São Paulo, quarta-feira, 29 de dezembro de 2004

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MÚSICA

Quarteto paulistano convida cantora-modelo para os vocais de seu terceiro álbum, "Carniça", "opereta" sobre o submundo

Pullovers e Geanine Marques reúnem rock e moda

BRUNO YUTAKA SAITO
DA REDAÇÃO

Uma vida dupla sempre fascinou Luiz Venâncio. Ele tem 28 anos e uma banda de rock alternativo chamada Pullovers. Nesse meio, ficou conhecido por canções sobre paixões adolescentes. Rapaz tranqüilo, portanto.
Mas esse cantor e guitarrista, que gosta de Sonic Youth e Teenage Fanclub, não gosta da vida regrada. Tem tanto fascínio pela marginália que foi morar em um apartamento perto da parte baixa da rua Augusta (centro de São Paulo). Prefere o ambiente de esquinas sujas, churrasquinhos baratos e prostitutas aos montes.
As paradas de sucesso não o interessam. Tanto que nunca fez muito esforço para que o grupo, surgido em São Paulo em 1999, extrapolasse o circuito alternativo. Cantam em inglês, por exemplo, o que de cara já afugenta o interesse de grandes gravadoras.
Entre uma noite e outra em branco e uma trilha sonora de buzinas de carros, Venâncio viu que queria mostrar um lado menos florido de sua vida. Começou aí a criar o terceiro CD do quarteto, não por acaso intitulado "Carniça", álbum independente. "Apesar da aparência fofa, somos devassos. Essas novas músicas têm a ver com o universo da noite: uma é sobre uma traveca, outra, sobre traficantes de drogas etc. Começou a virar uma espécie de opereta. Vi que precisava de uma vocalista, para fazer um disco com clima de cabaré", diz Venâncio.
Foi numa dessas incursões pelos inferninhos da região que encontrou sua musa. No clube A Lôca, conheceu outro ser noturno que também transita entre dois mundos: Geanine Marques, 32.
Para o grande público, ela é a modelo predileta de Alexandre Herchcovitch e figura certa nos principais desfiles da cidade. Há dez anos, ela também canta. Mas a equação é inversa. "Sou muito mais cantora do que modelo", diz Marques. Ela não exagera. Afinal, saiu de Curitiba para viver em São Paulo há uma década, quando tentou a carreira musical com seu então conjunto de dance, Les Stop Betty. A moda surgiu por acaso.
O encontro com Venâncio e seu Pullovers era apenas uma questão de tempo, se for levada em conta a quantidade de passarelas musicais já desfiladas pela cantora-modelo. Inicialmente, em "Carniça", Marques deveria cantar apenas algumas músicas. O resultado agradou tanto à banda que ela dominou o microfone em mais da metade das 23 faixas do álbum.
Mas, para quem acompanha a carreira musical de Geanine, seu poder vocal não é surpresa. Sua "ficha corrida" ocupa espaço. Vai aqui um breve resumo. Entre 1993 e 95, integrou os eletrônicos Les Stops Betty e o Rex; de 200 para cá, transitou ainda entre o hip hop, a música brasileira, os anos 50 e o jazz, em boas parcerias com Mamelo Sound System, Mad Zoo, George Freire e o Grenade, entre outros. "Minha cabeça não tem muitas divisões", resume. "Não fico pensando nas diferenças entre a moda e o rock, entre um estilo de música e outro. Pode ser tudo ao mesmo tempo."
Nem Venâncio nem Marques sabem se a parceria vai durar após os shows de divulgação do disco. Ele garante que chamar uma modelo para sua banda não é um golpe publicitário. "Se vier mais gente para os shows, beleza. Se não, beleza também", diz Venâncio. "Fazer sucesso nesse meio alternativo, indie, é meio malvisto. Entre esse povo impera a "fracassomania", quem faz sucesso é visto com maus olhos. Por isso, não gostamos do termo "indie"."


CARNIÇA. Artista: Pullovers & Geanine Marques. Independente (contato: pullovers@hotmail.com); distribuição: Tratore. Quanto: R$ 20, em média.


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