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SAMBA PAULISTA
Germano Matias, 63, espera retorno
da Reportagem Local
Ele foi o primeiro homem a gravar um samba de Geraldo Filme,
nasceu no Pari, morou boa parte
da vida no centro de São Paulo e
vive, há alguns anos ("por fatalidades financeiras"), num conjunto habitacional no Jardim Paulistano ("o dos pobres, não o dos ricos"), na periferia norte de SP.
Germano Matias, 63, um dos inventores do chamado "samba sincopado", vai virar também tema
de documentário. "O Catedrático
do Samba", de Alessandro Constantino e Noel Carvalho, já está filmado, mas sem estréia definida.
À espera da reportagem da Folha, em pé e vestido a rigor, à porta
do apartamento cedido pelo governo estadual, no quarto lance de
escada do edifício, Germano toma
a palavra para explicar o que é
samba sincopado, parente distante do samba de breque carioca.
"É um samba "malandreado',
suingado, de letra jocosa, retratando o cotidiano do submundo.
Tem influência do bas-fond brasileiro e é "bibapado', tem bebop."
Tornou-se profissional em 1955,
embalado pelo sucesso de "Minha
Nega na Janela". "A letra era machista mesmo, mas isso era bem
aceito na época. Era uma qualidade do homem. Hoje tem delegacia
da mulher, quem apanha sou eu.
Aqui em casa a última palavra é
sempre minha: "Sim, querida'."
Fala baixo ao lembrar "Guarde a
Sandália Dela", gravado "em fase
de estado de graça": "Gravei mal,
estava de fogo. Todos os músicos
estavam bêbados, babando na cuíca. Ninguém percebeu."
Em 1978, Germano foi homenageado por Gilberto Gil no disco
"Antologia do Samba-Choro"
("não canto samba-choro"), com
versões de Gil para sambas de Germano e de Geraldo Pereira e gravações antigas do próprio Germano. "Acho que pensaram que eu
tinha pendurado a chuteira, nem
lembraram de me chamar para
gravar, usaram as velhas mesmo."
Ele fala do samba de agora: "Hoje sambista faz uma batida muito
atrasada, não sincopada. Acho bacana o pagode, mas não é bem
aquilo que eu sinto. Ninguém sabe
interpretar, preferem o romantismo, que é o que dá grana. Se vou
para o estúdio hoje, estraçalho."
"Mostrei coisas inéditas que tenho à RGE, disseram que estão
"em período de austeridade econômica'." A RGE acaba de lançar
uma compilação de 20 sambas que
ele gravou nos 50.
Ele se autocritica pelos altos e
baixos: "Sempre tive uma grande
imperfeição. Sou irreverente, não
levo as coisas a sério. Eu não fazia
concessões, hoje não penso assim". Bem, ele chama de imperfeição.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
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