São Paulo, segunda-feira, 29 de novembro de 2010

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Viagens de d. Pedro 2º viram exposição

Diários do imperador contêm documentos inéditos em livro e registram a evolução tecnológica no século 19

Relatos cobrem 50 anos de expedições por Brasil e outros continentes; nos EUA, monarca se encantou pelo telefone

MARCELO BORTOLOTI
DO RIO

Os documentos relativos às viagens feitas pelo imperador d. Pedro 2º (1825-1891) receberão, nesta quarta, o título de Memória do Mundo da Unesco, em âmbito nacional.
O registro valoriza o interesse e ajuda a dar integridade a um conjunto de 871 itens que estavam dispersos no arquivo do Museu Imperial, em Petrópolis, e agora serão objeto de uma exposição e pelo menos duas publicações.
São diários do monarca e da condessa de Barral -quatro deles inéditos em livro-, 67 desenhos feitos por d. Pedro 2º retratando paisagens, animais e tipos físicos, roteiros de viagem, relatórios de despesa, correspondência e artigos de jornais estrangeiros noticiando as visitas.
A documentação cobre cinco décadas de viagens do imperador, e seu interesse vai além das questões de diplomacia ou de curiosidades sobre a Família Real.
Em anotações e desenhos, d. Pedro 2º registrou a diversidade cultural e a evolução tecnológica da segunda metade do século 19 no Brasil e em diversos países.
"Ainda que ele não tivesse intenção antropológica, deixou, como os viajantes do século 19, relatos com minúcias que nos dão uma visão de como era a sociedade e o pensamento da época", diz a responsável pelo arquivo histórico do Museu Imperial, Neibe Machado da Costa.
O monarca viajava menos como chefe de Estado do que como intelectual instigado por novas culturas e descobertas científicas. Visitava aldeias indígenas, escavações arqueológicas, fábricas com tecnologia moderna e observatórios astronômicos.
Além do Brasil, fez três grandes viagens ao exterior. Percorreu países da Europa e da Ásia e o norte da África, passou pelo Canadá e atravessou os Estados Unidos.
Em 1876, visitando o Egito, registrou: "Penso ter decifrado os hieróglifos da entrada da gruta não acabada e o nome de Xnumhotep. (...) Chamaram-me a atenção os pombais sobre as casas com a aparência de pequenas fortalezas ameadas. Os pombos são mais numerosos e mais gordos aqui, no Alto Egito".
O interesse científico também transparece nas anotações, que permitem ver o impacto das novas tecnologias num século marcado pelo Iluminismo. "Expuseram um grande refrigerador com um grande peixe dentro que se pode aí conservar tempo indefinido renovando-se o gelo", escreveu, em 1876, ao visitar a Exposição Universal da Filadélfia, nos EUA.
Foi lá também que conheceu o mecanismo de "transmissão dos sons pelo fio elétrico", projetado por Graham Bell. Ficou tão entusiasmado com o aparelho que encomendou um para seu palácio, fazendo do Brasil o segundo país do mundo a ter uma linha de telefone.


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