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Crítica/ "Domingos"
Diretora capta realidade e ficção do mundo de Oliveira
O cineasta e dramaturgo Domingos Oliveira é tema de filme da estreante Maria Ribeiro, que passa no Rio e em SP
PEDRO BUTCHER
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Não gostar dos filmes de
Domingos Oliveira é
perfeitamente possível; não gostar de Domingos
Oliveira é bem mais difícil.
Seu amor incondicional pela
vida é tão genuíno e profundo
que contagia os mais céticos.
Isso porque não se trata daquele amor-clichê, irritante -e sim
de um sentimento inteligente,
traduzido em pensamentos
e emoções.
É esse Domingos Oliveira
que a diretora Maria Ribeiro
capta muito bem em seu documentário de estreia, escolhido
para inaugurar a porção carioca
do festival É Tudo Verdade, na
última quinta-feira.
Uma escolha, aliás, para lá de
acertada, pois Domingos é, antes de tudo, representante legítimo de uma certa boemia carioca em extinção.
"Quando me casei, ganhei
dois apartamentos do meu pai.
Bebi os dois apartamentos", ele
conta no filme. "Era a boemia
mais feroz. Bebia dois dias e
dormia um."
Maria Ribeiro pode ser uma
cineasta inexperiente, mas
soube tirar bom proveito da
proximidade que tem de Domingos (com quem trabalhou
várias vezes como atriz) para
acompanhá-lo de perto sem
ser invasiva.
Material de arquivo
Por outro lado, convocou a
experiente Jordana Berg (dos
filmes do documentarista
Eduardo Coutinho) para montar sua obra.
E a montagem, aqui, faz toda
a diferença. Logo no começo,
por exemplo, uma imagem recente de Paulo José jogando sinuca é seguida de uma imagem
do ator fazendo esse mesmo
gesto em "Todas as Mulheres
do Mundo" (1967).
Assim será durante boa parte
do filme: conexões que viajam
no tempo e estabelecem relação entre presente e passado,
entre "realidade" e ficção.
São essas, enfim, as duas
questões do filme: a passagem
do tempo e a velhice que chega
(para a inconformidade total de
Domingos) e a absoluta indistinção entre vida e arte, que é a
marca pessoal do trabalho do
cineasta, dramaturgo, ator
e diretor.
O uso do material de arquivo,
portanto, é brilhante.
O filme não aproveita apenas
cenas de seus filmes mais conhecidos (além de "Todas as
Mulheres...", há também "A
Culpa", "Amores", "Separações" e o mais recente, "Juventude", entre outros), mas também de peças de teatro, espetáculos (como o "Cabaré Filosófico"), programas de TV e até um
curso que ele deu no Casa
Grande, um teatro histórico do
Rio de Janeiro.
Mulheres
Às imagens da ficção se contrapõem cenas das duas festas
que comemoraram seus 70
anos (em 2006) e entrevistas
realizadas em momentos
diferentes.
Nessas entrevistas, um assunto se impõe com força: as
mulheres. Domingos fala dos
cinco casamentos que teve,
principalmente da paixão por
Leila Diniz -cujo fim do relacionamento inspirou "Todas as
Mulheres do Mundo"- e por
Priscilla Rozembaum, com
quem está há 25 anos.
No fim, a conclusão mais importante: "Eu sou aquilo que as
mulheres que amei fizeram
de mim".
DOMINGOS
Direção: Maria Ribeiro
Quando: em SP, no Cinesesc, hoje, às
19h, quarta, às 17h, e domingo, às 15h.
No Rio, no CCBB, amanhã, às 16h30. Em
Brasília, no CCBB, dia 21, às 18h30, e dia
26, às 20h30
Classificação: não indicado a menores
de 14 anos
Avaliação: bom
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