TIAGO MATA MACHADO
CRÍTICO DA FOLHA

Dizer que a relação entre um policial veterano e outro iniciante é clichê nos filmes policiais dos EUA já se tornou até mesmo um clichê da crítica de cinema. Mas, em "Divisão de Homicídio", não há escapatória. Joe Gavilan (Harrison Ford) é um detetive turrão e desiludido que, às vésperas da aposentadoria, inicia parceria com K.C. (Josh Hartnett), jovem, cool e boa-pinta.
A verdade é que K.C. não tem muito a aprender com Gavilan, antes pelo contrário, mas isso pouco importa, considerando que o propósito desse gênero é tomar atores consagrados como fiadores de novos talentos.
Ford é um astro na descendente. O tempo não fez dele um ator melhor (como Humphrey Bogart), mas sim apenas consciente de suas limitações, mais tarimbado e digno. Hartnett promete seguir o exemplo. O diretor e co-roteirista Ron Shelton ("Homens Brancos Não Sabem Enterrar") talvez quisesse um elenco mais versátil para seus diálogos, mas o fato é que a dupla está à sua altura.
Depois do assassinato de quatro rappers, Gavilan e K.C. mergulham no mundo do hip-hop da nova Hollywood. Embora Shelton tenda a apagar os vestígios de conflito racial, o que mais chama a atenção é a disparidade da situação econômica de brancos e negros: enquanto os policiais brancos fazem bicos para complementar a renda, os rappers ficam milionários da noite para o dia.
Shelton tenta explorar o lado cômico da situação: logo no início da investigação, Gavilan oferece uma mansão para o dono do clube de hip-hop onde aconteceram os assassinatos. Contudo, é a impotência e o ressentimento que apreendemos do tom que Ford imprime. Shelton tem a pretensão de ser um bom dialoguista e de não precisar se prender muito à ação, mas o filme naufraga entre clichês e artifícios excêntricos.

Divisão de Homicídios
Hollywood Homicide
 
Produção: EUA, 2003
Direção: Ron Shelton
Com: Harrison Ford, Josh Hartnett
Quando: a partir de hoje, nos cines West Plaza, Jardim Sul e circuito