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Viagens de d. Pedro 2º viram exposição
Diários do imperador contêm documentos inéditos em livro e registram a evolução tecnológica no século 19
Relatos cobrem 50 anos de expedições por Brasil e outros continentes; nos EUA, monarca se encantou pelo telefone
MARCELO BORTOLOTI
DO RIO
Os documentos relativos
às viagens feitas pelo imperador d. Pedro 2º (1825-1891) receberão, nesta quarta, o título de Memória do Mundo da
Unesco, em âmbito nacional.
O registro valoriza o interesse e ajuda a dar integridade a um conjunto de 871 itens
que estavam dispersos no arquivo do Museu Imperial, em
Petrópolis, e agora serão objeto de uma exposição e pelo
menos duas publicações.
São diários do monarca e
da condessa de Barral -quatro deles inéditos em livro-,
67 desenhos feitos por d. Pedro 2º retratando paisagens,
animais e tipos físicos, roteiros de viagem, relatórios de
despesa, correspondência e
artigos de jornais estrangeiros noticiando as visitas.
A documentação cobre
cinco décadas de viagens do
imperador, e seu interesse
vai além das questões de diplomacia ou de curiosidades
sobre a Família Real.
Em anotações e desenhos,
d. Pedro 2º registrou a diversidade cultural e a evolução
tecnológica da segunda metade do século 19 no Brasil e
em diversos países.
"Ainda que ele não tivesse
intenção antropológica, deixou, como os viajantes do século 19, relatos com minúcias que nos dão uma visão
de como era a sociedade e o
pensamento da época", diz a
responsável pelo arquivo
histórico do Museu Imperial,
Neibe Machado da Costa.
O monarca viajava menos
como chefe de Estado do que
como intelectual instigado
por novas culturas e descobertas científicas. Visitava aldeias indígenas, escavações
arqueológicas, fábricas com
tecnologia moderna e observatórios astronômicos.
Além do Brasil, fez três
grandes viagens ao exterior.
Percorreu países da Europa e
da Ásia e o norte da África,
passou pelo Canadá e atravessou os Estados Unidos.
Em 1876, visitando o Egito,
registrou: "Penso ter decifrado os hieróglifos da entrada
da gruta não acabada e o nome de Xnumhotep. (...) Chamaram-me a atenção os
pombais sobre as casas com
a aparência de pequenas fortalezas ameadas. Os pombos
são mais numerosos e mais
gordos aqui, no Alto Egito".
O interesse científico também transparece nas anotações, que permitem ver o impacto das novas tecnologias
num século marcado pelo
Iluminismo. "Expuseram um
grande refrigerador com um
grande peixe dentro que se
pode aí conservar tempo indefinido renovando-se o gelo", escreveu, em 1876, ao visitar a Exposição Universal
da Filadélfia, nos EUA.
Foi lá também que conheceu o mecanismo de "transmissão dos sons pelo fio elétrico", projetado por Graham
Bell. Ficou tão entusiasmado
com o aparelho que encomendou um para seu palácio, fazendo do Brasil o segundo país do mundo a ter
uma linha de telefone.
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