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AVIS RARA
Vocalista inglês Antony Hegarty afirma que, atualmente, sua música triste e poética não é mais marginalizada
"Faço música para ouvir bem de perto"
Svenson Linnert/Divulgação
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O cantor Antony Hegarty, vocalista da banda Antony and the Johnsons, que lança "I Am a Bird Now' |
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Leia a seguir a continuação da
entrevista de Antony Hegarty à
Folha.
(EVA JOORY)
Folha - O que o levou a gravar um
disco tão melancólico e triste, mas
ao mesmo tempo poético e tão
emotivo?
Antony Hegarty - Queria fazer
um disco que tocasse o coração
das pessoas. Que fosse íntimo para que elas o levassem para os seus
quartos e o escutassem bem de
perto.
Folha - O que o inspira a escrever?
Poderia falar de suas influências?
Hegarty - Eu me inspiro nos animais e na natureza, na luz e na escuridão mas também na paixão.
Para mim, canções são como cabelo ou unhas, são características
inevitáveis da nossa existência, algo que crio lentamente com o
tempo. Escrevo canções desde
criança. Posso escrever a letra cinco anos antes de compor a melodia. O meu processo criativo é
uma evolução vagarosa, mas também é uma erosão, assim que a
canção ganha forma.
Folha - Você uma vez afirmou que
a sua intenção é fazer as pessoas
felizes. Por que isso é necessário?
Hegarty - Eu me alegro e me inspiro pelos artistas que me ajudam
a encontrar o sentido da felicidade, cantores como Otis Redding,
Elizabeth Fraser [Cocteau Twins]
e Miriam Makeba. O que se espera de um cantor é que ele dê voz às
nossas experiências, para que
também possamos incorporar os
sentimentos que todos sentimos
quando ouvimos seus prantos.
Folha - Candy Darling, a travesti
que fez parte da Factory de Andy
Warhol, está na capa do seu CD "I
Am a Bird Now". Qual o motivo?
Hegarty - Ela representa algo
misterioso e alquímico, um tipo
de beleza transcendental, que vive
entre o masculino e o feminino,
luz e escuridão, vida e morte. A foto foi tirada em 1974 pelo grande
artista Peter Hujar e é parte fundamental do meu altar estético
desde a minha adolescência. É
uma das grandes imagens fotográficas do século 20.
Folha - É verdade que as pessoas
o entendem melhor em Nova York?
Hegarty - As pessoas que compreendem o meu trabalho podem
ser contadas nos dedos pelo mundo. Tem sido uma experiência reveladora cantar para um público
diferente na Sicília, em Helsinque
ou Belfast e saber que essas pessoas, de tão diversas culturas, estão interessadas no meu trabalho.
Nova York é o meu lar, certamente, mas descobri que as pessoas
que têm interesse no meu trabalho podem ser encontradas em
qualquer lugar e vir das mais diversas origens demográficas.
Folha - Você está envolvido não
só com música, mas com outras formas de arte, como o teatro e a pintura. O que essas artes têm em comum com o seu trabalho?
Hegarty - No momento estou
trabalhando em parceria com
meu amigo cineasta Charles Atlas
num filme chamado "Turning". É
um concerto com uma série de
perfis em vídeos de várias mulheres de Nova York, artistas e visionárias cujos trabalhos e personalidades me inspiram. Esperamos
mostrar "Turning" em várias cidades até o fim do ano. Tenho
muito interesse pelas coisas visuais, especialmente por quadros.
Espero começar a trabalhar em
mais filmes ainda este ano, não só
dirigindo, mas criando trilhas.
Folha - Você disse que durante
muito tempo se sentiu marginalizado. O que aconteceu que mudou
a percepção das pessoas em relação à sua música?
Hegarty - Acho que uma janela
na área de cultura se abriu, na
qual as pessoas se sentem atraídas
por uma música que é bastante
expressiva tanto emocionalmente
quanto fisicamente.
Tenho uma sensação de que as
pessoas estão finalmente acordando, se sentindo mais atentas,
com mais desejo de fazer parte e
de dialogar com o mundo. Elas estão começando a chacoalhar esse
sentimento opressivo de cinismo
e de consumo apavorante e desenfreado que têm nos mantidos
reféns ultimamente. Acho que estamos entrando em uma era na
qual as pessoas se sentem mais
poderosas e corajosas.
Folha - No seu CD, você convidou
Boy George, Rufus Wainwright e
Lou Reed para cantar. O que admira nesses artistas?
Hegarty - Admiro George pela
sua vulnerabilidade, o seu coração sempre aberto, a sua beleza.
Gosto de Rufus pela sua ternura,
sua firmeza e seu coração de leão.
Adoro o Lou. Ele tem sido um
grande mentor para mim, me dá
conselhos e me guia. Ele é uma
tremenda inspiração, um artista
poderoso e bastante intuitivo.
Folha - O que acredita ser a sua
contribuição para a música?
Hegarty - Perceber que não tenho bom senso com relação ao
meu estilo pessoal?
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