São Paulo, domingo, 30 de janeiro de 2005

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MÔNICA BERGAMO

Luciana Cavalcanti/Folha Imagem
LUCIANA CARDOSO Na Reinaldo Lourenço, ela compra "a décima calça e a vigésima blusa da marca"


Precinhos camaradas
tempo de "vendita promozionale" na Versace, de "sale" na Animale, de "soldes" na Ocimar Versolato. Com descontos que ultrapassam os 50%, o mercado de luxo atrai, nos dois primeiros meses do ano, clientes ávidos por abatimentos em roupas e acessórios, e afasta consumidores que não admitem comprar em ponta de estoque. Está aberta a temporada de pechinchas nas lojas mais chiques e caras da cidade.

Uma bolsa de pele de raposa, que tem mais de 50 caudas de bichos -isso mesmo, 50, para uma única bolsa- custa R$ 8.150 na loja de Roberto Cavalli, na rua Bela Cintra. Foram trazidas três da Itália. Só duas foram vendidas. A que sobrou está sendo liqüidada por R$ 5. 705.

A ex-dasluzete e hoje produtora de moda Patrícia Nese, 26, passou boa parte da quarta-feira na loja de Versolato da rua Haddock Lobo. "Viciada em vestidos, jeans e tarada por bolsas", em suas próprias palavras, Patrícia disse gastar até R$ 8.000 por mês para atualizar o guarda-roupa. Na liqüidação de Versolato, comprou uma bolsa, uma sandália e uma blusa. Experiente, adverte: liqüidação inspira cuidados. Não com os gastos excessivos, mas com "aquelas peças estampadas, que todo mundo já viu. Um mico".

Na semana passada, a médica Sheila Calandrini, 38, cruzou as ruas Bela Cintra e Oscar Freire, nos Jardins, em busca do que considera precinhos camaradas. "Essa região é maravilhosa. Chega a ser melhor que a Europa para fazer compras. Tem tudo. Não precisamos mais voltar com as malas lotadas de lá", suspira ela, enquanto saca da bolsa Animale o cartão de crédito. Por R$ 3.000, Sheila comprou, na G, de Glória Coelho, peças como uma blusa que, de R$ 1.000, estava sendo vendida pelo camarada precinho de R$ 440.

Sheila compra o ano todo, mas está sempre de olho nas promoções de suas marcas prediletas. "Em vez de levar só uma calça de um modelo, dá para comprar uma branca, uma cáqui, uma preta e uma bege." Especializada em medicina estética, ela diz que gasta sem dó. "Vou fundo. Depois corro para aplicar muito botox nas pacientes para pagar a conta."

Na loja ao lado, a publicitária Luciana Cardoso, 32, mergulhava na liqüidação de Reinaldo Lourenço. Contava que não consegue resistir à tentação. "Vou levar os cachorros para passear e fico de olho nas vitrines. Aí já viu, né?". Ela diz que os preços baixos fazem com que se compre "sem pensar tanto. Vim aqui comprar a décima calça e a vigésima blusa da marca".

Até Chella Safra, mulher do banqueiro Moise Safra, de uma das famílias mais ricas do Brasil, já foi flagrada numa liqüidação, da Daslu Homem. Há grifes, no entanto, que querem ver longe essas caçadoras de boas ofertas.

A francesa Louis Vuitton, por exemplo. Mesmo sendo uma das marcas mais copiadas do mundo, a empresa incinera todos os produtos de estação que não foram vendidos nos prazos imaginados. "É para não popularizar a marca", informa a assessoria. A cada seis meses, fogo nas bolsas: os produtos encalhados nas prateleiras viajam de volta a Paris e são eliminados.

Há lojas que não fazem liqüidações espalhafatosas em janeiro. Discretas, preferem diluir as ofertas ao longo dos meses. É o caso da Clube Chocolate, na Oscar Freire. "O desconto tem que ser uma oportunidade, não um sinal de que a roupa não valia tanto e quem comprou foi trouxa", diz Alexandre Lima, diretor de marketing do grupo.

"A gente chega a São Paulo e liga o "gastador'", dizia na semana passada a brasiliense Clarissa Lodovico, 29, enquanto admirava as araras de roupas da Clube Chocolate. Um casaco Marni, de R$ 5.288, era vendido por R$ 3.998.

O cliente da marca Chocolate pode esbarrar com descontos de até 80% na loja da grife no shopping Higienópolis.

É para lá que vai parte do estoque da Clube Chocolate. "Na ponta de estoque vai muito estudante de moda, que gosta de misturar peças diferentes", observa Alexandre Lima, gerente de marketing do grupo.

Na maré de oportunidades nas lojas do luxo, só não há espaço para pechinchar. "É raro, mas acontece de ter um [cliente] chorãozinho. Mas só damos o desconto que já está na etiqueta", diz Mieli Jatene, consultora da Roberto Cavalli.

"A liqüidação atrai os clientes habituais, mas também é uma oportunidade para quem quer ter pelo menos uma roupa daquele estilista", diz Vânia Nobis, gerente da Reinaldo Lourenço. Sacrifícios maiores são evitados. Vânia, por exemplo, tem uma cliente de Goiânia que, claro, nem sempre está em São Paulo na hora das boas ofertas. Para comprar Reinaldo, ela faz depósitos mensais na conta da loja, "até chegar ao valor suficiente para comprar uma blusa".
@ - bergamo@folhasp.com.br

COM JOÃO LUIZ VIEIRA, DANIEL BERGAMASCO, E MARIA FERNANDA ERDELYI


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