São Paulo, sexta-feira, 30 de janeiro de 2004

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CURTA-METRAGEM

"Rua" refresca memória brasileira

BRUNO YUTAKA SAITO
DA REDAÇÃO

Christiano Câmara, 68, é um ex-contínuo do Banco do Brasil que passou boa parte da vida juntando discos e badulaques relacionados à música.
Até aí, nada muito diferente de milhares de fissurados -ou nerds- em música, que parecem comprar discos mais por compulsão do que por amor à arte. No entanto, o que o faz merecer um curta-metragem, o premiado "Rua da Escadinha 162" (Canal Brasil), é uma espécie de missão, quase épica, de "preservador da memória".
Dirigido por Márcio Câmara, técnico de som de "Lavoura Arcaica", "Rua" abre espaço para o falatório de Câmara, um fascinante monólogo sobre sua "pequena" coleção particular, que abriga 20 mil discos de cera, 10 mil discos de vinil, fotos, revistas e pôsteres de músicos e atores das décadas de 1930 a 1950, entre outros itens.
A casa do título, em Fortaleza, constitui-se num dos maiores acervos e museus do país sobre música. Detalhe: a casa de seu Câmara, que fica aberta à visitação, não é oficial, ou seja, não tem apoio de instituições governamentais. Fácil concluir que temos amplo terreno para discutir como o país lida com sua memória. Mas nem é necessário um narrador para exprimir o estado da cultura do Brasil.
Câmara reclama -e muito. Expõe sua visão de mundo que, claro, insinua a superioridade de valores do passado aos do presente. Faz pouco caso de Tom Jobim e da MPB em nome daquilo que chama de "música popular". Reclama da baixa qualidade do vinil -segundo ele, discos de cera tem um som insubstituível; CD nem merece comentários.
A "história" contada em "Rua" -o acervo e a vida de Câmara- é mero pretexto para uma outra, ainda maior. Na sua casa-museu, vemos o embate entre o passado e o futuro, a memória e o esquecimento. A efemeridade da vida, portanto.


RUA DA ESCADINHA 162. Quando: hoje, às 22h45, no Canal Brasil.


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