São Paulo, sexta-feira, 30 de janeiro de 2004

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MÚSICA

ELETRÔNICA

Em duas únicas apresentações no Brasil, o DJ Kevin Saunderson mostra hoje no Lov.e suas "raízes de Detroit"

Tecno de Saunderson retorna nostálgico

THIAGO NEY
DA REDAÇÃO

Kevin Saunderson não é saudosista, mas lembra com carinho de épocas passadas. Nada mais justo, afinal este produtor musical realmente criou todo um gênero musical: o tecno. Isso foi em 1985, em sua cidade natal, Detroit.
"Naquela época havia pouca tecnologia para criar música. Hoje há laptops, softwares, Pro Tools, tanta coisa... No começo, usava um seqüenciador com o qual conseguia gravar apenas quatro músicas. Era tudo analógico. Hoje você faz mais coisas e mais rápido. No começo era mais especial, pois tudo era novo. Hoje há muitas escolhas, muita gente fazendo e vendendo música. Mas ainda é bom, de um outro jeito."
Hoje, aos 40 anos, Saunderson toca no clube Lov.e, em São Paulo; amanhã, no Rio de Janeiro. As duas únicas apresentações no Brasil devem ser talvez, a última chance para os brasileiros de o assistirem: Saunderson disse na entrevista à Folha que pretende se aposentar dentro de cinco anos. "Provavelmente continuarei produzindo por mais uns cinco anos, depois quero fazer trilhas para cinema e tocar apenas em eventos grandes."
No clima intimista que tem marcado suas apresentações nos últimos tempos, Saunderson deve mostrar um tecno "enraizado em Detroit", que foi marcante durante a época em que ele e os amigos Derrick May e Juan Atkins inventaram a coisa. As influências, diz, foram disco music, Krafwerk, Parliament Funkadelic e New Order.
"Pensávamos: "OK, vamos adicionar alguma coisa a isso". Vamos colocar umas linhas de baixo. Deixar minimalista, mas ainda groovie". Eram sons eletrônicos que nos fizeram descobrir que podíamos fazer música com sintetizadores e computadores. Isso foi a nossa porta de entrada. E como também tocávamos em clubes, tínhamos a perspectiva do DJ ao criar música."
A perspectiva era de DJ, mas a pesquisa era bem tradicional. "Tínhamos que aprender estudando livros, era difícil aprender a mexer nos equipamentos. Mas quando você pegava o jeito, ficava bem fácil fazer música."

Nos EUA
Saunderson é considerado em todo o planeta um top DJ e produtor. Fez história com seu projeto Inner City -que inclusive teve o clássico disco "Big Fun" (1989) lançado no Brasil. A música título e "Good Life" são bonitas de doer e imprescindíveis para quem quiser conhecer a evolução da música eletrônica.
Grande em praticamente todo o mundo, o tecno ainda é apenas um nicho nos EUA, coisa para poucos se comparado ao gigante hip hop.
"Os americanos gostam de trance, não sei por que não gostam de outros estilos de dance music. O tecno atravessa fases altas e baixas, mas nunca chegou a ser massificado aqui como é na Europa. Aqui nos EUA, a garotada acompanha bastante o hip hop, eles ouvem um pouco de dance, mas, no fundo não se importam muito", diz. "Depois que os europeus entraram nessa, por volta de 1988, eles nunca mais pararam. A dance music se espalhou pela Inglaterra, Alemanha, Holanda e foi seguindo, se recriando de várias formas", diz o produtor.
Os EUA podem não se importar o suficiente com Saunderson, mas ele segue ocupado. Seu último trabalho foi a música "Say Something" -que tem os vocais deliciosos de Paris Gray, a mesma que cantava no Inner City-, que, segundo Saunderson, deverá ganhar lançamento grande em fevereiro. Ele também preparou um CD mix que chega ao Brasil.
Detalhe curioso: até dois anos atrás, Saunderson era diretor de um time de beisebol amador de Detroit. "Estive lá por dez anos. ganhamos um campeonato da liga amadora. Mas me afastei, pois tenho três filhos para criar."


KEVIN SAUNDERSON. Onde: Lov.e (r. Pequetita, 189, SP, tel. 0/xx/11/3044-1613). Quando: hoje, a partir da 0h. Quanto: de R$ 30 a R$ 40.


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