São Paulo, terça-feira, 30 de março de 2010

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Crítica/ "Coro de Câmara da Osesp"

Músicos celebram Paixão de Cristo em concerto rigoroso

Grupo de câmara abre temporada 2010 com obras sacras em latim e alemão

SIDNEY MOLINA
CRÍTICO DA FOLHA

Já faz mais de uma semana que o Sol passou para o lado de cima do Equador -o que marca, para nós, a chegada do outono-, mas para ser Domingo de Páscoa é preciso esperar que sua luz seja refletida também pela lua cheia. Enquanto a Lua não vem, o Coro de Câmara da Osesp, na série "Um Certo Olhar", iniciou anteontem a temporada 2010 celebrando a Paixão de Cristo em concerto na Sala São Paulo.
Dirigido com segurança e rigor por Naomi Munakata, sua regente titular, o Coro de Câmara -formado por cerca de 40 cantores que também atuam no mais amplo coro da Osesp- transformou a sala de concertos em um templo vivo da sacralidade cristã.
Habilmente, Naomi dividiu o programa em três partes: a primeira abriu e fechou com obras do padre mestiço José Maurício Nunes Garcia (1767-1830), mestre da Capela Real de D. João VI no Rio de Janeiro. A pureza melódica do brasileiro contrasta com a religiosidade contemporânea atormentada de Francis Poulenc (1899-1963): é inesquecível o som do coro em "et Barrabam dimitteres" (e libertaram Barrabás) no primeiro moteto, e o segundo só não foi o ponto culminante do concerto porque um celular resolveu quebrar o encanto, talvez sem desconfiar o quanto custa manter um coro "a cappella" (sem acompanhamento) afinado nesse nível.
Composições maravilhosas são "O Vos Omnes", do espanhol Tomás Luis de Victoria (1548-1611), e "Crucifixus", do veneziano Antonio Lotti (1667-1740). A segunda parte (também cantada em latim) foi como um pequeno intervalo: "Judas, Mercator Pessimus", também de José Maurício -interessante na parte cuja tradução é "melhor lhe seria se não tivesse nascido"-, e "Cantate Domino", do católico inglês William Byrd (1540-1623).
No final, o moteto "Jesu Meine Freude" (Jesus, minha alegria), de Johann Sebastian Bach (1685-1750), com texto em alemão e participação de Alessandro Santoro ao órgão. Dividido em 11 trechos, articula-se em um tripé: um singelo coral luterano, sempre variado (movimentos ímpares); excertos da "Epístola aos Romanos" (movimentos 2, 4, 8, 10); e uma fuga dupla a cinco vozes.
Enquanto o coro cantava, o Sol foi embora, trazendo uma chuva típica das Semanas Santas paulistanas. Nem tudo foi perfeito, mas o que parece faltar é tão-só cancha de palco: um grupo como esse pode gravar diferentes repertórios e, para além da praça Júlio Prestes, atuar no Brasil e no mundo.


CORO DE CÂMARA DA OSESP

Avaliação: bom




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