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CINEMA/ESTRÉIAS
"A ÁRVORE, O PREFEITO E A MEDIATECA" e "A COLECIONADORA"
Filmes mostram fases diferentes do diretor
Rohmer coloca vontades contra objetividade
Divulgação
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Haydée Politoff em "A Colecionadora", que relançou a carreira de Eric Rohmer nos anos 60 |
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Os dois filmes de Eric Rohmer que estréiam nesta semana apresentam circunstâncias
fundamentalmente diferentes.
"A Colecionadora", um de seus
"Contos Morais", é o filme que relança sua carreira, em 1966, após o
fracasso de "O Signo do Leão",
graças, em grande parte, à audácia do tema: os jogos amorosos
envolvendo Haydée, Adrien e Daniel. Todos são belos, todos sabem que agradam com facilidade.
Fiquemos com Haydée e Adrien
-ele, o narrador da história, que
desde que se vêem iniciam um jogo de sedução. Haydée é a mulher
de todos. Adrien não a quer, entre
outras porque está mais preocupado com sua atual garota, que foi
para Londres.
Mas não a quer realmente? A
quase adolescente Haydée é a sensualidade em pessoa, e à sua insistência em passear de biquíni, como quem não quer nada, não ficará indiferente a imaginação libertina de Adrien. É o início de
um belo combate.
Depois do fracasso de "O Signo
do Leão", Rohmer não encontrava produtores para sua história.
Acabou filmando-a num sistema
cooperativo, de que participaram
Barbet Schroeder, produtor, e
Nestor Almendros, que se tornaria um dos fotógrafos mais importantes do mundo.
A falta de recursos, a necessidade de economizar filme de maneira obsessiva, a equipe reduzida
acabaram por fundar o "sistema
Rohmer", que ele utilizaria ao
longo de toda sua carreira -sem
prejuízo dos resultados, diga-se.
O tema e as audácias eróticas fizeram de "A Colecionadora" um
sucesso algo incompreensível em
nossos dias. Mas os encantos de
Haydée Politoff persistem intactos, assim como os do filme.
Bem outra é a chave de "A Árvore, o Prefeito e a Mediateca". Em
1993, Rohmer já era um autor de
cinema conhecido e havia concluído suas três séries famosas
("Comédias e Provérbios" e
"Contos das Quatro Estações",
além de "Contos Morais").
Trata-se, assim, de um de seus
deliciosos filmes "de passagem",
que não têm tema histórico, nem
pertencem às séries. No caso,
aborda-se uma questão francamente política: um prefeito socialista pretende construir uma mediateca em sua cidade, como forma de se projetar nacionalmente.
Uma repórter vem a sua cidade
fazer um texto sobre o assunto e
topa com um professor que considera inadmissível arrancar uma
determinada árvore para criar a
mediateca. Ela escreve uma reportagem com os dois lados. Mas
viaja e, em sua ausência, o editor,
precisando cortar a matéria, dá
destaque ao que diz o professor.
É um dos acasos de uma história construída toda em torno dos
acasos. Pode-se notar que, de "A
Colecionadora" a "A Árvore, o
Prefeito e a Mediateca" (1993)
pouca coisa muda: em ambos,
existem vontades que se defrontam com uma situação objetiva
pela qual não passam intocados
-por exemplo (para não falar do
sistema de produção).
Mas neste último percebe-se algo raro: Rohmer fala de política e
políticos, de mídia, poder, ambições. É verdade que se recusa a tirar conclusões e a julgar os personagens. Como sempre, limita-se a
observá-los, a mostrá-los em sua
complexidade. São dois filmes absolutamente diferentes, mas
igualmente encantadores.
A Árvore, o Prefeito e a Mediateca
L'Arbre, le Maire et la Médiathèque
Produção: França, 1993
Direção: Eric Rohmer
Com: Pascal Greggory e Arielle
Dombasle
Quando: a partir de hoje no Cinesesc
A Colecionadora
La Collectionneuse
Produção: França, 1967
Direção: Eric Rohmer
Com: Patrick Bauchau e Haydée Politoff
Quando: a partir de hoje no Top Cine
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