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Imagens perpetuam o mito de Lampião
Exposição "Cangaceiros", no MIS-SP, reúne 86 fotografias que atestam a história do rei do cangaço
EDER CHIODETTO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Misto de bandido sanguinário e anti-herói nacional, Virgolino Ferreira da Silva, o Lampião (1898-1938), é personagem dos mais instigantes que a
história do Brasil produziu. Em
"Cangaceiros", que começa hoje no MIS-SP, a saga do rei do
cangaço e seu bando surge em
86 fotografias que atestam a
existência de uma história que,
sem elas, teria se tornado mera
fábula de literatura de cordel.
A mostra será aberta com um
debate, às 19h30, com Expedita
Ferreira Nunes, filha de Lampião e Maria Bonita. Até domingo, serão exibidos seis filmes sobre o tema. Estarão à
mostra ainda objetos como 20
punhais e duas pistolas de
Lampião, além de jóias e uma
roupa de Maria Bonita. Das 86
imagens, 57 foram produzidas
pelo mascate libanês Benjamin
Abrahão, mítico personagem
que chegou ao Brasil em 1915 e
logo se tornou secretário de padre Cícero, em Juazeiro (CE).
Em 1926, um convite tira o
bando de Lampião da ilegalidade por um tempo. Com o governo querendo exterminar a Coluna Prestes (movimento político-militar de esquerda liderado por Luís Carlos Prestes),
Virgolino é chamado a integrar
os Batalhões Patrióticos. De
bandido, vira herói nacional.
Nessa época, Lampião vai a
Juazeiro. É recebido com
honrarias por padre Cícero e
conhece Abrahão. A amizade
leva Lampião, dez anos depois,
a autorizar o mascate a fazer
uma reportagem escrita, fotografada e filmada sobre o bando. Esses registros chegam ao
MIS ao mesmo tempo em que
estão em exibição em Paris.
Nos dois eventos, será lançado
o livro "Cangaceiros", da historiadora francesa Élise Jasmin.
Quase a totalidade das fotografias mostra os cangaceiros
posando para a câmera. Não há
imagens de ação. Abrahão vendia com sucesso essas imagens
exclusivas a jornais e revistas.
Em 1937, com o Estado Novo,
recrudesce o cerco ao bando de
Lampião. As fotografias de
Abrahão publicadas na imprensa soavam como um desafio. Surgem as volantes, milícias armadas para combater o
cangaço. Várias fotos mostram
essas milícias posando exatamente igual ao bando de Lampião. Antes do confronto armado, a guerra aconteceu na representação fotográfica.
A mostra termina com imagens de cangaceiros decapitados, exibidos como troféus.
Uma delas, de autor desconhecido, mostra Lampião, Maria
Bonita e nove cangaceiros com
cabeças expostas numa macabra prateleira. Imagem que
atesta a morte do homem e perpetua definitivamente o mito.
CANGACEIROS
Quando: hoje (abertura), às 19h30; de
ter. a dom., das 10h às 18h. Até 4/3
Onde: MIS (av. Europa, 158, tel.: 0/xx/11/3062-9197
Quanto: R$ 3
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