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CURTA-METRAGEM
"Rua" refresca memória brasileira
BRUNO YUTAKA SAITO
DA REDAÇÃO
Christiano Câmara, 68, é um ex-contínuo do Banco do Brasil que
passou boa parte da vida juntando discos e badulaques relacionados à música.
Até aí, nada muito diferente de
milhares de fissurados -ou
nerds- em música, que parecem
comprar discos mais por compulsão do que por amor à arte. No
entanto, o que o faz merecer um
curta-metragem, o premiado
"Rua da Escadinha 162" (Canal
Brasil), é uma espécie de missão,
quase épica, de "preservador da
memória".
Dirigido por Márcio Câmara,
técnico de som de "Lavoura Arcaica", "Rua" abre espaço para o
falatório de Câmara, um fascinante monólogo sobre sua "pequena"
coleção particular, que abriga 20
mil discos de cera, 10 mil discos de
vinil, fotos, revistas e pôsteres de
músicos e atores das décadas de
1930 a 1950, entre outros itens.
A casa do título, em Fortaleza,
constitui-se num dos maiores
acervos e museus do país sobre
música. Detalhe: a casa de seu Câmara, que fica aberta à visitação,
não é oficial, ou seja, não tem
apoio de instituições governamentais. Fácil concluir que temos
amplo terreno para discutir como
o país lida com sua memória. Mas
nem é necessário um narrador
para exprimir o estado da cultura
do Brasil.
Câmara reclama -e muito. Expõe sua visão de mundo que, claro, insinua a superioridade de valores do passado aos do presente.
Faz pouco caso de Tom Jobim e
da MPB em nome daquilo que
chama de "música popular". Reclama da baixa qualidade do vinil
-segundo ele, discos de cera tem
um som insubstituível; CD nem
merece comentários.
A "história" contada em "Rua"
-o acervo e a vida de Câmara-
é mero pretexto para uma outra,
ainda maior. Na sua casa-museu,
vemos o embate entre o passado e
o futuro, a memória e o esquecimento. A efemeridade da vida,
portanto.
RUA DA ESCADINHA 162. Quando:
hoje, às 22h45, no Canal Brasil.
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