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Quadrinhos/memória
Versatilidade foi característica do quadrinista Ely Barbosa
PAULO RAMOS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
É difícil encontrar uma palavra para definir a profissão de
Ely Barbosa, que morreu no dia
19 deste mês, aos 69 anos. Ele
não tinha uma área de atuação.
Tinha várias. Fez histórias em
quadrinhos, livros, peças de
teatro, programas infantis,
campanhas publicitárias.
Foi também um dos pioneiros da animação na TV. É dele,
por exemplo, o comercial da
DDDrin, produzido no início
dos anos 70.
O desenho mostrava uma
festa feita por baratas e insetos.
Ficavam todos a "roerrrr" (forma como era cantado o "jingle") até a chegada de um funcionário da empresa, especializada em controle de pragas.
Fim da festa. A história fez tanto sucesso que é reprisada até
hoje (inclusive no YouTube).
Ely Barbosa trabalhou também com Silvio Santos por
muitos anos. Criou comerciais
e animações para as empresas e
programas do apresentador.
Chegou até a ser chamado de
"Walt Disney brasileiro".
Em 1976, Barbosa começou a
investir também em quadrinhos. Inventou um grupo enorme de personagens infantis: o
cãozinho Cacá, a Turma da Fofura, Os Tutti Fruttis, Patrícia,
o exército dos Incríveis Amendoins (talvez sua criação mais
popular).
Cada um deles teve revista
própria entre as décadas de 70 e
80. Foram publicados primeiro
pela editora Rio Gráfica e, depois, pela Abril, onde a equipe
do desenhista produzia 250 páginas de quadrinhos por mês.
Ele criou até um estúdio, que
serviu de escola para diversos
artistas do traço. Por anos, os
personagens dividiram espaço
com a Turma da Mônica, de
Mauricio de Sousa. E com sucesso.
Parte da popularidade vinha
dos programas infantis. Ely
Barbosa transformou os personagens em bonecos e os levou
para a TV. Teve dois programas
exibidos na TV Bandeirantes
(hoje Band): "Boa Noite, Amiguinhos" e "TV Tutti Frutti",
vencedor do APCA (Associação
Paulista dos Críticos de Arte)
em 1983.
Teatro e internet
Com o tempo, a popularidade
diminuiu. Os programas de TV
foram cancelados e as revistas
não demoraram a seguir o mesmo caminho. Restaram o teatro
e a internet, onde as histórias
em quadrinhos passaram a ser
veiculadas. Paralelamente, publicou um romance e vários livros infantis, lançados por diferentes editoras.
A saúde debilitada (tinha mal
de Parkinson) atrapalhou o desenvolvimento de novos projetos nos últimos dois anos. A família informou que vai dar continuidade ao trabalho dele.
Ely Barbosa nasceu em Vera
Cruz, cidade a 428 km de São
Paulo. Ficou órfão cedo. O pai,
um jornalista, morreu aos 29
anos. Coube à mãe, Aurora Medeiros Barbosa, a tarefa de criar
Ely e os quatro irmãos, entre
eles o escritor de novelas Benedito Ruy Barbosa.
Segundo a curta biografia
que escreveu em seu site, o desenhista disse que o interesse
pela criação de bonecos começou cedo. Aos quatro anos, já
moldava pequenas imagens
com sobras de cera de vela.
Três anos depois, criava animais para o presépio de uma
igreja. O padre pagou pelo serviço. "Foi o primeiro dinheiro
que ganhei com minha arte."
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