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MÚSICA
Quarteto paulistano convida cantora-modelo para os vocais de seu terceiro álbum, "Carniça", "opereta" sobre o submundo
Pullovers e Geanine Marques reúnem rock e moda
BRUNO YUTAKA SAITO
DA REDAÇÃO
Uma vida dupla sempre fascinou Luiz Venâncio. Ele tem 28
anos e uma banda de rock alternativo chamada Pullovers. Nesse
meio, ficou conhecido por canções sobre paixões adolescentes.
Rapaz tranqüilo, portanto.
Mas esse cantor e guitarrista,
que gosta de Sonic Youth e Teenage Fanclub, não gosta da vida regrada. Tem tanto fascínio pela
marginália que foi morar em um
apartamento perto da parte baixa
da rua Augusta (centro de São
Paulo). Prefere o ambiente de esquinas sujas, churrasquinhos baratos e prostitutas aos montes.
As paradas de sucesso não o interessam. Tanto que nunca fez
muito esforço para que o grupo,
surgido em São Paulo em 1999,
extrapolasse o circuito alternativo. Cantam em inglês, por exemplo, o que de cara já afugenta o interesse de grandes gravadoras.
Entre uma noite e outra em
branco e uma trilha sonora de buzinas de carros, Venâncio viu que
queria mostrar um lado menos
florido de sua vida. Começou aí a
criar o terceiro CD do quarteto,
não por acaso intitulado "Carniça", álbum independente. "Apesar da aparência fofa, somos devassos. Essas novas músicas têm a
ver com o universo da noite: uma
é sobre uma traveca, outra, sobre
traficantes de drogas etc. Começou a virar uma espécie de opereta. Vi que precisava de uma vocalista, para fazer um disco com clima de cabaré", diz Venâncio.
Foi numa dessas incursões pelos inferninhos da região que encontrou sua musa. No clube A Lôca, conheceu outro ser noturno
que também transita entre dois
mundos: Geanine Marques, 32.
Para o grande público, ela é a
modelo predileta de Alexandre
Herchcovitch e figura certa nos
principais desfiles da cidade. Há
dez anos, ela também canta. Mas
a equação é inversa. "Sou muito
mais cantora do que modelo", diz
Marques. Ela não exagera. Afinal,
saiu de Curitiba para viver em São
Paulo há uma década, quando
tentou a carreira musical com seu
então conjunto de dance, Les Stop
Betty. A moda surgiu por acaso.
O encontro com Venâncio e seu
Pullovers era apenas uma questão
de tempo, se for levada em conta a
quantidade de passarelas musicais já desfiladas pela cantora-modelo. Inicialmente, em "Carniça", Marques deveria cantar apenas algumas músicas. O resultado
agradou tanto à banda que ela dominou o microfone em mais da
metade das 23 faixas do álbum.
Mas, para quem acompanha a
carreira musical de Geanine, seu
poder vocal não é surpresa. Sua
"ficha corrida" ocupa espaço. Vai
aqui um breve resumo. Entre 1993
e 95, integrou os eletrônicos Les
Stops Betty e o Rex; de 200 para
cá, transitou ainda entre o hip
hop, a música brasileira, os anos
50 e o jazz, em boas parcerias com
Mamelo Sound System, Mad Zoo,
George Freire e o Grenade, entre
outros. "Minha cabeça não tem
muitas divisões", resume. "Não
fico pensando nas diferenças entre a moda e o rock, entre um estilo de música e outro. Pode ser tudo ao mesmo tempo."
Nem Venâncio nem Marques
sabem se a parceria vai durar após
os shows de divulgação do disco.
Ele garante que chamar uma modelo para sua banda não é um golpe publicitário. "Se vier mais gente para os shows, beleza. Se não,
beleza também", diz Venâncio.
"Fazer sucesso nesse meio alternativo, indie, é meio malvisto. Entre esse povo impera a "fracassomania", quem faz sucesso é visto
com maus olhos. Por isso, não
gostamos do termo "indie"."
CARNIÇA. Artista: Pullovers & Geanine
Marques. Independente (contato:
pullovers@hotmail.com); distribuição:
Tratore. Quanto: R$ 20, em média.
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