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LIVROS
Isay Weinfeld reafirma o moderno para comover
Arquiteto lança livro de projetos residenciais que refutam "arquitetura Disney"
Edição reúne 15 plantas detalhadas de casas feitas pelo arquiteto, mostrando reverência ao modernismo numa era de megaprojetos
SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL
Poucos projetos arquitetônicos do século 21 conseguem
"mover um cílio" de Isay Weinfeld. Menos ainda o "levam às
lágrimas". E isso é importante
para quem faz prédios como se
escrevesse roteiros de cinema.
"Um professor me ensinou
que o importante num texto
era o começo e o fim, a primeira
e a última linha", lembra Weinfeld em entrevista à Folha. "E
isso eu levei para a arquitetura,
do primeiro impacto ao abrir a
porta à forma como o "espectador" é conduzido pelo espaço."
É o que fica claro no livro que
leva seu nome lançado hoje em
São Paulo, um grande volume,
desses feitos para ficar na mesa
de centro, com 15 de seus maiores projetos residenciais.
No lugar das torres dramáticas, esferas e arroubos orgânicos que dominam projetos badalados mundo afora, nada
emociona mais este arquiteto
do que uma grande caixa de ângulos retos, que abre de fora a
fora para revelar um amplo jardim -preceito de Le Corbusier
e do modernismo, estilo que
Weinfeld, em vez de aposentar,
faz questão de repetir, mesmo
dizendo que é sem querer.
"Eu prefiro o modernismo
hoje a essa arquitetura que está
sendo feita fora do país, muito
mega, muito Disney, muito Epcot Center", afirma ele, que
projetou a Livraria da Vila da
alameda Lorena, em São Paulo,
o restaurante Fasano e a área
interna da boate Disco. "Eu vejo obras de agora e nenhum cílio meu se move. Prefiro fazer
coisas que me emocionem, que
me levem às lágrimas; não me
preocupo se o modernismo
acabou ou não."
Mas se depender dele, não
acabou. Construída na capital
federal, a casa Brasília, com
quase metade do segundo andar em balanço -como se flutuasse sobre o jardim- e uma
varanda sustentada por pilotis,
além de vastas plantas abertas
nos dois pisos, de horizontalidade exacerbada, podia muito
bem ter surgido nos dias de glória do estilo internacional.
A casa Pau-Ferro, no Jardim
Paulistano, privilegia as áreas
de convivência, deixando boa
parte de seus 814 m2 livres de
obstáculos. Em todas as residências que projeta, e também
em desenhos para endereços
comerciais, Weinfeld lança
mão de outro artifício modernista: o jardim que parece invadir as áreas internas, numa fusão do edifício com o entorno.
"Quando alguém tem um
terreno numa cidade como São
Paulo, quer privilegiar o contato com o pouco jardim que
tem", opina Weinfeld, sentado
à mesa de seu escritório, um
pequeno prédio que, mesmo
encravado numa rua do Itaim
Bibi, tem metade de sua área
reservada para um jardim no
térreo. "Eu procuro enfatizar
esse contato com o verde de
forma contundente."
Não por acaso, num dos poucos projetos que fez para o
mercado das incorporadoras,
Weinfeld confessa que exagerou. No prédio chamado 360º,
ainda em construção na zona
oeste de São Paulo, projetou
apartamentos que se dividem
meio a meio entre área interna
e externa. "O terraço é fundamental, e eu exagero nisso."
Gato por lebre
Esse exagero virou arma de
Weinfeld no combate à proliferação do neoclássico nas cidades brasileiras. "Eu abomino isso, acho que está tudo errado",
afirma. "Quando construtores
dizem que é isso que vende, me
fazem subir o sangue à cabeça,
porque não existe oferta do
contrário para saber se outras
coisas vendem ou não."
É talvez por isso, pela crença
no neoclássico como garantia
de vendas, que Weinfeld recusa
quase todos os projetos para
grandes incorporadoras. "As
plantas hoje são vergonhosas",
afirma. "As pessoas não sabem
o que é arquitetura e acabam
comprando gato por lebre."
ISAY WEINFELD
Autor: Raul A. Barreneche
Tradução: Daniela Sandler
Editora: Bei
Quanto: R$ 160 (336 págs.)
Lançamento: hoje, às 11h, na Livraria da Vila, no shopping Cidade Jardim (av. Magalhães de Castro,
1.200, tel. 0/xx/11/3755-5811)
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