São Paulo, terça-feira, 30 de janeiro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Museus criam filiais polêmicas

Expansão de instituições francesas em países como os Emirados Árabes Unidos é criticada por artistas

Tendência de museus como o Pompidou a exportar coleções mais obedece a interesses financeiros do que culturais, dizem críticos


ANA CAROLINA DANI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS

Estariam os museus franceses sucumbindo à mercantilização cultural? O Centro Cultural Georges Pompidou -que abriga o segundo maior museu de arte contemporânea do mundo, depois do MoMA de Nova York- comemora seu aniversário de 30 anos amanhã em meio a uma polêmica que tem sacudido o mundo das artes na França.
Artistas, historiadores e funcionários de instituições culturais, entre outros, levantaram a voz para denunciar o que consideram "a deriva comercial dos museus franceses". Condenam dois projetos de descentralização de coleções de arte, que têm a participação dos principais museus da França, entre eles o Pompidou e o Louvre, em Paris.
A polêmica começou com a publicação, nas páginas do jornal "Le Monde", de um manifesto assinado por três personalidades ligadas às artes. O manifesto foi para a internet e já teve 4.000 adesões.
No texto, os autores -entre eles a ex-diretora do órgão que administra os museus franceses, Françoise Cachin- criticam a "comercialização desenfreada do patrimônio cultural" do país, uma série de mostras temporárias em Atlanta e o projeto de construção de um Louvre na cidade de Abu Dhabi, capital dos Emirados Árabes Unidos.
Iniciada em outubro do ano passado, a chamada Operação Atlanta prevê a realização de uma série de exposições temporárias no High Museum of Art, em Atlanta, nos EUA. Ao todo, cerca de 180 obras serão emprestadas ao museu, por períodos que vão de três a 11 meses. Em troca, o Louvre deve receber cerca de 13 milhões.
Se a Operação Atlanta suscita críticas, o projeto de Abu Dhabi é ainda mais controverso. "Esse país pretende construir, em um balneário turístico de luxo a fim de aumentar sua atratividade, quatro museus -entre eles um inevitável Guggenheim e um museu francês, que deve receber a marca Louvre", afirma Cachin.
Os últimos detalhes do projeto serão acertados entre o governo francês e o governo dos Emirados Árabes até o início de fevereiro, mas o essencial do contrato já foi validado. Assim, os principais museus da França -entre eles o Louvre, o Quai Branly e o Pompidou- devem emprestar a Abu Dhabi um certo número de obras até que o futuro museu, que deve ser inaugurado em 2012, possa constituir sua própria coleção.
Os empréstimos, que alguns preferem chamar de "aluguel", podem durar de três meses a dois anos. Outro ponto sensível é o nome do futuro museu. A hipótese mais provável é que ele receba a "marca" Louvre por 20 anos. Em contrapartida, o Estado francês deve receber cerca de 700 milhões.
Para o diretor do Museu Rodin, Dominique Vieville, as críticas de que os museus franceses estariam alugando suas obras ou vendendo seus nomes como marcas não têm fundamento. "O que na verdade incomoda em Abu Dhabi é o fato de que a operação se abre a um país que não faz parte do tradicional clube de museus que realizam projetos de intercâmbio cultural", afirma.
Enquanto a França bate o pé, os EUA avançam a todo vapor em sua política de expansão cultural. Amanhã, o presidente da Fundação Guggenheim, Thomas Krens, divulga, nos Emirados Árabes, seu megaprojeto que prevê a construção de um complexo turístico de 270 hectares na ilha de Saadivat, próximo a Abu Dhabi. O complexo terá quatro museus, entre eles o maior Guggenheim do mundo e um centro de espetáculos, além da polêmica sucursal do Louvre.

Brasil
As principais instituições culturais francesas não escondem suas ambições planetárias. O diretor do Centro Georges Pompidou, Bruno Racine, anunciou que uma missão vai a São Paulo no mês que vem para estudar projetos de cooperação, entre eles a possível criação de uma sociedade de amigos do Pompidou no Brasil.
O centro cultural francês também vai inaugurar, em 2008, um Pompidou na cidade francesa de Metz. Outro projeto prevê a construção de um anexo em Xangai.
O Museu Rodin inaugura em 2007 uma antena no Brasil, em Salvador. Ao contrário de Abu Dhabi, o contrato não prevê nenhuma compensação financeira para as 62 esculturas em gesso, que serão, inicialmente, emprestadas por três anos.
A cidade francesa de Lens também deve receber uma sucursal do Louvre.


Texto Anterior: Bernardo Carvalho: Pensadores russos
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.