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Crítica/ "Coro de Câmara da Osesp"
Músicos celebram Paixão de Cristo em concerto rigoroso
Grupo de câmara abre temporada 2010 com obras sacras em latim e alemão
SIDNEY MOLINA
CRÍTICO DA FOLHA
Já faz mais de uma semana
que o Sol passou para o lado de
cima do Equador -o que marca, para nós, a chegada do outono-, mas para ser Domingo de
Páscoa é preciso esperar que
sua luz seja refletida também
pela lua cheia. Enquanto a Lua
não vem, o Coro de Câmara da
Osesp, na série "Um Certo
Olhar", iniciou anteontem a
temporada 2010 celebrando a
Paixão de Cristo em concerto
na Sala São Paulo.
Dirigido com segurança e rigor por Naomi Munakata, sua
regente titular, o Coro de Câmara -formado por cerca de
40 cantores que também
atuam no mais amplo coro da
Osesp- transformou a sala de
concertos em um templo vivo
da sacralidade cristã.
Habilmente, Naomi dividiu o
programa em três partes: a primeira abriu e fechou com obras
do padre mestiço José Maurício Nunes Garcia (1767-1830),
mestre da Capela Real de D.
João VI no Rio de Janeiro. A
pureza melódica do brasileiro
contrasta com a religiosidade
contemporânea atormentada
de Francis Poulenc (1899-1963): é inesquecível o som do
coro em "et Barrabam dimitteres" (e libertaram Barrabás) no
primeiro moteto, e o segundo
só não foi o ponto culminante
do concerto porque um celular
resolveu quebrar o encanto,
talvez sem desconfiar o quanto
custa manter um coro "a cappella" (sem acompanhamento)
afinado nesse nível.
Composições maravilhosas são "O Vos
Omnes", do espanhol Tomás
Luis de Victoria (1548-1611), e
"Crucifixus", do veneziano Antonio Lotti (1667-1740).
A segunda parte (também
cantada em latim) foi como um
pequeno intervalo: "Judas,
Mercator Pessimus", também
de José Maurício -interessante na parte cuja tradução é "melhor lhe seria se não tivesse
nascido"-, e "Cantate Domino", do católico inglês William
Byrd (1540-1623).
No final, o moteto "Jesu Meine Freude" (Jesus, minha alegria), de Johann Sebastian
Bach (1685-1750), com texto
em alemão e participação de
Alessandro Santoro ao órgão.
Dividido em 11 trechos, articula-se em um tripé: um singelo
coral luterano, sempre variado
(movimentos ímpares); excertos da "Epístola aos Romanos"
(movimentos 2, 4, 8, 10); e uma
fuga dupla a cinco vozes.
Enquanto o coro cantava, o
Sol foi embora, trazendo uma
chuva típica das Semanas Santas paulistanas. Nem tudo foi
perfeito, mas o que parece faltar é tão-só cancha de palco: um
grupo como esse pode gravar
diferentes repertórios e, para
além da praça Júlio Prestes,
atuar no Brasil e no mundo.
CORO DE CÂMARA DA OSESP
Avaliação: bom
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