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Psicanalista enfoca motivações do abandono em documentário
"Procura-se Janaína", de Miriam Chnaiderman, busca ex-interna da Febem
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
Por que alguns pais abandonam seus filhos? E o que é feito
das crianças que nascem sem
lugar no mundo? Tendo essas
interrogações como ponto de
partida, a psicanalista e cineasta Miriam Chnaiderman prepara atualmente o documentário "Procura-se Janaína".
Abandonada aos cinco meses
de idade, Janaína viveu na Febem nos anos 80. Até onde há
registros da vida da garota, ela
nunca chegou a ser adotada.
"Qual terá sido o destino de
uma criança negra, pobre, órfã,
e, além de tudo, autista?", indaga Chnaiderman, no projeto do
documentário, premiado em
concurso do programa Rumos
Itaú Cultural.
Para a cineasta, "falar de Janaína é contar a história da Febem, do Estatuto da Criança e
do Adolescente", que passou a
vigorar em 1990, quando Janaína tinha 10 anos de idade.
Abandonos
Com sua equipe, Chnaiderman vasculhou os arquivos depositados no Núcleo de Documentação do Adolescente (Febem) e os de outras instituições
onde Janaína esteve.
"Em nossa busca, vamos sabendo que Janaína respondia
bem aos tratamentos que foi
recebendo. Mas eles eram interrompidos. As instituições
onde era atendida foram acabando, algumas falindo. Ou seja, Janaína foi passando por vários abandonos", afirma.
Embora tenha dado ao seu
filme o nome de "Procura-se
Janaína", Chnaiderman iniciou
as filmagens, no fim do ano passado, com a certeza de que,
mesmo se jamais encontrasse
Janaína, o documentário teria
sua existência justificada.
"Percebi que, no simples fato
de estar expondo a história de
Janaína, eu estava dando existência a ela. Janaína passou a
existir para todos nós [envolvidos com o projeto]. E fazer Janaína existir já é, em si mesmo,
um ato político", diz a diretora.
Chnaiderman, porém, conseguiu localizar Janaína, numa
cidade do interior paulista.
O filme com a história dessa
busca deverá ter 52 minutos
-duração apropriada para a
exibição em TV. "Acho importantíssimo que a televisão veicule documentários. Dessa forma, um documentário como
esse pode atingir mais pessoas
e contribuir para que a questão
do menor e das instituições seja
mais debatida entre nós", diz a
documentarista.
Chnaiderman é autora dos
documentários em curta-metragem "Artesãos da Morte"
(2001) e "Passeios no Recanto
Silvestre" (2006), co-dirigido
com David Calderoni, que registra a (vã) tentativa dos diretores de estimular o escritor e
cineasta José Agrippino ("PanAmérica") a voltar a filmar.
É, portanto, um documentário que filma a si mesmo.
Chnaiderman acha que, nesse
gênero cinematográfico, "é
sempre assim, mesmo que nem
sempre [isso] seja explicitado".
Com "Procura-se Janaína", não
deverá ser diferente.
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