Apresentação será transmitida para 14 países europeus; TV Cultura exibe concerto no Brasil nesta quarta

IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A Osesp está trocando o descanso de final de ano por exposição internacional. Normalmente de férias neste período, a orquestra faz, amanhã e depois, dois concertos de Ano Novo, transmitidos pela televisão.
Com programas idênticos, as apresentações são abertas ao público, mas já com ingressos esgotados. O concerto de amanhã será gravado pela TV franco-alemã Arte, enquanto o do dia seguinte será transmitido para 14 países europeus pela mesma emissora -e, para o Brasil, pela TV Cultura.
Concertos de Ano Novo são tradicionais na Europa -a Filarmônica de Berlim fecha 2008 com um programa que inclui música de George Gershwin, sob a regência de Simon Rattle, enquanto a Filarmônica de Viena toca obras de Johann Strauss 2º, sob a batuta de Daniel Barenboim.
A novidade é que os europeus parecem estar se interessando pela música latina. Em 2006, a Arte transmitiu (e transformou em DVD) uma apresentação de Daniel Barenboim, regendo tango em Buenos Aires, enquanto, no ano passado, o astro foi a batuta-prodígio do venezuelano Gustavo Dudamel, 27.
Com a participação do Coro da Osesp, o concerto vai ter obras que a orquestra lançou no mercado fonográfico internacional, como os "Choros n. 10", de Villa-Lobos, e trechos do "Maracatu do Chico-Rei", de Francisco Mignone.
"Pensamos em um programa eclético, para um público maior, que estará em festa, em casa", explica o maestro John Neschling, regente e idealizador do concerto. "Às 21h, quando for meia-noite na Europa, vamos fazer uma saudação de Ano-Novo em três línguas."
Os vizinhos do rio da Prata estão representados pelo "Inverno Portenho", de Piazzolla, e pelo "Malambo", do bailado "Estância", de Ginastera. A Banda Mantiqueira é convidada, tocando itens de seus discos com a Osesp, como "Linha de Passe" e "Baião de Lacan". A cantora Mônica Salmaso interpreta, com a orquestra e banda, "Chiclete com Banana", "Conversa de Botequim" e "Aquarela do Brasil".
"Já faz muitos anos que ouvi pela primeira vez a Mantiqueira, uma banda extraordinária, que tem o [clarinetista e saxofonista] Proveta, esse músico ímpar brasileiro", diz Ne- schling, que a levou em uma excursão da Osesp aos EUA.
"Eu nunca tive preconceito com música popular", afirma o maestro. "Na verdade, acho que existe música de dois tipos: música boa e música ruim."
Independentemente do repertório, deve haver boa parcela do público europeu curiosa para ouvir a Osesp. Na edição deste mês da britânica "Gramophone" -uma das principais publicações especializadas em música clássica do planeta-, a orquestra foi mencionada (ao lado da Filarmônica da China e da Royal Liverpool Philharmonic) como "Up-and-Coming" (subindo e chegando) em matéria sobre as melhores orquestras do mundo.