São Paulo, segunda-feira, 30 de janeiro de 2006

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ARTES

Em um ano, onda de furtos atingiu vinte obras grandes; polícia crê que estão sendo fundidas e vendidas como sucata

Esculturas em bronze são roubadas na Inglaterra

SARAH LYALL
DO "NEW YORK TIMES", EM LONDRES

Desde objetos enormes -uma escultura de Henry Moore que pesa duas toneladas- até outros relativamente modestos -um besouro de um metro de comprimento da artista Wendy Taylor. Entre um extremo e outro, foram roubados nos últimos meses na Inglaterra um leão de 2 metros de comprimento, um javali africano em tamanho natural e uma das três figuras humanas abstratas que compõem a enorme obra "Three Watchers" (Três sentinelas), da escultora Lynn Chadwick.
Em um ano, mais de 20 esculturas de tamanho grande, todas feitas de bronze, foram roubadas de museus, jardins e coleções particulares em Londres e suas cercanias. O método usado pelos ladrões parece absurdamente simples: chegam com um caminhão ou van no meio da noite, colocam as obras no veículo e vão embora, para nunca mais dar sinal de vida (pelo menos, não até agora).
A polícia não tem qualquer pista. "É um aumento maciço no número normal de roubos de grandes obras de bronze", comentou o sargento detetive Vernon Rapley, chefe da divisão de roubos de obras de arte e antiguidades da Polícia Metropolitana. Como é virtualmente impossível vender obras desse tipo -"ninguém poderia comprá-la agora e alegar não saber que tinha sido roubada", disse ele, falando da escultura de Henry Moore-, o mais provável é que as obras estejam sendo fundidas e vendidas como sucata.
A possibilidade provoca consternação não apenas do ponto de vista artístico, como também numa perspectiva econômica. "Figura Reclinada", de Henry Moore -que foi roubada da Fundação Henry Moore, em Hertfordshire, em 15 de dezembro- vale quase US$ 18 milhões (R$ 40 mi) como obra de arte, mas seu valor como metal de sucata não passa de US$ 9 mil (R$ 20 mil).
A inspetora de seguros internacionais Annabel Fell-Clark, da seguradora de arte AXA Art, afirma que os proprietários de obras de arte "nunca devem pressupor que uma escultura é pesada demais para ser roubada". Ela aconselha os clientes a nunca deixar escadas ou carrinhos de mão perto das obras, para não facilitar a ação de ladrões. "Mas nunca se deve subestimar um ladrão determinado", acrescentou. "Se for preciso, eles desmontam paredes e usam guindastes ou helicópteros."
O roubo mais recente foi o da obra de Lynn Chadwick, que aconteceu diante de um prédio pertencente à Universidade Roehampton, no sudoeste de Londres. Foi na madrugada de 11 de janeiro. Era uma das três partes da obra "Three Watchers", que, inteira, tem o valor estimado em US$ 1,1 milhão (R$ 2,4 mi). Se os ladrões queriam seu conteúdo de bronze, vão se decepcionar: a parte externa é de bronze, mas o interior é feito de ferro.
O pró-reitor da universidade, Chris Cobb, disse que a estátua mutilada já foi retirada do local onde permaneceu por 40 anos sem ser incomodada, ao alcance de qualquer transeunte. "Ela é uma obra de arte pública", disse. A polícia está tentando descobrir quem poderia ter um motivo para praticar os crimes. "Precisamos considerar quem precisa de bronze e quais são as utilizações do metal", disse Rapley. Isso após ter sido excluída a hipótese de terrorismo ou a existência de algum colecionador desonesto que poderia estar armazenando bronzes roubados para criar um jardim de esculturas particular em alguma ilha isolada.
"Os trabalhos roubados incluem desde memoriais de guerra até esculturas clássicas e peças contemporâneas", disse Rapley. "A única coisa que têm em comum é o fato de serem pesados e feitos de bronze."


Tradução Clara Allain


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