São Paulo, terça-feira, 30 de janeiro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Quadrinhos/memória

Versatilidade foi característica do quadrinista Ely Barbosa

PAULO RAMOS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

É difícil encontrar uma palavra para definir a profissão de Ely Barbosa, que morreu no dia 19 deste mês, aos 69 anos. Ele não tinha uma área de atuação. Tinha várias. Fez histórias em quadrinhos, livros, peças de teatro, programas infantis, campanhas publicitárias.
Foi também um dos pioneiros da animação na TV. É dele, por exemplo, o comercial da DDDrin, produzido no início dos anos 70.
O desenho mostrava uma festa feita por baratas e insetos. Ficavam todos a "roerrrr" (forma como era cantado o "jingle") até a chegada de um funcionário da empresa, especializada em controle de pragas. Fim da festa. A história fez tanto sucesso que é reprisada até hoje (inclusive no YouTube).
Ely Barbosa trabalhou também com Silvio Santos por muitos anos. Criou comerciais e animações para as empresas e programas do apresentador. Chegou até a ser chamado de "Walt Disney brasileiro".
Em 1976, Barbosa começou a investir também em quadrinhos. Inventou um grupo enorme de personagens infantis: o cãozinho Cacá, a Turma da Fofura, Os Tutti Fruttis, Patrícia, o exército dos Incríveis Amendoins (talvez sua criação mais popular).
Cada um deles teve revista própria entre as décadas de 70 e 80. Foram publicados primeiro pela editora Rio Gráfica e, depois, pela Abril, onde a equipe do desenhista produzia 250 páginas de quadrinhos por mês.
Ele criou até um estúdio, que serviu de escola para diversos artistas do traço. Por anos, os personagens dividiram espaço com a Turma da Mônica, de Mauricio de Sousa. E com sucesso.
Parte da popularidade vinha dos programas infantis. Ely Barbosa transformou os personagens em bonecos e os levou para a TV. Teve dois programas exibidos na TV Bandeirantes (hoje Band): "Boa Noite, Amiguinhos" e "TV Tutti Frutti", vencedor do APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte) em 1983.

Teatro e internet
Com o tempo, a popularidade diminuiu. Os programas de TV foram cancelados e as revistas não demoraram a seguir o mesmo caminho. Restaram o teatro e a internet, onde as histórias em quadrinhos passaram a ser veiculadas. Paralelamente, publicou um romance e vários livros infantis, lançados por diferentes editoras.
A saúde debilitada (tinha mal de Parkinson) atrapalhou o desenvolvimento de novos projetos nos últimos dois anos. A família informou que vai dar continuidade ao trabalho dele.
Ely Barbosa nasceu em Vera Cruz, cidade a 428 km de São Paulo. Ficou órfão cedo. O pai, um jornalista, morreu aos 29 anos. Coube à mãe, Aurora Medeiros Barbosa, a tarefa de criar Ely e os quatro irmãos, entre eles o escritor de novelas Benedito Ruy Barbosa.
Segundo a curta biografia que escreveu em seu site, o desenhista disse que o interesse pela criação de bonecos começou cedo. Aos quatro anos, já moldava pequenas imagens com sobras de cera de vela.
Três anos depois, criava animais para o presépio de uma igreja. O padre pagou pelo serviço. "Foi o primeiro dinheiro que ganhei com minha arte."


Texto Anterior: Mônica Bergamo
Próximo Texto: Memória: Disputa legal ainda adia o enterro de James Brown
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.