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ARTES
Em um ano, onda de furtos atingiu vinte obras grandes; polícia crê que estão sendo fundidas e vendidas como sucata
Esculturas em bronze são roubadas na Inglaterra
SARAH LYALL
DO "NEW YORK TIMES", EM LONDRES
Desde objetos enormes -uma
escultura de Henry Moore que
pesa duas toneladas- até outros
relativamente modestos -um
besouro de um metro de comprimento da artista Wendy Taylor.
Entre um extremo e outro, foram
roubados nos últimos meses na
Inglaterra um leão de 2 metros de
comprimento, um javali africano
em tamanho natural e uma das
três figuras humanas abstratas
que compõem a enorme obra
"Three Watchers" (Três sentinelas), da escultora Lynn Chadwick.
Em um ano, mais de 20 esculturas de tamanho grande, todas feitas de bronze, foram roubadas de
museus, jardins e coleções particulares em Londres e suas cercanias. O método usado pelos ladrões parece absurdamente simples: chegam com um caminhão
ou van no meio da noite, colocam
as obras no veículo e vão embora,
para nunca mais dar sinal de vida
(pelo menos, não até agora).
A polícia não tem qualquer pista. "É um aumento maciço no número normal de roubos de grandes obras de bronze", comentou o
sargento detetive Vernon Rapley,
chefe da divisão de roubos de
obras de arte e antiguidades da
Polícia Metropolitana. Como é
virtualmente impossível vender
obras desse tipo -"ninguém poderia comprá-la agora e alegar
não saber que tinha sido roubada", disse ele, falando da escultura
de Henry Moore-, o mais provável é que as obras estejam sendo
fundidas e vendidas como sucata.
A possibilidade provoca consternação não apenas do ponto de
vista artístico, como também numa perspectiva econômica. "Figura Reclinada", de Henry Moore
-que foi roubada da Fundação
Henry Moore, em Hertfordshire,
em 15 de dezembro- vale quase
US$ 18 milhões (R$ 40 mi) como
obra de arte, mas seu valor como
metal de sucata não passa de US$
9 mil (R$ 20 mil).
A inspetora de seguros internacionais Annabel Fell-Clark, da seguradora de arte AXA Art, afirma
que os proprietários de obras de
arte "nunca devem pressupor que
uma escultura é pesada demais
para ser roubada". Ela aconselha
os clientes a nunca deixar escadas
ou carrinhos de mão perto das
obras, para não facilitar a ação de
ladrões. "Mas nunca se deve subestimar um ladrão determinado", acrescentou. "Se for preciso,
eles desmontam paredes e usam
guindastes ou helicópteros."
O roubo mais recente foi o da
obra de Lynn Chadwick, que
aconteceu diante de um prédio
pertencente à Universidade Roehampton, no sudoeste de Londres. Foi na madrugada de 11 de
janeiro. Era uma das três partes
da obra "Three Watchers", que,
inteira, tem o valor estimado em
US$ 1,1 milhão (R$ 2,4 mi). Se os
ladrões queriam seu conteúdo de
bronze, vão se decepcionar: a parte externa é de bronze, mas o interior é feito de ferro.
O pró-reitor da universidade,
Chris Cobb, disse que a estátua
mutilada já foi retirada do local
onde permaneceu por 40 anos
sem ser incomodada, ao alcance
de qualquer transeunte. "Ela é
uma obra de arte pública", disse.
A polícia está tentando descobrir
quem poderia ter um motivo para
praticar os crimes. "Precisamos
considerar quem precisa de bronze e quais são as utilizações do
metal", disse Rapley. Isso após ter
sido excluída a hipótese de terrorismo ou a existência de algum
colecionador desonesto que poderia estar armazenando bronzes
roubados para criar um jardim de
esculturas particular em alguma
ilha isolada.
"Os trabalhos roubados incluem desde memoriais de guerra
até esculturas clássicas e peças
contemporâneas", disse Rapley.
"A única coisa que têm em comum é o fato de serem pesados e
feitos de bronze."
Tradução Clara Allain
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