos estão também na polícia e na política pré-queda do Muro de Berlim. O final prenuncia uma interessante distopia sobre o mundo atual.
Um tom existencialmente amargo está nos outros filmes, como "La Terra", de Sergio Rubini, e "Texas", de Fausto Paravidino, que ganhou prêmio de filme mais inovador no Festival de Veneza. Se a era Berlusconi parece ter freado os ânimos criativos do país, o cinema italiano ressurge agora, potente, como resposta ao ex-premiê.


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