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CINEMA
Acadêmicos como o Michel Marie e Robert Stam também participam de seminário internacional realizado na Bahia
Para o cineasta Costa-Gavras, todo filme é político
PEDRO BUTCHER
ENVIADO ESPECIAL A SALVADOR
Evitar o saudosismo, espantar o
pessimismo -essa foi a preocupação central dos palestrantes do
primeiro dia do Seminário Internacional de Cinema e Audiovisual, centrado no tema do cinema
político contemporâneo.
Depois da abertura, na noite de
segunda-feira, regada por discursos das autoridades presentes (incluindo o secretário do Audiovisual Orlando Senna, que leu um
texto enviado pelo ministro da
Cultura Gilberto Gil), e pela exibição do explosivo curta-metragem
"Di", de Glauber Rocha, o Seminário começou para valer ontem,
lotando os quase 500 lugares do
casarão da reitoria da Universidade Federal da Bahia, em Salvador.
Para os acadêmicos Michel Marie, professor da Sorbonne, e Robert Stam, da Universidade de
Nova York, o cinema político está
vivo, apenas deslocou seu eixo da
utopia revolucionária para outras
questões, em geral ligadas ao trabalho, ao desemprego, à imigração e às conseqüências diretas da
evolução do capitalismo contemporâneo na vida das pessoas.
"Hoje o cinema mais interessante
produzido na França fala dos imigrantes, na maior parte das vezes
em longas realizados por cineastas de outras origens. É esse o caso
do vencedor do prêmio Cesar
desse ano, "L'Esquive", de Abdel
Kechiche", disse Marie.
Para Robert Stam, um estudioso
de longa data do cinema brasileiro, o próprio Brasil vive um momento bastante rico do cinema
político na produção de documentários. "Talvez o melhor
exemplo da evolução da linguagem dos filmes políticos esteja na
obra de Eduardo Coutinho. Ele
passou de uma abordagem mais
literalmente política em "Cabra
Marcado para Morrer" para uma
nova forma muito original, que é
uma dramaturgia da fala e do corpo." Em outros países, para Robert Stam, a crítica política se desvinculou dos "grandes temas" para questões específicas como o racismo e o sexismo. "Um bom
exemplo está no cinema de Spike
Lee", citou, ou ainda em produções etnográficas específicas, como na realização de filmes por comunidades excluídas. Em sua palestra, Stam exibiu trechos de filmes produzidos por comunidades indígenas como exemplo.
Para o cineasta Costa-Gavras,
convidado especial do seminário,
que falou ao público ontem à tarde e deu uma entrevista coletiva à
imprensa pela manhã, "cinema
político" é apenas um rótulo: "Todo filme é político na medida em
que política é toda forma de relação humana em que o poder está
implicado. Nunca disse que fiz filmes políticos, isso foi algo imposto à minha obra". Às críticas que
recebe freqüentemente, dando
conta de que seus trabalhos apenas trazem conteúdos de fundo
político, mas que na forma se limitariam a reproduzir convenções narrativas, Costa-Gavras foi
enfático: "Dar prazer às pessoas
também é fazer política. É só ver
Chaplin, por exemplo."
Uma das principais preocupações que surgiram foi a questão
da difusão. "Vivemos uma grande
tendência ao monopólio. O que se
tenta fazer é implantar uma monocultura da produção audiovisual", disse Costa-Gavras. E não
só no cinema. Robert Stam citou o
exemplo da cobertura da guerra
do Iraque pela mídia dos Estados
Unidos. "Como a mídia, principalmente a TV, se fechou muito,
houve uma reação quase imediata, com o surgimento de várias
produções alternativas que chegaram a fazer sucesso. Não me refiro apenas a Michael Moore, mas
também a filmes como "OutFoxed", que criticava diretamente a
cobertura da guerra feita pelo canal da Fox, ou "Control Room",
sobre a Al Jazira", contou Stam.
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