São Paulo, segunda-feira, 29 de novembro de 2010

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Apartamentos viram palco para teatro

Projeto da 11ª Satyrianas montou roteiro de leituras dramáticas em residências do entorno da praça Roosevelt

Iniciativa chamou a atenção da imprensa, mas arrecadou pouco público e se perdeu em ambiente dispersivo

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A fila começa a se formar, na noite de sexta-feira, diante da portaria de um edifício da praça Roosevelt.
Cerca de 20 pessoas esperam para subir ao 11º andar, onde assistirão à leitura dramática do texto de um dos alunos de dramaturgia da SP Escola de Teatro.
A peça se chama "Hoje Vou me Dedicar aos Idiotas", de Daniel Graziane.
A apresentação faz parte de um projeto de leituras dramáticas nas casas de moradores da região, incluído na programação das Satyrianas. É mais uma forma de integração do teatro com a rua.
O apartamento é enorme. Está desabitado, em obras, sem luz. O proprietário diz que é francês e que acaba de chegar ao Brasil. Tudo em perfeito português. Há uma quantidade de câmeras, luzes e microfones. Vieram com as equipes de TV, de produção do evento e de assessoria de imprensa.
Sete atores e o autor começam a ler. O texto trata de um menino, de uma galinha, de um pai fanático por jazz, das Torres Gêmeas e do 11 de Setembro. Parece interessante.
Os atores e o autor leem praticamente no escuro, com o "skyline" de São Paulo ao fundo e gente batendo na porta. Leituras dramáticas costumam ser difíceis por si só, quanto mais em condições dispersivas.
Quando os jornalistas e as equipes de TV vão embora, no meio da leitura, fica claro que de espectadores há apenas três desde o início. São os que restam, além de uma ou outra pessoa da produção e do dono do apartamento.

TEATRO NO COPAN
Duas horas depois, mais 20 pessoas sobem ao bloco D do Copan para outra leitura: "Histerectomia", de Aninha Terra, também aluna da SP Escola de Teatro. O texto fala de Lilith e Adão.
Dessa vez, o apartamento está habitado e pertence a um casal que trabalha com os Satyros. Há rotatividade de papéis e funções na praça Roosevelt. O ator de uma peça pode ser produtor de outra, bilheteiro, anfitrião de leituras e público.
Em outro esforço de integração com a rua, a companhia Teatro Enlatado botou o seu "Drive-Thru" na calçada. É a realização do pesadelo de todo fóbico teatral: uma cabine fechada onde, por cinco minutos, você pode ouvir, cara a cara, olhos nos olhos, o ator num monólogo. Só para você.
(BERNARDO CARVALHO)


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