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Apartamentos viram palco para teatro
Projeto da 11ª Satyrianas montou roteiro de leituras dramáticas em residências do entorno da praça Roosevelt
Iniciativa chamou a atenção da imprensa, mas arrecadou pouco público e se perdeu em ambiente dispersivo
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A fila começa a se formar,
na noite de sexta-feira, diante da portaria de um edifício
da praça Roosevelt.
Cerca de 20 pessoas esperam para subir ao 11º andar,
onde assistirão à leitura dramática do texto de um dos
alunos de dramaturgia da SP
Escola de Teatro.
A peça se chama "Hoje
Vou me Dedicar aos Idiotas",
de Daniel Graziane.
A apresentação faz parte
de um projeto de leituras dramáticas nas casas de moradores da região, incluído na
programação das Satyrianas.
É mais uma forma de integração do teatro com a rua.
O apartamento é enorme.
Está desabitado, em obras,
sem luz. O proprietário diz
que é francês e que acaba de
chegar ao Brasil. Tudo em
perfeito português. Há uma
quantidade de câmeras, luzes e microfones. Vieram
com as equipes de TV, de
produção do evento e de assessoria de imprensa.
Sete atores e o autor começam a ler. O texto trata de um
menino, de uma galinha, de
um pai fanático por jazz, das
Torres Gêmeas e do 11 de Setembro. Parece interessante.
Os atores e o autor leem
praticamente no escuro, com
o "skyline" de São Paulo ao
fundo e gente batendo na
porta. Leituras dramáticas
costumam ser difíceis por si
só, quanto mais em condições dispersivas.
Quando os jornalistas e as
equipes de TV vão embora,
no meio da leitura, fica claro
que de espectadores há apenas três desde o início. São os
que restam, além de uma ou
outra pessoa da produção e
do dono do apartamento.
TEATRO NO COPAN
Duas horas depois, mais
20 pessoas sobem ao bloco D
do Copan para outra leitura:
"Histerectomia", de Aninha
Terra, também aluna da SP
Escola de Teatro. O texto fala
de Lilith e Adão.
Dessa vez, o apartamento
está habitado e pertence a
um casal que trabalha com
os Satyros. Há rotatividade
de papéis e funções na praça
Roosevelt. O ator de uma peça pode ser produtor de outra, bilheteiro, anfitrião de
leituras e público.
Em outro esforço de integração com a rua, a companhia Teatro Enlatado botou o
seu "Drive-Thru" na calçada.
É a realização do pesadelo de
todo fóbico teatral: uma cabine fechada onde, por cinco
minutos, você pode ouvir,
cara a cara, olhos nos olhos,
o ator num monólogo. Só para você.
(BERNARDO CARVALHO)
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