São Paulo, segunda, 30 de março de 1998

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SAMBA PAULISTA
Germano Matias, 63, espera retorno

da Reportagem Local

Ele foi o primeiro homem a gravar um samba de Geraldo Filme, nasceu no Pari, morou boa parte da vida no centro de São Paulo e vive, há alguns anos ("por fatalidades financeiras"), num conjunto habitacional no Jardim Paulistano ("o dos pobres, não o dos ricos"), na periferia norte de SP.
Germano Matias, 63, um dos inventores do chamado "samba sincopado", vai virar também tema de documentário. "O Catedrático do Samba", de Alessandro Constantino e Noel Carvalho, já está filmado, mas sem estréia definida.
À espera da reportagem da Folha, em pé e vestido a rigor, à porta do apartamento cedido pelo governo estadual, no quarto lance de escada do edifício, Germano toma a palavra para explicar o que é samba sincopado, parente distante do samba de breque carioca.
"É um samba "malandreado', suingado, de letra jocosa, retratando o cotidiano do submundo. Tem influência do bas-fond brasileiro e é "bibapado', tem bebop."
Tornou-se profissional em 1955, embalado pelo sucesso de "Minha Nega na Janela". "A letra era machista mesmo, mas isso era bem aceito na época. Era uma qualidade do homem. Hoje tem delegacia da mulher, quem apanha sou eu. Aqui em casa a última palavra é sempre minha: "Sim, querida'."
Fala baixo ao lembrar "Guarde a Sandália Dela", gravado "em fase de estado de graça": "Gravei mal, estava de fogo. Todos os músicos estavam bêbados, babando na cuíca. Ninguém percebeu."
Em 1978, Germano foi homenageado por Gilberto Gil no disco "Antologia do Samba-Choro" ("não canto samba-choro"), com versões de Gil para sambas de Germano e de Geraldo Pereira e gravações antigas do próprio Germano. "Acho que pensaram que eu tinha pendurado a chuteira, nem lembraram de me chamar para gravar, usaram as velhas mesmo."
Ele fala do samba de agora: "Hoje sambista faz uma batida muito atrasada, não sincopada. Acho bacana o pagode, mas não é bem aquilo que eu sinto. Ninguém sabe interpretar, preferem o romantismo, que é o que dá grana. Se vou para o estúdio hoje, estraçalho."
"Mostrei coisas inéditas que tenho à RGE, disseram que estão "em período de austeridade econômica'." A RGE acaba de lançar uma compilação de 20 sambas que ele gravou nos 50.
Ele se autocritica pelos altos e baixos: "Sempre tive uma grande imperfeição. Sou irreverente, não levo as coisas a sério. Eu não fazia concessões, hoje não penso assim". Bem, ele chama de imperfeição. (PEDRO ALEXANDRE SANCHES)



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