São Paulo, quinta-feira, 30 de março de 2006

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AVIS RARA

Vocalista inglês Antony Hegarty afirma que, atualmente, sua música triste e poética não é mais marginalizada

"Faço música para ouvir bem de perto"

Svenson Linnert/Divulgação
O cantor Antony Hegarty, vocalista da banda Antony and the Johnsons, que lança "I Am a Bird Now'


COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Leia a seguir a continuação da entrevista de Antony Hegarty à Folha. (EVA JOORY)
 

Folha - O que o levou a gravar um disco tão melancólico e triste, mas ao mesmo tempo poético e tão emotivo?
Antony Hegarty -
Queria fazer um disco que tocasse o coração das pessoas. Que fosse íntimo para que elas o levassem para os seus quartos e o escutassem bem de perto.

Folha - O que o inspira a escrever? Poderia falar de suas influências?
Hegarty -
Eu me inspiro nos animais e na natureza, na luz e na escuridão mas também na paixão. Para mim, canções são como cabelo ou unhas, são características inevitáveis da nossa existência, algo que crio lentamente com o tempo. Escrevo canções desde criança. Posso escrever a letra cinco anos antes de compor a melodia. O meu processo criativo é uma evolução vagarosa, mas também é uma erosão, assim que a canção ganha forma.

Folha - Você uma vez afirmou que a sua intenção é fazer as pessoas felizes. Por que isso é necessário?
Hegarty -
Eu me alegro e me inspiro pelos artistas que me ajudam a encontrar o sentido da felicidade, cantores como Otis Redding, Elizabeth Fraser [Cocteau Twins] e Miriam Makeba. O que se espera de um cantor é que ele dê voz às nossas experiências, para que também possamos incorporar os sentimentos que todos sentimos quando ouvimos seus prantos.

Folha - Candy Darling, a travesti que fez parte da Factory de Andy Warhol, está na capa do seu CD "I Am a Bird Now". Qual o motivo?
Hegarty -
Ela representa algo misterioso e alquímico, um tipo de beleza transcendental, que vive entre o masculino e o feminino, luz e escuridão, vida e morte. A foto foi tirada em 1974 pelo grande artista Peter Hujar e é parte fundamental do meu altar estético desde a minha adolescência. É uma das grandes imagens fotográficas do século 20.

Folha - É verdade que as pessoas o entendem melhor em Nova York?
Hegarty -
As pessoas que compreendem o meu trabalho podem ser contadas nos dedos pelo mundo. Tem sido uma experiência reveladora cantar para um público diferente na Sicília, em Helsinque ou Belfast e saber que essas pessoas, de tão diversas culturas, estão interessadas no meu trabalho. Nova York é o meu lar, certamente, mas descobri que as pessoas que têm interesse no meu trabalho podem ser encontradas em qualquer lugar e vir das mais diversas origens demográficas.

Folha - Você está envolvido não só com música, mas com outras formas de arte, como o teatro e a pintura. O que essas artes têm em comum com o seu trabalho?
Hegarty -
No momento estou trabalhando em parceria com meu amigo cineasta Charles Atlas num filme chamado "Turning". É um concerto com uma série de perfis em vídeos de várias mulheres de Nova York, artistas e visionárias cujos trabalhos e personalidades me inspiram. Esperamos mostrar "Turning" em várias cidades até o fim do ano. Tenho muito interesse pelas coisas visuais, especialmente por quadros. Espero começar a trabalhar em mais filmes ainda este ano, não só dirigindo, mas criando trilhas.

Folha - Você disse que durante muito tempo se sentiu marginalizado. O que aconteceu que mudou a percepção das pessoas em relação à sua música?
Hegarty -
Acho que uma janela na área de cultura se abriu, na qual as pessoas se sentem atraídas por uma música que é bastante expressiva tanto emocionalmente quanto fisicamente.
Tenho uma sensação de que as pessoas estão finalmente acordando, se sentindo mais atentas, com mais desejo de fazer parte e de dialogar com o mundo. Elas estão começando a chacoalhar esse sentimento opressivo de cinismo e de consumo apavorante e desenfreado que têm nos mantidos reféns ultimamente. Acho que estamos entrando em uma era na qual as pessoas se sentem mais poderosas e corajosas.

Folha - No seu CD, você convidou Boy George, Rufus Wainwright e Lou Reed para cantar. O que admira nesses artistas?
Hegarty -
Admiro George pela sua vulnerabilidade, o seu coração sempre aberto, a sua beleza. Gosto de Rufus pela sua ternura, sua firmeza e seu coração de leão. Adoro o Lou. Ele tem sido um grande mentor para mim, me dá conselhos e me guia. Ele é uma tremenda inspiração, um artista poderoso e bastante intuitivo.

Folha - O que acredita ser a sua contribuição para a música?
Hegarty -
Perceber que não tenho bom senso com relação ao meu estilo pessoal?


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