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Museus criam filiais polêmicas
Expansão de instituições francesas em países como os Emirados Árabes Unidos é criticada por artistas
Tendência de museus como o Pompidou a exportar coleções mais obedece a interesses financeiros do que culturais, dizem críticos
ANA CAROLINA DANI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS
Estariam os museus franceses sucumbindo à mercantilização cultural? O Centro Cultural Georges Pompidou -que
abriga o segundo maior museu
de arte contemporânea do
mundo, depois do MoMA de
Nova York- comemora seu
aniversário de 30 anos amanhã
em meio a uma polêmica que
tem sacudido o mundo das artes na França.
Artistas, historiadores e funcionários de instituições culturais, entre outros, levantaram a
voz para denunciar o que consideram "a deriva comercial dos
museus franceses". Condenam
dois projetos de descentralização de coleções de arte, que têm
a participação dos principais
museus da França, entre eles o
Pompidou e o Louvre, em Paris.
A polêmica começou com a
publicação, nas páginas do jornal "Le Monde", de um manifesto assinado por três personalidades ligadas às artes. O
manifesto foi para a internet e
já teve 4.000 adesões.
No texto, os autores -entre
eles a ex-diretora do órgão que
administra os museus franceses, Françoise Cachin- criticam a "comercialização desenfreada do patrimônio cultural"
do país, uma série de mostras
temporárias em Atlanta e o
projeto de construção de um
Louvre na cidade de Abu Dhabi, capital dos Emirados Árabes
Unidos.
Iniciada em outubro do ano
passado, a chamada Operação
Atlanta prevê a realização de
uma série de exposições temporárias no High Museum of
Art, em Atlanta, nos EUA. Ao
todo, cerca de 180 obras serão
emprestadas ao museu, por períodos que vão de três a 11 meses. Em troca, o Louvre deve
receber cerca de 13 milhões.
Se a Operação Atlanta suscita críticas, o projeto de Abu
Dhabi é ainda mais controverso. "Esse país pretende construir, em um balneário turístico de luxo a fim de aumentar
sua atratividade, quatro museus -entre eles um inevitável
Guggenheim e um museu francês, que deve receber a marca
Louvre", afirma Cachin.
Os últimos detalhes do projeto serão acertados entre o governo francês e o governo dos
Emirados Árabes até o início
de fevereiro, mas o essencial do
contrato já foi validado. Assim,
os principais museus da França
-entre eles o Louvre, o Quai
Branly e o Pompidou- devem
emprestar a Abu Dhabi um certo número de obras até que o
futuro museu, que deve ser
inaugurado em 2012, possa
constituir sua própria coleção.
Os empréstimos, que alguns
preferem chamar de "aluguel",
podem durar de três meses a
dois anos. Outro ponto sensível
é o nome do futuro museu. A
hipótese mais provável é que
ele receba a "marca" Louvre
por 20 anos. Em contrapartida,
o Estado francês deve receber
cerca de 700 milhões.
Para o diretor do Museu Rodin, Dominique Vieville, as críticas de que os museus franceses estariam alugando suas
obras ou vendendo seus nomes
como marcas não têm fundamento. "O que na verdade incomoda em Abu Dhabi é o fato
de que a operação se abre a um
país que não faz parte do tradicional clube de museus que
realizam projetos de intercâmbio cultural", afirma.
Enquanto a França bate o pé,
os EUA avançam a todo vapor
em sua política de expansão
cultural. Amanhã, o presidente
da Fundação Guggenheim,
Thomas Krens, divulga, nos
Emirados Árabes, seu megaprojeto que prevê a construção
de um complexo turístico de
270 hectares na ilha de Saadivat, próximo a Abu Dhabi. O
complexo terá quatro museus,
entre eles o maior Guggenheim
do mundo e um centro de espetáculos, além da polêmica sucursal do Louvre.
Brasil
As principais instituições
culturais francesas não escondem suas ambições planetárias.
O diretor do Centro Georges
Pompidou, Bruno Racine,
anunciou que uma missão vai a
São Paulo no mês que vem para
estudar projetos de cooperação, entre eles a possível criação de uma sociedade de amigos do Pompidou no Brasil.
O centro cultural francês
também vai inaugurar, em
2008, um Pompidou na cidade
francesa de Metz. Outro projeto prevê a construção de um
anexo em Xangai.
O Museu Rodin inaugura em
2007 uma antena no Brasil, em
Salvador. Ao contrário de Abu
Dhabi, o contrato não prevê nenhuma compensação financeira para as 62 esculturas em gesso, que serão, inicialmente, emprestadas por três anos.
A cidade francesa de Lens
também deve receber uma sucursal do Louvre.
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